Hidrogênio verde deve ser priorizado na indústria, aviação e navegação, diz estudo

Maria Clara Machado

Autor

Maria Clara Machado

Publicado

23/Abr/2024 14:15 BRT

O hidrogênio verde é essencial para descarbonizar setores como indústria e transporte no Brasil, mas os recursos naturais do país devem ser priorizados na produção de eletricidade, pois a produção de hidrogênio apresenta eficiência menor do que outras tecnologias de baixo carbono. A conclusão é de um relatório desenvolvido pelo Instituto E+ Transição Energética em parceria com o think tank alemão Agora Industry.

O estudo cita projeções de instituições como Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), Energy Transition Comission e BloombegNEF, que calculam que o hidrogênio responderá por parcela entre 10% e 20% da demanda de energia.

Segundo o estudo, a produção de hidrogênio por eletrólise tem de 20% a 30% de perdas, além de perdas adicionais durante o uso. No setor de transporte, o uso de hidrogênio pode ser até 60% menos eficiente do que o uso de baterias elétricas e, no setor residencial, o hidrogênio pode ser 84% menos eficiente do que as bombas de calor.

“De maneira geral, para a mesma utilização final de energia, o hidrogênio renovável requer duas ou quatro vezes mais capacidade de renováveis do que a eletrificação direta”, diz o estudo, que também aponta que, no caso brasileiro, o “potencial inexplorado do biogás” pode ser uma fonte de energia para setores de difícil eletrificação.

Assim, os principais setores a usar a fonte devem ser aqueles de difícil eletrificação e em que o uso de biometano ou biomassa são inviáveis, como indústria, aviação e navegação.

Potencial do Brasil

No atendimento a estes setores, o Brasil pode desempenhar um papel de grande relevância, em função dos vastos recursos energéticos do país, aliados a um experiente setor industrial. A exportação de ferro verde é uma oportunidade real para o país, mesmo considerando mercados em que o custo de transporte seja mais elevado, como a Ásia.

O país deve observar as complementaridades de recursos em seu amplo território, com o objetivo de identificar melhores rotas para produção de hidrogênio em cada região. Com um desenvolvimento que aproveite as potencialidades locais, a cadeia de hidrogênio também poderá reduzir as diferenças socioeconômicas regionais no Brasil.

Em infraestrutura, o relatório avalia que “a robustez do setor elétrico favorece que a energia renovável seja transmitida para produção do hidrogênio próximo ao ponto de demanda”. Entretanto, será necessário desenvolver a cadeia de transporte e armazenamento do combustível.

Diante do mercado de gás natural já existente no país, o estudo considera que a produção de hidrogênio a partir do combustível fóssil aliado a captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) pode ser uma tecnologia transitória até o pleno desenvolvimento da cadeia de hidrogênio renovável no Brasil.

Os gargalos de infraestrutura do gás natural, com gasodutos concentrados na região litorânea, podem limitar o uso desta fonte de energia. Ao mesmo tempo, a expansão da produção de hidrogênio a partir de combustíveis fósseis poderia aumentar a demanda por gás natural no país, “o que exigiria novos investimentos no setor”, diz o estudo.

Financiamento

Para desenvolver a cadeia de hidrogênio, o relatório avalia que o combustível deve ser entendido não apenas como uma questão energética, mas também ambiental. Assim, aumentam as chances de financiamentos por meio de investidores internacionais e privados.

“Com o enquadramento da produção de hidrogênio como uma questão energética e climática, países ricos em fontes renováveis podem atrair uma maior faixa de investimentos e explorar os diversos instrumentos para financiamento de energia limpa e de sustentabilidade”, diz o estudo, que reconhece iniciativas brasileiras como o Programa Nacional de Hidrogênio (PNH2) e linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas aponta que há desvios na discussão do PNH2 no Congresso e que as linhas do BNDES atualmente apoiam apenas projetos-piloto.