Mercado energético

Para neutralizar emissões do consumo de energia elétrica, Viracopos adota blockchain

Plataforma desenvolvida pela start up BlockC garante que elétron gerado não será utilizado em outras certificações; aeroporto adquiriu 43,8 mil RECs relativos a consumo em 2018

O aeroporto de Viracopos é o primeiro no mundo que neutralizou emissões de gases de efeito estufa com o uso de blockchain, em meio a um crescente movimento de adoção da ferramenta, fortemente conhecida para emissão de criptomoedas. Por meio de uma plataforma desenvolvida pela BlockC, o aeroporto teve certificados de energia renovável (REC, na sigla em inglês) emitidos e validados em blockchain, num tempo muito inferior à uma certificação analógica. 

Segundo o coordenador de Meio Ambiente do aeroporto de Viracopos, Moisés Alves de Araújo Jr., a empresa já realiza anualmente inventário de emissões de gases de efeito estufa, que é produzido pela consultoria Eqao, mas a empresa optou por avançar em direção ao blockchain por entender que a operação nesta base assegura mais credibilidade no processo.

A BlockC é uma startup que surgiu da Eqao, de olho na necessidade crescente de rastreabilidade da geração. A proposta de neutralização com RECs emitidos via blockchain foi apresentada à Triunfo Participações e Investimentos, uma das acionistas da Viracopos Aeroportos Brasil, sociedade de propósito específico que controla o aeroporto localizado em Campinas.

A ideia resultou, neste primeiro momento, na aquisição, por Viracopos, de 43.800 RECs, lastreados na energia injetada por duas usinas a biomassa de bagaço de cana do Grupo Balbo que estão localizadas em Sertãozinho (SP). Com o uso do blockchain, segundo o coordenador, o aeroporto tem a garantia de que o elétron gerado não será utilizado para neutralizar outras operações.

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No próximo ano, o aeroporto voltará a comprar novos certificados, para neutralizar as emissões deste ano.

A certificação é a garantia de que energia utilizada pelos consumidores de energia realmente é proveniente de fontes renováveis. Empresas que querem atestar que reduziram emissões relacionadas ao consumo de energia (escopo 2) devem comprovar de duas formas: ou firmando contratos de compra de energia (PPAs) ou adquirindo certificados que tenham a energia renovável como lastro – foi a opção do aeroporto.

Como funciona o bREC

O blockchain permite que a BlockC faça a cunhagem – termo correto – da emissão do REC, num processo semelhante ao de uma criptomoeda, como o bitcoin, ativo digital mais conhecido.

Cada REC, explicou Adriano Nunes, Chief Operation Office (COO) da BlockC, corresponde a 1 MWh consumido – ou seja, os certificados corresponderam a um consumo de 43.800 MWh pelo empreendimento em 2018 – ou seja, média mensal de 3,45 mil MWh.

Por ser emitida pela tecnologia, o bREC, como é chamado o certificado pela empresa, tem como característica a inviolabilidade, ou seja, qualquer diferença na informação produzida pela geradora de energia invalida a cunhagem do ativo.

Nunes e Araújo ressaltaram que a operação foi desenhada para neutralizar as emissões do escopo 2, no âmbito do Programa Brasileiro do GHG Protocol, que adota metodologia mundialmente aceita para inventários corporativos.

Escopos são tipos de emissões consideradas pelos protocolos internacionais de emissões. O escopo 1 reúne emissões que são decorrentes da operação. Ou seja, no caso do aeroporto, são exemplos de atividades ligadas ao escopo 1 o uso de geradores de eletricidade a diesel, de caldeiras e de motores estacionários, entre outros.

Já o escopo 2 – objeto da certificação de Viracopos – é diretamente relacionado ao consumo de energia elétrica.  De acordo com Araújo, a compensação do consumo de energia elétrica (escopo 2) representou 35,8% do total de 8,3 mil toneladas de CO2 equivalente emitidos pelos escopos 1 e 2 do aeroporto em 2018.

E o escopo 3, voluntário, é relativo a atividades que não estão ligadas diretamente à operação, mas que tem ligação com a empresa.

Por exemplo: no caso de Viracopos, os funcionários do aeroporto que se deslocam em viagens a negócios e o tratamento de resíduos são enquadrados como escopo 3.

A emissão dos RECs tem que atender a duas condições. A primeira é a de garantir a origem da energia – se realmente ela é renovável, explica Nunes, da BlockC. A segunda condição é assegurar que não haja duplicidade

Menos emissões dos aviões

Além dos RECs, que são relativos às emissões do aeroporto, Viracopos aposta ainda na oferta de serviços para companhias aéreas que utilizam equipamentos voltados para evitar as emissões das aeronaves.

O Ground Power Unit (GPU) e o Pre Conditioned Air (PCA) permitem que os aviões, enquanto em solo, possam manter os motores desligados ao terem o atendimento elétrico e de ar condicionado fornecidos pelo aeroporto. Isso evita a emissão de mais gases de efeito estufa.

O aeroporto dispõe dos equipamentos em 17 das 28 posições. Os serviços fazem com que o aeroporto assuma as emissões dos aviões – mas ao trocar a queima do querosene de aviação pela eletricidade do aeroporto para manter as funções elétricas e de refrigeração das aeronaves, o nível de emissões é menor, o que resulta no compartilhamento do benefício da sustentabilidade com a cadeia do transporte aéreo, ressaltou Araújo.

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