Nuclear

Ministro defende uso de pequenos reatores nucleares para atender eletrointensivos

Ministro Alexandre Silveira discursa no lançamento do PDE 2024
Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira | Foto: Tauan Alencar/MME

O Brasil precisa desenvolver a cadeia nuclear para garantir a segurança energética e o desenvolvimento nacional e global nos próximos anos. A visão é do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que voltou a defender nesta terça-feira, 19 de novembro, o avanço da fonte no país para atender futuras demandas vindas de operações com inteligência artificial e dos data centers.

Em entrevista ao programa Em Ponto da GloboNews, o ministro argumentou que o país tem tecnologia e uma das “maiores reserva de urânio do mundo” para avançar no segmento. Silveira ainda pontuou a necessidade do desenvolvimento de pequenos reatores nucleares, que, segundo ele, não precisam de linhas de transmissão e, por isso, tem um menor custo, e podem atender a indústria eletrointensiva.  

“Estima-se que, nos próximos dez a 15 anos, com a inteligência artificial e com os data centers, o mundo vai precisar de três vezes mais energias do que tem hoje. A energia tem que ser limpa, e a energia nuclear é uma energia limpa. O Brasil tem potencial para esta energia, que já foi segregada porque muitos ficaram traumatizados com alguns acidentes no passado, mas que, hoje, são muito menores. Nós temos que desenvolver essa cadeia e estamos levantando essa discussão”, disse Silveira ao ser questionando sobre a conclusão das obras de Angra 3.  

O ministro tem levantado a bandeira das nucleares para atendimento de operações de data centers em discursos recentes. No início de novembro, Silveira defendeu a conclusão das obras de Angra 3 e o avanço da fonte para atender os centros.

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Anteriormente, declarou que a conclusão da usina precisa ser uma prioridade do governo, pois “os brasileiros já pagaram cerca de R$ 200 milhões por ano apenas para condicionar os equipamentos comprados”.  

A usina de Angra 3 está com as obras paralisadas desde 2015 e a expectativa é que a última etapa da análise para retomada das obras seja tomada em uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que ocorrerá no início de dezembro. A afirmação foi feita pelo superintendente de Operações de Angra 3, Luciano Calixto, em entrevista à radio da Agência Brasil no início do mês.

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O gás de Vaca Muerta

Silveira ainda falou sobre a assinatura de um memorando de entendimento (MoU, na sigla em inglês) entre os governos do Brasil e da Argentina para viabilizar a importação, pelo Brasil, do gás natural não-convencional produzido na formação de Vaca Muerta, na Argentina.

O ministro defendeu que a cooperação pode ajudar na reindustrialização do Brasil devido a redução dos preços do combustível para atendimento das indústrias eletrointensivas.

Reinjeção de gás no Brasil

Ainda no âmbito do acordo, o ministro foi questionado sobre as práticas de reinjeção de gás no Brasil, tema que tem sido motivo de embates entre o Ministério de Minas e Energia, que busca aumentar a oferta de gás no Brasil, e as empresas e entidades do setor, que alegam que a reinjeção é necessária por fatores econômicos, técnicos, ambientais e estruturais.

Para Silveira, o programa Gás para Empregar resolve a questão ao impor às petroleiras no país um aumento no volume de gás para a costa brasileira.

“O Brasil reinjeta quase o dobro da média mundial nos seus postos de petróleo. Muitas plataformas foram construídas exatamente e propositalmente, em especial no governo anterior, sem condições de acondicionar e tratar o gás para trazer aqui para as nossas estações de tratamento nas costas. Nós estabeleceremos que qualquer plataforma, a partir de agora, vai ter que ter condições para poder trazer o gás”, falou.

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Segundo Silveira, o governo tem traçado várias frentes para aumentar a oferta de gás, por meio da redução da reinjeção, das estações de tratamento e do aumento das infraestruturas de escoamento.

“[Além disso] alguns especialistas até criticaram [o gás de Vaca Muerta] dizendo que é gás de fracking. O Brasil já importa gás de fracking dos Estados Unidos há mais de 30 anos. Nenhum extremismo ideológico radical contribuirá para o desenvolvimento e sustentabilidade e, por isso, defendo que as nossas riquezas devem ser exploradas de forma adequada e legal”, afirmou.  

O fracking, termo em inglês para fraturamento hidráulico, é a técnica para extração de gás de folhelho (ou shale gas em inglês) por meio de explosões no subsolo e injeção de fluidos pressurizados. Por conta das condições do reservatório e da técnica de extração, este gás é chamado de não convencional.

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Defesa da Margem Equatorial

A exploração de petróleo na Foz do Amazonas também foi novamente defendida pelo ministro, que afirmou que a Petrobras já atendeu a todas as demandas do Ibama para realizar a sua primeira perfuração. Entretanto, em outubro, o órgão ambiental solicitou à estatal mais esclarecimentos e complementações no processo de licenciamento ambiental da atividade de perfuração marítima no bloco FZA-M-59, na bacia da Foz do Amazonas.

“A pluralidade energética do Brasil é sua grande força e nós temos que sim, no mínimo, dar o direito ao povo brasileiro de conhecer suas riquezas. A Margem Equatorial pode gerar emprego, desenvolvimento e uma cadeia produtiva virtuosa, e, principalmente, gera inclusão de pessoas próximas ao local e impostos, que podem ser usando para financiar, inclusive, a transição energética”, concluiu.