(Com Rodrigo Polito)
Depois de anos de expectativa, o PLD horário foi implementado em 1º de janeiro, e o desafio de prever com exatidão os preços a cada hora do dia tem ocupado as comercializadoras de energia nesses primeiros 40 dias. Especialistas ouvidos pela MegaWhat explicam que ainda é cedo para avaliar os efeitos da mudança dos preços e lançar novos produtos voltados para a modulação horária.
Em janeiro e início de fevereiro, os preços ficaram mais próximos do custo marginal da operação (CMO), com exceção dos descolamentos causados por restrições hídricas como a mudança na vazão de Belo Monte.
“O que temos visto é que, ao fim da semana, a média do PLD horário tem ficado muito parecida com o que seria o PLD semanal por patamar”, disse João Barreto, coordenador de Estudo de Mercado da MegaWhat.
Na primeira semana de fevereiro, por exemplo, a média do PLD horário no submercado Sudeste/Centro-Oeste foi de R$ 152/MWh. O PLD semanal teria sido de R$ 153/MWh, segundo o especialista.
“Embora a média fique parecida, temos visto bastante diferença durante as horas do dia, com o PLD horário registrando alguns picos por algumas horas. Também temos percebido bastante descolamento de submercado, Sudeste descolando sozinho, o que era raro antes”, disse Ferreira.
Paulo Toledo, sócio-diretor da Ecom Energia, também relata maior probabilidade de descolamento entre os submercados, uma vez que o preço está com uma sensibilidade maior em relação à operação. “Imaginamos que no decorrer da operação, descolamentos podem acontecer com maior frequência do que no modelo semanal. Esse é mais um ponto de atenção para os agentes de mercado, e talvez aí possam nascer produtos de hedge”, disse.
Por enquanto, as comercializadoras que fazem a gestão de clientes estão avaliando qual a melhor forma de gerenciar a modulação de carga diante da variação dos preços, já que os contratos antigos são “flat”.
“Na visão dos consumidores pequenos a médio, ainda tivemos pouco tempo de PLD horário para sentir o impacto”, disse Débora Mota, gerente de gestão de clientes da Delta Energia. Como a variação ao longo do dia não tem sido tão acentuada, a empresa ainda está avaliando se o consumidor vai realmente sentir a diferença, a ponto de justificar a aquisição de contratos de hedge (proteção) contra a variação horária. “Com o que temos até agora de dados, é algo que ainda não faz sentido, mas consideramos isso muito importante e vamos continuar avaliando”, disse.
Ainda é necessário um “amadurecimento” do PLD horário no mercado para que esses novos produtos horários sejam, de fato, lançados. “Ainda estão todos se acostumando e entendendo”, disse Mota.
“O pessoal ainda está começando a sentir os efeitos da modulação horária. Para fazer diferença na gestão de consumidores, seria preciso ter uma diferença significativa no preço ao longo do dia, e isso teria que resultar numa liquidação diferente na CCEE. Como essa liquidação ainda não aconteceu, vai ser contabilizada em fevereiro e ser liquidada em março, só lá na frente o consumidor vai sentir o efeito”, disse Daniel Marrocos, sócio na Newcom Energia.
Como na Newcom a operação é voltada para o trading de energia, as operações são de contratos “flat”, explica Marrocos. O que muda, para a casa, é a exigência de atualização diária do PLD, com acompanhamento mais frequente das projeções de fazão, de geração eólica, de carga. “O principal impacto que temos registrado é essa necessidade de ter uma dinâmica da informação mais frequente. Isso tem o benefício de trazer qualidade na tomada de decisão, e conseguimos ser mais assertivos”, disse Marrocos.
Para fazer frente ao maior volume de dados, a Ecom já vinha treinando com a operação do PLD horário sombra, explicou Paulo Toledo. “Preparamos nossos sistemas e estamos adaptados. Os players mais ativos no mercado já vinham se preparando para acompanhar mais de perto as rodadas”, disse.
Na MegaWhat Consultoria, o desafio tem sido no processamento de todos os arquivos do Dessem diariamente. “Ainda tem restrições que precisamos tratar e entender, e isso tem sido um desafio grande, pois só entendendo as restrições conseguimos automatizar as rodadas diárias”, disse João Barreto. Com essa eficientização, será possível disponibilizar uma perspectiva de PLD horário com antecipação em relação à divulgação horária pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Para David Barmak e Henrique Kido, sócios da comercializadora Tempo Energia, o primeiro mês de funcionamento do PLD Horário foi de aprendizagem para o setor, com algumas complexidades. A expectativa é que o mecanismo vai se aperfeiçoando aos poucos. “Estão todos aprendendo juntos”, disse Barmak. “Os agentes estão ajudando a CCEE e o ONS”, completou Kido.
Geradoras
As duas maiores geradoras termelétricas do país também estão se organizando diante do novo cenário criado a partir da entrada em vigor do PLD Horário. O novo diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa Lima e Silva, afirmou que a companhia está fazendo adaptações em suas operações.
“Temos um ponto, um dinamismo para aumentar a volatilidade, que é justamente o despacho horário e semi-horário, que é uma novidade dentro desse segmento. E estamos adaptando as nossas operações para atender esse nível de flexibilidade”, disse o executivo, durante entrevista coletiva sobre o relatório de produção e vendas da estatal, no início do mês.
Já a Eneva estuda o desenvolvimento de novos produtos a partir do PLD Horário. “Estamos olhando oportunidades para desenvolver produtos novos, oferecer produtos bem diferentes dos atuais”, afirmou a gerente geral de Comercialização de Gás e Energia da empresa, Camila Schoti, em entrevista à MegaWhat, no fim de janeiro.