A B3 espera concluir nos próximos três meses o lançamento da plataforma para pré-registro de contratos de energia, que vai marcar seu primeiro passo na aposta nesse novo mercado. Os registros de derivativos de energia e outros contratos já são possíveis dentro da atuação da bolsa, mas vão depender da demanda do próprio mercado, disse Juca Andrade, vice-presidente de produtos e clientes da B3, em webinar realizado hoje.
“Não é um produto da B3 em laboratório, é uma construção com o mercado. Estamos construindo o modelo que entendemos que terá máxima adesão”, disse Andrade.
O produto deve ter um indicador de risco de mercado dos participantes, com controle das posições e divulgação de nível de preços de energia para cada submercado. Nesse primeiro momento, serão feitos os registros de operações do mercado físico. “Quem aderir se compromete a registrar 100% das ações que ele negociar, e vamos usar nossa capacidade de auto-regulação e supervisão para fazer o enforcement”, explicou.
Hoje, os contratos já são registrados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) para fins de contabilização e liquidação. O registro na plataforma da B3 será complementar e feito antes do registro na CCEE.
A ideia da B3 é monitorar a exposição dos agentes com base em análises dos balanços das comercializadoras, definindo a exposição máxima compatível com o seu patrimônio. “E aí vamos dizer se ele está compliant ou não”, disse Andrade. Esse “selo” com o aval da bolsa vai ser uma referência para quem negociar bilateralmente.
Quem não receber o selo, não será impedido de negociar, mas ficará claro aos demais investidores que ele não está cumprindo os limites considerados razoáveis para sua operação dada sua situação financeira.
“A única coisa que não vamos conseguir eliminar agora é o risco de contraparte, já que é uma operação de balcão e o preço embute o risco”, afirmou. O selo da bolsa, contudo, pode ajudar a minimizar essa percepção de risco e, consequentemente, o prêmio atrelado a ele.
A B3 ainda não definiu o preço do acesso à plataforma. Segundo Andrade, no lançamento, o preço será sinalizado. “Vamos dar incentivo e carência para que o mercado use a custo zero, e aí vamos construir juntos. Entendemos que as oportunidades são tão grandes que não queremos que nosso preço inviabilize a operação”, disse.
Derivativos
O lançamento dessa plataforma será o primeiro passo concreto da B3 no mercado de energia, mas a bolsa já pode fazer o registro de derivativos no mercado de balcão. Hoje, a B3 oferece contratos a termo, swap e opções. “Já temos autorização para tudo isso, o PLD é uma referência válida para operações financeiras”, disse.
O mercado ainda não existe, contudo, pela ausência de demanda. Segundo Andrade, o avanço da B3 nesse sentido também está sujeito ao interesse dos investidores, mas a bolsa já consegue fazer vários produtos, se houver demanda.
A B3 pode fazer o serviço de registro e liquidação dos derivativos, e pode também adicionar um produto que é o “collateral management”, a gestão das garantias das partes. “Podemos pedir para as partes que calculem os riscos, qual a marcação a mercado daquele contrato e, se necessário, pedir margem adicional do participante”, disse.
Outra função que a B3 pode exercer é atuar como contraparte central, calculando o risco, fazendo a marcação a mercado e chamando margem adicional em função dos movimentos do mercado. “São os produtos que podemos empacotar hoje, já, no mercado de derivativos”, explicou.
Essas operações são todas bilaterais e em um mercado de balcão. O próximo passo, para o qual a B3 precisaria constituir uma nova contraparte central, seria a evolução para um mercado listado futuro, padronizado – uma clearing house. “Isso pode ser um avanço logo em seguida para esse mercado”.
Nesse caso, o risco de contraparte seria praticamente eliminado, uma vez que haveria a estrutura de salvaguardas do mercado de derivativos e o mercado seria transparente, sem assimetria de informações. Segundo o executivo, esse mercado poderia atrair até mesmo investidores pessoa física, mas a tendência é que o mercado seja mais profissional, parecido com o mercado de juros futuros, pelas exigências de conhecimento dos riscos envolvidos e sofisticação dos produtos.