O mercado livre de energia tem se consolidado como principal meio para expansão da geração de energia por fontes renováveis no país, cenário que se fortaleceu com a crise provocada pela pandemia do covid-19, que acabou resultando na suspensão dos leilões de contratação de energia para o mercado regulado. Ao mesmo tempo, os grandes bancos de fomento, tradicionais financiadores desses projetos, enfrentam atrasos em reembolsos, e a combinação de vários instrumentos financeiros têm sido uma saída para viabilizar os empreendimentos.
O Banco do Nordeste (BNB), que costumava financiar entre 70% e 80% dos projetos de renováveis, precisou baixar o percentual devido ao orçamento do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), que é quem tem os recursos disponibilizados pela instituição financeira.
“Na busca de participar de uma quantidade maior de projetos, o banco tem buscado outros fundings”, disse Helton Chagas, superintendente de Negócios de Atacado e Governo do BNB, durante evento transmitido virtualmente pela Echoenergia para discutir o financiamento de projetos no mercado livre.
Segundo o superintendente, o BNB deixou de receber cerca de R$ 5 bilhões em reembolsos por causa da flexibilização das operações no auge da crise, recursos que deixaram de entrar no caixa do FNE. Em 2021, o orçamento para infraestrutura do fundo é de R$ 8,7 bilhões, sendo entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões para o segmento de energia. Assim, as participações em novos projetos estão limitadas em 40% a 50% do valor total. “Tivemos que buscar novos fundings, diminuir participação em projetos, e fazemos co-financiamentos com investidores brasileiros e fora”, disse.
O BNDES também tem feito captações internacionais para prover financiamento aos projetos, enquanto viabiliza outras alternativas. “Fizemos a primeira emissão de green bonds no no mercado internacional e agora no doméstico a primeira emissão de letras financeiras verdes. O cardápio opara investidores no Brasil tem se ampliado, e é papel do banco oferecer mais soluções e embarcar mais investidores no segmento”, disse Carla Primavera, superintendente da área de energia do banco de fomento.
Como no mercado livre de energia os projetos nem sempre tem contratos de compra de energia (PPAs, na sigla em inglês) com a mesma duração do financiamento, as instituições financeiras desenvolveram mecanismos para avaliar os projetos e liberar o crédito. O BNDES, por exemplo, utiliza uma referência do preço de energia no mercado de curto prazo projetado, o PLD Suporte.
Para avaliar o rating de crédito da operação, a Fitch utiliza diversos critérios, incluindo o risco de construção e conclusão do projeto, o risco do emissor, e o risco da contraparte, que tem um papel importante nessa equação. Segundo Adriane Silva, analista da Fitch, há ainda o risco de receita, relacionado ao volume da energia que será gerada ou não. “Definimos o nível de estresse que vamos aplicar nos projetos em relação a receita, que, se o PPA for mais curto com a dívida, é uma variável extremamente importante”, afirmou.