A nova política de distribuição de dividendos da Petrobras, aprovada nesta semana pelo conselho de administração da companhia, sinaliza uma mudança estratégica da empresa em relação à remuneração dos acionistas. A expectativa é que, com a mudança, os investidores – incluindo a União, acionista majoritária da companhia – recebam mais dividendos do que o previsto anteriormente.
Pela nova política, a petroleira poderá pagar dividendos aos acionistas, mesmo quando não houver registrado lucro contábil. Na prática, mesmo se a empresa tiver endividamento bruto superior a US$ 60 bilhões, a companhia poderá distribuir dividendos, sem apuração de lucro contábil, se a dívida líquida tiver reduzido no período de 12 meses. Nesse caso, a distribuição seria limitada à redução da dívida líquida no período.
A política anterior da Petrobras, aprovada em agosto do ano passado, não previa distribuição de dividendos, sem apuração de lucro contábil. No caso de lucro contábil, se a dívida bruta estivesse acima de US$ 60 bilhões, a petroleira poderia distribuir os dividendos mínimos obrigatórios previstos em lei (distribuição de 25% do lucro líquido do exercício). Por outro lado, se a dívida bruta ficasse abaixo de US$ 60 bilhões, a empresa poderia distribuir 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos.
A dívida bruta da Petrobras, no segundo trimestre, ficou em US$ 91,2 bilhões. A expectativa atual da companhia é encerrar o ano com uma dívida bruta de US$ 87 bilhões, mesmo patamar alcançado em 2019. A petroleira divulgará o resultado do terceiro trimestre nesta quarta-feira, 28 de outubro, após o fechamento do mercado.
Dificilmente a Petrobras irá fechar 2020 com lucro. No acumulado dos seis primeiros meses do ano, a companhia soma um prejuízo de R$ 51,236 bilhões. Para o terceiro trimestre, o Bank of America Merrill Lynch (BofA) projeta um lucro de R$ 3,8 bilhões para a petroleira. Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, também prevê que a Petrobras alcance lucro contábil no terceiro trimestre, sobretudo devido aos indicadores operacionais reportados na última semana.
Segundo Arbetman, a nova política de dividendos da empresa indica uma maior remuneração para os acionistas nos dois cenários (com dívida bruta acima ou abaixo de US$ 60 bilhões), além de sinalizar uma confiança da gestão da companhia na geração de caixa a partir de seus investimentos no pré-sal.
“A gestão da Petrobras tem confiança muito grande no sucesso da estratégia que está sendo executada. Essa confiança sustenta a expectativa de maior remuneração”, disse o especialista à MegaWhat. “É mais um passo no sentido de mostrar ao mercado que a maximização do valor para o acionista é uma meta da companhia”.
Na opinião de outro analista de um banco que acompanha os papeis da Petrobras, em condição de anonimato, a nova política de dividendos da empresa diverge da postura da gestão da companhia adotada desde 2019. Em algumas ocasiões, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, mencionou publicamente ser contra a lei das SA, que, na prática, obriga as empresas a distribuírem pelos menos 25% do lucro líquido aos acionistas, em caso de lucro contábil.
Para o executivo, a empresa deveria ter liberdade para decidir como distribuir seus dividendos, principalmente em cenário de elevado endividamento. Dessa forma, na prática, seria mais prudente reduzir o endividamento do que distribuir os dividendos obrigatórios.
“A alavancagem financeira não é baixa”, ressaltou o analista. De acordo com o resultado do segundo trimestre, a relação dívida líquida/Ebitda da Petrobras era de 2,34 vezes.