Por Rodrigo Sauaia e Ronaldo Koloszuk
Gradualmente e com cautela, diferentes países darão início à implementação de medidas de flexibilização do isolamento social usado no combate à pandemia do novo coronavírus, covid-19. Com isso, os esforços mundiais na guerra contra o inimigo invisível chegarão a uma nova fase, atenta à necessidade de recuperação econômica e alinhada às recomendações das autoridades de Saúde. Nesta nova etapa, a fonte solar fotovoltaica é uma ferramenta estratégica para o rápido reaquecimento das economias do mundo e, especialmente, do Brasil, país com um dos maiores potenciais solares do planeta.
Segundo dados da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês), a solar é a fonte renovável que mais gera empregos no planeta, sendo responsável por mais de um terço dos mais de 11 milhões de empregos renováveis do mundo. A cada novo megawatt (MW) instalado, a solar traz 25 a 30 novos empregos, a maioria deles localizados nas regiões em que os sistemas solares são instalados. Além de liderar na quantidade, a qualidade dos empregos solares se destaca: por utilizar profissionais qualificados de formação técnica e superior, os salários médios do setor estão acima da média brasileira, o que agrega mais renda e poder de compra para as famílias brasileiras, de Norte a Sul do Brasil, ativando as economias locais. Ao movimentar a economia, a solar também aumenta a arrecadação de recursos para os governos, ajudando a recuperar os cofres públicos, reduzidos pelas medidas de combate à covid-19.
Naturalmente, o setor solar fotovoltaico brasileiro também foi fortemente impactado pela pandemia. Distribuidores de equipamentos solares relatam reduções entre 60% e até 90% nos volumes de pedidos e no faturamento durante os primeiros 30 dias de isolamento, em comparação com janeiro ou fevereiro de 2020. Estes impactos variam conforme a região do País, pois o Brasil possui dimensões continentais e nem todos os lugares são afetados na mesma intensidade.
Esta redução de demanda preocupa o setor, que reúne atualmente cerca de 15 mil empresas espalhadas pelo Brasil. A maioria delas atua no segmento de geração distribuída, desenvolvendo projetos e instalando sistemas em telhados, fachadas e pequenos terrenos para atender residências, comércios, indústrias, produtores rurais e entidades públicas. Em muitos casos, as empresas solares são pequenos negócios familiares, mais vulneráveis à atual crise e que possuem pouca estrutura e recursos disponíveis para superar sozinhas esta inesperada tempestade.
Por isso, tão logo tiveram início as medidas de isolamento social, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) lançou a campanha “Solar Urgente”, trazendo informação de qualidade ao mercado e ao setor e divulgando os mecanismos de alívio disponibilizados pelos governos e pelo Congresso Nacional, para auxiliar empresas solares em áreas como trabalhista, tributária, financiamento, boas práticas de gestão, entre outras.
Outra preocupação surgiu no segmento de geração centralizada, das usinas solares de grande porte. Empreendimentos em construção tiveram suas obras paralisadas e nem mesmo usinas já construídas foram poupadas: houve casos de interrupção de complexos já em operação, o que contradiz o enquadramento feito pelo Governo Federal da geração de energia elétrica como atividade essencial.
Em articulação junto aos nove estados brasileiros que hoje possuem usinas solares em construção ou operação, a Absolar tem atuado para esclarecer e corrigir a situação, evitando os riscos de que a energia elétrica não esteja disponível aos consumidores, seja em suas casas, seja em hospitais, postos de saúde, delegacias, supermercados, farmácias e outras atividades essenciais para a população.
Em sistemas de pequeno, médio ou grande porte, a tecnologia solar fotovoltaica é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Brasil. Passada a fase mais aguda desta pandemia, ela irá ajudar na recuperação da economia, com forte contribuição para a geração de empregos e renda aos brasileiros. Adicionalmente, ajudará a aliviar os orçamentos das famílias, com economia na conta de luz. Trará, ainda, mais competitividade aos setores produtivos, com redução nos custos com eletricidade, hoje o segundo maior custo operacional de empresas dos setores de comércio e serviços, altamente impactados pela pandemia.
A história recente confirma o papel propulsor da fonte solar fotovoltaica no Brasil. Nas crises econômicas de 2015 e 2016, o produto interno bruto (PIB) do Brasil foi de -3,5% ao ano, mas o setor solar fotovoltaico cresceu mais de 300% ao ano. Com isso, ajudou na recuperação do País. Agora, a exemplo do que já fez pela sociedade, a energia solar fotovoltaica pode novamente alavancar a recuperação do Brasil, tanto em termos econômicos quanto sociais e ambientais.
O Brasil acaba de ultrapassar a marca histórica de 5 gigawatts (GW) de potência operacional da fonte solar fotovoltaica, somando usinas de grande porte e pequenos e médios sistemas distribuídos. No total, a fonte já trouxe mais de R$ 26,8 bilhões em novos investimentos privados ao País, tendo gerado cerca de 130 mil empregos acumulados desde 2012.
Mesmo em meio a um cenário incerto de pandemia global, o setor solar fotovoltaico deverá crescer no mundo e, também, no Brasil. O crescimento será menor do que o inicialmente projetado, não há dúvidas disso. Porém, ainda assim, o ano de 2020 deverá apresentar um resultado final positivo. Com isso, não há dúvidas de que a fonte solar fotovoltaica, se bem incorporada como parte das medidas de recuperação da economia brasileira, será um instrumento chave para alavancar e acelerar a retomada de nossa sociedade.
Rodrigo Sauaia e Ronaldo Koloszuk são, respectivamente, presidente e presidente do conselho de administração da Absolar.
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