Para 98% dos investidores brasileiros há greenwashing nos relatórios de sustentabilidade

Maria Clara Machado

Autor

Maria Clara Machado

Publicado

08/Jan/2024 17:57 BRT

No Brasil, 98% dos investidores acreditam que os relatórios corporativos sobre sustentabilidade trazem informações não comprovadas – contexto em que se insere o greenwashing, termo que em inglês significa “banho verde” e que consiste na declaração inflada ou injustificada de ações voltadas à proteção do meio ambiente. A desconfiança no Brasil é maior do que em outros países, já que no mundo este índice é de 94%.

Por outro lado, o cumprimento de normas para a divulgação climática, como os padrões do International Sustainability Standards Boards (ISSB), atenderia “bastante” ou “muito” as necessidades de informação para a tomada de decisões de 57% dos investidores no mundo. Além disso, 85% dos entrevistados afirmam que uma garantia razoável (semelhante à auditoria das demonstrações financeiras) aumentaria a confiança nos relatórios de sustentabilidade.

As informações são da Pesquisa Global com Investidores 2023 da PwC. Para Mauricio Colombari, sócio da consultoria no Brasil, é importante notar que essas normas são voltadas para as informações que precisam ser divulgadas, e não para as práticas de uma organização em relação aos temas de sustentabilidade.

O levantamento também mostrou que, para 75% dos investidores no mundo, a forma como uma empresa faz a gestão de riscos e oportunidades relacionados a sustentabilidade é importante para as decisões de investimento. O índice é quatro pontos percentuais abaixo do percebido em 2022.

Segundo a pesquisa, o cumprimento dos custos dos compromissos ESG é uma informação importante ou muito importante para76% dos entrevistados. No Brasil e no mundo, 75% concordam que as empresas devem divulgar o valor monetário do seu impacto no ambiente ou na sociedade.

O risco climático foi apontado como fator de preocupação para 32% dos entrevistados no mundo, e se equiparou a riscos cibernéticos. As condições macroeconômicas e inflacionárias foram as maiores preocupações apontadas pelos entrevistados, respectivamente com 46% e 39% das respostas. Conflitos geopolíticos foram mencionados por 32% dos entrevistados.

Inteligência Artificial (IA) e inovação

Para 59% dos entrevistados, a transformação tecnológica é o fator mais provável de influenciar a forma como as empresas criam valor nos próximos três anos. Globalmente, os investidores classificaram a inovação e as tecnologias emergentes (incluindo a IA, o metaverso e o blockchain) como as suas cinco principais prioridades ao avaliar as empresas.

No Brasil, quase 70% disseram que a adoção mais rápida da IA é “muito” ou “extremamente importante”. No mundo, o índice é de 60%. Ao mesmo tempo, 86% dos entrevistados no mundo consideram que a IA apresenta um risco de “moderado” a “muito grande” quando se trata de segurança e privacidade de dados; governança e controles insuficientes (84%); desinformação (83%); e preconceito e discriminação (72%).

“A pesquisa revela uma seletividade cada vez maior e um desafio para as empresas demonstrarem que estão avançando em uma gama de assuntos tão relevantes como diversos”, comenta o sócio da PwC Brasil Mauricio Colombari.

A pesquisa foi conduzida em setembro de 2023 com 345 investidores e analistas em 30 países e territórios. Foram conduzidas 15 entrevistas aprofundadas. Os entrevistados eram predominantemente investidores institucionais, compreendendo gestores de carteiras (19%), analistas (18%) e diretores de investimentos (17%), com 48% tendo mais de dez anos de experiência no setor.