De forma incisiva e reforçando a sua importância para a retomada da economia, representantes da indústria cobraram ações da regulação e do formulador de política pública para minimizar os impactos da pandemia do Covid-19 nas contas de energia dos grandes consumidores. A cobrança foi feita durante webinar da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), nesta sexta-feira.
Paulo Pedrosa, presidente a Associação dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace) e moderador do webinar, enfatizou que as decisões devem ser focadas na melhoria estrutural do setor e não em aspectos de expansão. Além disso, apontou que as medidas apresentadas para mitigar os impactos do setor elétrico, não estão contemplando as indústrias da melhor maneira.
O presidente da associação criticou que a decisão para negociação entre a demanda contratada de energia e a demanda consumida, fique para ser decidida pela distribuidora. “Mais de 100 mil negociações diretas vão ter que acontecer?”, indagou.
Ele complementou apontando para o momento econômico brasileiro. “Sabemos que o Brasil vai perder um ano e meio de crescimento. Falar de leilão de transmissão, leilão de potência? Nós ganhamos tempo, então vamos focar em melhorias do setor”, disse o executivo.
Recentemente, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) instaurou processo de audiência pública para preparar os mecanismos para realização de um leilão de transmissão de dezembro. A realização, no entanto, depende do sinal de retomada econômica do país e aval do Ministério de Minas e Energia (MME).
E foi isso que apontou Hélvio Guerra, representando a pasta. “O que fizemos foi deixar tudo organizado para o leilão de transmissão, mas vamos ver se teremos a necessidade ou não. “Se definirmos que não há necessidade em outubro desse ano, não faremos leilão”.
Sobre a os impactos tributários nas tarifas de energia, Pedrosa, moderador do debate, rebateu a diretora da Aneel, Elisa Bastos, que falava no trabalho da agência para reduzir os efeitos nas contas de energia. Segundo o presidente da Abrace, o impacto tributário para as indústrias não é tão importante, quanto para os de baixa tensão, uma vez que esse efeito é compensado em outras etapas do processo produtivo.
“O imposto pelo menos é transparente, o encargo não. Nós (indústria) estamos pagando pelo consumidor de baixa renda, estamos pagando para manter bolsas e professores, pagando pelo carvão mineral, estamos pagando por uma festa de energias renováveis. É importante refletir sobre essas distorções”, disse Pedrosa.
A diretora Elisa Bastos ressaltou que a pandemia produziu efeitos negativos para todos os segmentos da economia e que o foco da agência tem sido buscar soluções olhando para os consumidores de baixa e alta tensão, com equilíbrio e foco na sociedade.
“Racionalizar os encargos, o desafio está em como faremos na prática. Qualquer decisão está em priorizar interesses. Muitos querem ser contemplados com subsídios, mas quem fica com os custos discorda da solução”, respondeu a diretora.