Mercado energético

Baixa persistente do petróleo pode ser problema para produção no Brasil e Estados Unidos, diz CBIE

A persistência dos preços do petróleo em patamares baixos pode ser um problema maior para Brasil e Estados Unidos, devido ao break-even (ponto de equilíbrio) dos custos de produção da commodity nesses dois países, avalia Pedro Rodrigues, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). 

O especialista, contudo, não aposta na permanência dos preços em forte baixa no longo prazo, por se tratar do resultado de uma briga política entre Arábia Saudita e Rússia, e não econômica. “Alguns analistas falam que a Arábia Saudita não consegue manter os preços baixos de forma unilateral”, disse Rodrigues, lembrando que o país foi um dos grandes prejudicados pelo tombo dos mercados de ontem, já que as ações da Saudi Aramco caíram 9%.

O barril do Brent chegou a cair 30% ontem, para a faixa de US$ 30, o maior recuo diário desde a Guerra do Golfo, em 1991, depois que a Arábia Saudita sinalizou que iria aumentar a produção da commodity. 

Os países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) mais a Rússia, que formam a chamada Opep+, falharam em chegar a um acordo para reduzir a oferta no mundo frente à menor demanda por conta do coronavírus, por resistência da Rússia em um acordo. A Arábia Saudita, então, anunciou o aumento da sua produção, o que gerou um choque de oferta em meio à demanda menor. 

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Os efeitos foram grandes pois são dois gigantes do petróleo mundial: a Arábia Saudita é o segundo maior produtor e o primeiro exportador mundial, enquanto a Rússia está em terceiro lugar em produção e segundo em exportação da commodity.

“A Rússia não quis aderir ao controle de preços proposto pelo cartel e a Arábia Saudita reagiu com o desconto”, disse Rodrigues. Para ele, o conflito político é uma briga para mostrar quem tem mais poder em questão de preços, mas a Opep não tem mais tanto domínio do mercado internacional como no passado. Os rumos do preço vão depender de até quando os sauditas estarão dispostos queimar caixa para ganhar participação de mercado.

Ontem, o Brent fechou em queda de 24,1%, a US$ 34,36. Hoje, os futuros se recuperam e sobem mais de 10%, para acima de US$ 37 o barril. “Isso mostra que a Opep perdeu muito a posição de ‘price maker’ do mercado”, disse Rodrigues. 

Outro sinal, segundo o especialista, é que a crise atual mostra que o petróleo ainda é mais importante que o coronavírus. “Por que não vivemos de geração renovável? O mundo ainda depende de petróleo. Qualquer declaração mesmo que irracional economicamente, leva os mercados ao pânico mais que o coronavírus”, disse ele.

Para a produção brasileira e americana, se os preços do petróleo continuarem em patamares baixos no longo prazo, pode haver efeitos adversos, já que os custos de produção são mais altos. 

Nos Estados Unidos, os pequenos e médios produtores de shale (petróleo não convencional) podem suspender as operações até que as condições melhorem. As consequências podem chegar aos mercados financeiros já que essas empresas trabalham muito alavancadas. “Fala-se que são cerca  US$ 100 bilhões alavancados, é um mercado grande”, afirma. Calotes, mesmo que parciais, podem desencadear uma outra crise.

No Brasil, preços baixos podem postergar novos investimentos, já que os financiamentos são muito pesados e dependem da viabilidade econômica da produção. 

Outros efeitos que podem ser sentidos no Brasil são em contratos relacionados ao petróleo, como os de venda de gás natural. O mercado de etanol também pode sentir os efeitos da queda dos preços de combustíveis fósseis. “Se a Petrobras repassar o preço para os combustíveis, haverá incentivo de consumo”, diz Rodrigues.

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