Curtailment e frustração de geração eólica levam UBS a rebaixar recomendação da AES Brasil

Camila Maia

Autor

Camila Maia

Publicado

01/Abr/2024 19:45 BRT

O desempenho aquém do esperado dos parques eólicos da  AES Brasil e a maior incidência de curtailment, termo usado no setor elétrico para a redução deliberada da geração das renováveis para equilibrar oferta e demanda, levaram o UBS BB a reduzir as projeções de geração de caixa da companhia nos próximos anos.

Essa piora do cenário levou o banco suíço a rebaixar a recomendação das ações ordinárias da AES Brasil de neutra para venda, ao mesmo tempo em que reduziu o preço-alvo das ações de R$ 12 para R$ 9.

Controlada pela americana AES, a AES Brasil é uma geradora pura, com uma carteira de 4,2 GW em operação e mais 1 GW em construção, somando 5,2 GW em capacidade, sendo 2,7 GW em hidrelétricas cujas concessões vencem entre 2032 e 2036, e o restante em eólicas e solares. A diversificação para renováveis foi uma estratégia da companhia para mitigar o risco hidrológico, mas a geração renovável tem decepcionado, em meio ao cenário de baixo crescimento da demanda por energia no país e à boa hidrologia dos últimos dois anos.

Recentemente, começaram a circular notícias de que a americana AES teria colocado seu braço brasileiro à venda, processo que ainda está em curso.

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Em relatório enviado a clientes, os analistas Giuliano Ajeje, Gustavo Cunha e Henrique Simoes afirmaram que a melhora nos preços de energia de longo prazo é positiva para a AES Brasil, já que ajuda na negociação de PPAs mais atrativos. Ainda assim, o cenário para renováveis é desafiador, especialmente considerando que a companhia tem endividamento elevado e suas concessões de hidrelétricas tem "vida útil" curta.

Com base na performance da AES Brasil em 2023, o UBS BB estima uma penalidade de 10% da geração eólica da companhia, combinando curtailment e ventos aquém do esperado. Como as concessões das hidrelétricas vencem daqui menos de 10 anos, o desempenho fraco das renováveis impõe um risco significativo em relação à tese de investimento na companhia. Para cada 5% de curtailment, o UBS calcula um impacto em equity de 13%.

Esse cenário coloca a empresa numa posição favorável para fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) ou para iniciar a construção de novos projetos para preservar sua posição financeira.

Contam a favor de um M&A a possibilidade de redução dos custos da holding e a amortização de juros da dívida, segundo os analistas. 

Segundo o UBS, o curtailment "veio para ficar", o que é reforçado pelos limites de exportação de energia do Nordeste ao Sudeste, e pela baixa geração de energia eólica durante a noite, durante os horários de pico de potência. 

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