Em fevereiro desse ano, o governo do Ceará lançou o Hub de Hidrogênio Verde, iniciativa para desenvolver e fomentar as atividades de produção, armazenamento, distribuição e consumo de hidrogênio verde (H2V) no estado. Acreditando no segmento, o estado firmou um memorando de entendimento com a empresa australiana Enegix Energy, que pretende instalar uma usina para produzir H2V no Complexo do Pecém, prevendo um investimento de U$ 5,4 bilhões.
O estado acredita que a exportação de H2V através do Porto do Pecém será a mais curta entre a América do Sul e a Europa e, consequentemente, a de menor custo. “(…) Esse tipo de combustível será, com certeza, a energia das próximas gerações. Além disso, será importante para as empresas instaladas no Complexo do Pecém, pois ganharão novas possibilidades com essa nova fonte de energia limpa”, enfatiza Danilo Serpa, CEO do Complexo do Pecém (CIPP S/A).
O Hub de Hidrogênio Verde também incentivou que instituições de ensino, como a Universidade Estadual do Ceará (Uece), realizem mais pesquisas no setor.
“O Ceará possui as condições necessárias para ser um grande produtor de gás hidrogênio verde. O estado é um dos maiores produtores de energia limpa por meio de fontes renováveis, como a eólica e a solar, que podem ser utilizadas para a produção de hidrogênio verde, reduzindo consideravelmente a poluição ambiental e proporcionando uma fonte de energia adequada para empreendimentos que se instalarem aqui, sobretudo aqueles na área de fertilizantes e siderurgia”, afirma Lutero Carmo de Lima, professor do Mestrado Acadêmico em Ciências Físicas Aplicadas da Uece e pesquisador da área de hidrogênio.
Para o governo, a criação do Hub de Hidrogênio é, portanto, um passo adiante para aproveitar o potencial local e os benefícios do combustível, cujo principal obstáculo à produção consiste no custo maior em relação às outras fontes, tendo em vista que a produção e o armazenamento de hidrogênio requerem tecnologia moderna. Esse entrave, contudo, vem sendo superado e, até 2030, o hidrogênio deverá ficar competitivo em relação a outras fontes de energia, conforme o Green Hydrogen Cost Reduction, relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês) divulgado no início deste ano.
Para Lutero, a produção de energia a partir do hidrogênio verde deve começar a virar realidade no Ceará em dois ou três anos, podendo levar de dez a 15 anos para amadurecer. “O Ceará vai se destacar no Brasil e, talvez, no mundo. A proposta da Uece não é produzir hidrogênio para exportar esse combustível, mas para que ele seja utilizado pelos empreendimentos que estão instalados aqui (…) O hidrogênio pode ser usado para a produção de ferro e fertilizante agrícola, por exemplo, ou ser agregado ao gás natural, deixando-o mais energético”, explica o professor.
De acordo com Lutero, a Uece pode agregar valor aos trabalhos para tornar o Ceará um grande produtor de hidrogênio, tendo em vista a experiência com pesquisas na área, as relações internacionais que mantém com pesquisadores e empresários interessados no hidrogênio e a expertise da universidade para a realização de estudos de viabilidade econômica e formação de mão de obra qualificada.
“Temos pesquisas sobre o tema que podem ser fundamentais para o sucesso da produção de hidrogênio verde no estado. Adaptamos, por exemplo, um modelo mundial de viabilidade do hidrogênio em todos os aspectos em um cenário de 100 anos no Brasil, até 2099, considerando como seria o desenvolvimento do país se a gente adotasse a economia do hidrogênio produzido a partir da energia solar ou eólica. A Uece está preparada para continuar os estudos de viabilidade econômica do hidrogênio no Ceará e formar a mão de obra necessária para que o estado explore da melhor forma possível as possibilidades decorrentes dessa fonte de energia”, conclui o professor Lutero.