Delta prepara gestora para financiar projetos de geração no mercado livre

Camila Maia

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Camila Maia

Publicado

24/Mai/2021 11:30 BRT

Lançada em 2018 com foco em capturar recursos para investir na comercialização de energia no mercado livre, a Delta Energia Administradora de Recursos, que já tem cerca de R$ 2 bilhões em ativos sob gestão, se prepara para dar um novo salto e se transformar na maior casa independente especializada nos chamados ativos alternativos do país. A ideia é verticalizar a expertise do grupo em venda de energia com o direcionamento dos recursos levantados no mercado de capitais para financiar projetos dentro do setor de energia, com foco em geração e gás natural.

"O mercado vai demandar R$ 365 bilhões nos próximos 10 anos em geração centralizada, distribuída e transmissão, segundo o Plano Nacional de Desenvolvimento 2030. Isso oferece uma oportunidade de complementar o nosso portfólio de forma a juntar o financiamento e os ativos", disse Rogério Queiroz, que acaba de assumir a presidência da gestora. Com um passado no mercado financeiro, com foco na distribuição de valores mobiliários e no relacionamento com investidores, o executivo chega com a missão de oferecer aos investidores produtos que alinhem o mercado financeiro com a experiência da Delta no mercado de energia.

Para construir esse momento, a Delta também trouxe Alberto Zoffmann, que assumiu como vice-presidente da gestora e responsável pela área de produtos. Zoffmann vem do mercado financeiro, mas no lado da estruturação de transações ligadas à energia e infraestrutura. "São dois mundos que se complementam, mas que têm uma linguagem muito particular cada um", disse.

Os executivos querem aproveitar o momento de abertura do mercado livre para capturar recursos destinados à financiar geração de energia neste mercado, que poderá ser comercializada pela própria Delta. O antigo presidente da gestora, Luiz Fernando Leone Vianna, assumiu a presidência da Delta Geração, com foco no mercado de geração de energia, a fim de desenvolver os projetos que poderão ser financiados pela gestora.

"Entendemos que haverá espaço para verticalizar e financiar projetos também", disse Zoffmann. Poderão ser levantados novos recursos para comercialização, mas a Delta EAR quer aproveitar o momento de mercado em que os próprios investidores demandam produtos voltados para financiamento de projetos em infraestrutura ligados à energia. A ida de Vianna para a geradora indica o foco da companhia em desenvolver projetos a gás natural. 

Com isso, o grupo Delta como um todo poderá viabilizar o financiamento de termelétricas no mercado livre, o que não acontece atualmente. Para financiar projetos de geração no mercado livre, é preciso ter contratos de venda de energia de longo prazo, e o custo elevado do investimento em termelétricas acaba dificultando isso, principalmente quando comparado com fontes renováveis como eólica e solar, que custam menos e ainda oferecem vantagens como subsídio no uso da rede. 

"Isso nos coloca numa posição extremamente estratégica, porque estamos justamente nesse ponto de convergência", disse Queiroz. Segundo o executivo, a Delta oferece os projetos atrativos, num cenário de juros ainda relativamente baixos, na expectativa de que isso seja considerado vantajoso no sentido de aliar rentabilidade e segurança da estabilidade regulatória do setor elétrico.

Os projetos termelétricos tendem a ser maiores em termos de financiamento, o que faz com que a Delta olhe usinas menores ou parcerias com outros investidores. "Já os projetos solares e eólicos são mais do mesmo", disse Zoffmann. Por enquanto o foco em desenvolver projetos de geração de energia está nas renováveis, enquanto a gestora aguarda a abertura efetiva do mercado de gás natural no país, que vai permitir novos investimentos. "O Brasil é privilegiado em projetos renováveis, seria muito tranquilo montar um projeto dirigido especificamente para esse tipo de financiamento", afirmou Queiroz.

A perspectiva de aperto monetário não afeta os planos da gestora, que tem como objetivo atingir R$ 5 bilhões na carteira até 2023. Segundo Zoffmann, quando se analisa as projeções de inflação e juros, a taxa ainda é baixa estruturalmente, e o movimento de saída dos investidores da renda fixa para produtos alternativos e mais estruturados "não tem mais volta". A vantagem da gestora é que ainda tem o ganho na ponta com a comercialização da energia gerada. "Procuramos aqui ter um produto diferenciado, de nicho", disse o vice-presidente. 

Recentemente, a Delta levantou um fundo de R$ 400 milhões de curto prazo, recursos voltados para o trading de energia. Segundo os executivos, esse fundo não é relacionado com a estratégia de médio e longo prazo da gestora. Para novas captações, Queiroz vê janela de mercado no segundo semestre do ano, principalmente pela vantagem competitiva da gestora ligada aos produtos diferenciados que querem trazer. 

"Estamos vendo questões da estrutura, mas não podemos falar. Temos também ideia sobre fundos de private equity para desenvolver projetos, demanda que vem dos clientes. Vemos a demanda tanto de investidores de um lado, como de clientes compradores de energia do outro. Essas seriam as melhores avenidas de oportunidades que vemos", disse Zoffmann.