Programa de redução da demanda veio para ficar e modernizar setor, dizem especialistas

Camila Maia

Autor

Camila Maia

Publicado

16/Set/2021 14:41 BRT

Categoria

Mercado livre

O programa de redução voluntária da demanda de energia (RVD) voltado para consumidores livres veio para ficar e ajudar a modernizar o setor do lado da carga. A conclusão veio dos especialistas que participaram do MegaWebinar : Tudo que você precisa saber sobre o programa de redução de consumo, realizado ontem, 15 de setembro, pela MegaWhat.

O programa foi lançado pelo governo federal para tentar descolar o consumo de energia dos horários do pico, reduzindo assim as chances de blecautes por déficit de potência. "Na nossa visão, esse é um programa fundamental para permitir que a gente passe esse momento delicado e reduza os riscos de atendimento à carga", disse Lucas Frangiosi, analista de Inteligência Regulatória e de Mercado da MegaWhat Consultoria.

Na primeira rodada, relativa a setembro, foram contabilizados 237 MW em redução de demanda, mas a expectativa é de que a adesão cresça nos próximos meses.

"O início foi muito promissor nessa primeira semana. Esperamos ter sucesso e que realmente a resposta da demanda contribua para passarmos por esse período crítico", disse Cesar Pereira, gerente executivo de Regras e Capacitação da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), durante o webinar. 

Para Evelina Neves, especialista em Assuntos Regulatórios e Procedimentos de Rede do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a adesão nessa primeira semana foi "muito positiva". "Temos um volume muito grande de chamados e pessoas interessadas, esperamos ter adesão mais significativa nas próximas semanas", afirmou.

Nessa primeira semana, a especialista contou ter feito reuniões com diversos segmentos, com destaque para participações "bem expressivas" dos setores de mineração e metais em geral, e também papel e celulose. "Também temos tido outros contatos e acho que semana que vem teremos uma visão melhor", afirmou Neves.

A Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), nesse meio tempo, tem conversado com frequência com seus associados para demonstrar as vantagens da adesão ao programa, contou Filipe Soares, diretor técnico da entidade. Por uma questão de governança, a Abrace não discute adesão nem preço com seus associados, mas atua por meio do engajamento e esclarecimento. 

"Não tenha dúvida de que, em empresas com uma área de energia bastante atuante e com expertise de atuação em outros mercados, a curva de aprendizado vai ser mais rápida. Por isso, acho interessante a fala da Evelina de que começou com 237 MW, mas esse não é o total", disse Soares, completando que, com a concorrência, os consumidores vão buscar as melhores ofertas até para ganhar competitividade.

Veio para ficar

Durante o webinar, os especialistas lembraram que a resposta da demanda era pensada em 2000, quando foi criado o mercado livre de energia, mas acabou ficando de lado até 2014, quando sucessivas crises hídricas começaram a pautar o setor, até o momento atual. 

"Às vezes, com uma crise, temos uma grande oportunidade. Foi feito um esforço do Ministério de Minas e Energia, com participação de todas as instituições, para que a gente pudesse construir um programa emergencial em conjunto com as outras medidas tomadas", disse Neves, do ONS.

Os consumidores trabalharam junto das entidades nesse processo, sugerindo aprimoramentos em relação ao programa piloto de resposta da demanda lançado em 2017, que nunca deu certo. "O ONS publicou em março uma lista de cargas potencialmente aptas, o que ajudou muito em nossos esforços de mostrar aos consumidores que poderiam participar", disse Soares.

Em seguida, a CCEE elaborou com celeridade a chamada "linha base" de consumo, pela qual o ONS vai comparar se aqueles consumidores que ofertarem redução de carga em determinado momento vão cumprir a proposta. 

Segundo o representante da Abrace, a modernização do setor está parada no Congresso, "mas estamos modernizando 5 MW por vez". 

"Até cabe uma avaliação de que o programa possa vir para ficar, mesmo em períodos em que não tenhamos problema da oferta por conta da crise", disse Frangiosi. Para o especialista da MegaWhat, o programa pode ajudar a otimizar o consumo de forma geral, trazendo ganhos de eficiência e competitividade para o mercado.

Aprimoramentos na regra também são possíveis, desde que de acordo com as diretrizes colocadas pelo Ministério de Minas e Energia. "Nós implementamos isso muito rapido, tentamos a melhor solução que pudesse ser implementada no curtíssimo prazo, então é claro que abrimos mão de algumas funcionalidades e interfaces", disse Pereira, da CCEE.

A verificação da redução de consumo efetiva, por exemplo, será diária, mas se ao longo do programa as entidades avaliarem que precisam alterar o prazo, irão trabalhar nesse aprimoramento. 

"Estamos abertos, dentro das nossas competências, até a fazer aprimoramentos no curto prazo. O ministério foi muito feliz em deixar aberto para que se tenha isso. Respeitando as premissas da portaria, temos liberdade, e se identificarmos possibilidade de aprimoramento, iremos fazer", afirmou Pereira.


Durante o webinar, foram discutidos vários detalhes sobre o programa, como a formação da linha base, a função do agregador de cargas, a forma de remuneração dos consumidores e como será feita a medição. Assista na íntegra e tenha acesso às informações: