Solar

Desistir de Angra 3 seria mais econômico para consumidor, diz PSR

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Em reportagem da Folha de S. Paulo, estudo aponta que troca da usina por projetos solar traria economia de R$ 6,6 bi

Um estudo realizado pela consultoria PSR indica que a retomada das obras de Angra 3, de 1,405 MW, seria mais cara para o consumidor do que abandonar o projeto, de acordo com reportagem publicada pela Folha de S. Paulo. De acordo com a publicação, a PSR mediu os efeitos da construção da usina e da substituição do empreendimento por projetos de outras fontes, por um período de três anos.

De acordo com as conclusões do estudo, se Angra 3 fosse substituída por projetos de energia solar no Sudeste, por exemplo, haveria uma economia de R$ 6,6 bilhões nas contas de luz. É o primeiro estudo a vir a público que apresenta um cálculo que sinaliza ser mais viável paralisar a obra. E o estudo foi divulgado quase um mês e meio após o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovar a retomada das obras da usina nuclear.

Na ocasião, o CNPE aprovou uma nova tarifa de energia, de R$ 480/MWh, contra o valor que vigorava anteriormente, de R$ 240/MWh, considerado insuficiente. Com o reajuste das tarifas de Angra 3, torna-se possível refinanciar a dívida da construção da usina com a Caixa Econômica Federal e com o BNDES, em torno de R$ 6 bilhões.

A reportagem ressalta ainda que a conclusão da usina custaria cerca de R$ 17 bilhões, contra R$ 12 bilhões para a conclusão do empreendimento. Cálculos da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace) indicam ainda uma conta de R$ 15 bilhões já gastos com a construção, que poderia ser repassada para as tarifas, além do montante necessário para a conclusão da usina.

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O valor de R$ 6,6 bilhões considera o gasto necessário para desativar a usina nuclear e os investimentos para operar projetos solares.

Entenda o caso

Em abril de 2015, o ex-presidente da Eletronuclear, Othon Pinheiro da Silva foi preso pela Operação Lava-Jato acusado de manter esquema de cobrança de propinas em contratos firmados com a Andrade Gutierrez e Engevix ao celebrar contratos fictícios com a Aratec, empresa de Ana Cristina da Silva, filha de Othon.

Othon apareceu nas investigações a partir da delação premiada de Ricardo Pessoa, principal executivo da UTC Engenharia, que integrava o consórcio construtor de Angra 3.

O consórcio Angramon foi formado a partir da vitória de dois grupos na licitação da montagem eletromecânica da usina, que se reuniram em um só – formado por UTC, Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, Techint e Empresa Brasileira de Engenharia. A Techint não foi envolvida na Lava-Jato.

As obras, que já foram 60% concluídas, foram paralisadas por recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU), que a revogou dias antes da aprovação da retomada pelo CNPE, já que o contrato com o consórcio construtor havia sido cancelado.

As obras da usina nuclear foram iniciadas na década de 1980, paralisadas por anos e retomadas em 2010 (os equipamentos que haviam sido comprados para a usina foram estocados durante anos).

Há algum tempo, a Eletrobras, junto com o governo brasileiro, realizou negociações com empresas estrangeiras interessadas numa parceria para a conclusão de Angra 3, como porta de entrada para outros projetos nucleares, como a francesa EDF e a chinesa CNNC, além da russa Rosatom.

Questões implícitas

A decisão sobre o futuro de Angra 3, no entanto, passa além de aspectos econômicos, ainda que o estudo da PSR permita suscitar reflexões sobre o modelo de construção de Angra 3. Um ponto é a política pretendida pelo governo para a área nuclear.

A usina é considerada no setor elétrico estratégica porque significaria um sinal na direção da retomada do programa nuclear brasileiro. No governo Dilma Rousseff, foi anunciado o plano de se construir pelo menos quatro novas unidades nucleares, inicialmente no Nordeste.

Agentes do setor nuclear avaliam que a expansão da oferta de energia nuclear depende da conclusão de Angra 3.

O programa nuclear foi iniciado por um grupo de militares, que ganharam mais espaço no governo com a eleição de Jair Bolsonaro – que sinalizou ser favorável à conclusão da obra.

Outro ponto em questão é que a fabricante do combustível nuclear, as Indústrias Nucleares do Brasil (INB), já se estruturou para a produção do insumo para a usina, inclusive com estoques capazes de atender à nova unidade.

Um terceiro aspecto para a substituição é técnico: uma usina nuclear, dadas as características de operação, tem geração flat de energia e próxima dos centros de carga. Usinas solares são intermitentes (ainda que a geração seja mais estável do que eólicas, por exemplo) e com particularidades: não gera energia à noite (por motivos óbvios) e tem menos incidência dos raios solares no período seco, especialmente no inverno.

Neste caso, por exemplo, haveria opções com características mais semelhantes às das nucleares, como as usinas a gás natural, que poderiam aproveitar a produção do pré-sal e gerar de forma inflexível, ainda que apresente um custo mais elevado de combustível (inclusive, a reportagem destaca a afirmação de um analista do setor, na condição de anonimato).

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