A AES Brasil espera capturar o momento de alta procura de consumidores por energia renovável no mercado livre para conseguir mais contratos de longo prazo para viabilizar a totalidade do complexo de Cajuína, que terá até 1.100 MW instalados no Rio Grande do Norte. Até o momento, a empresa já fechou dois contratos, somando 211 MW, com duração de 20 anos.
“Estamos buscando acelerar o crescimento para nos beneficiarmos da situação atual, com número crescente de clientes buscando energia renovável em seus portfólios. Todas as ações tomadas nos últimos meses foram com esse objetivo”, disse Clarissa Saddock, presidente da AES Brasil, durante teleconferência sobre os resultados do primeiro trimestre do ano com investidores e analistas.
Entre as medidas está a reestruturação da companhia, com a criação de uma nova holding listada no Novo Mercado, separando ativos operacionais dos em construção. Além disso, a companhia fez um acordo com o Itaú, que se tornou acionista da Guaimbê Holding, com 19,9% do capital, ao subscrever um aumento de capital de R$ 855 milhões. Assim, o banco se tornou sócio minoritário da subsidiária dona das eólicas operacionais Guaimbê e Alto Sertão II.
Segundo Saddock, o negócio com o Itaú foi uma oportunidade de trazer recursos para o caixa com um custo financeiro “interessante”, como uma reciclagem de capital. A AES tem alguns cenários em que poderá recomprar a participação no futuro.
Desde o ano passado, a AES Brasil tem notado um aumento da procura de consumidores por contratos de compra de energia (PPAs) de longo prazo de energia renovável, tanto por causa da aceleração da transição energética quanto por causa da Medida Provisória (MP) 998, que foi convertida na Lei 14.120/2021 e determinou que só terão direito ao desconto pelo uso da rede os projetos de fontes incentivadas que forem outorgados até fevereiro de 2022.
“Isso fez com que o interesse de nossos clientes em assinar contratos de longo prazo se acelerasse”, disse Saddock.
Para garantir que os projetos serão executados, a AES Brasil fechou um contrato de 1.500 MW em turbinas eólicas com a Nordex. “Começamos a trabalhar esse contrato no ano passado, antevendo tudo isso, e buscando o melhor fornecedor com qualidade, o aerogerador com o melhor perfil para o vento de Cajuína, e o preço mais competitivo”, disse a executiva.
Esse contrato é dividido em cinco tranches de 300 MW cada um, e a cada seis meses a AES informa à Nordex se tem interesse me manter a reserva dessas turbinas. Caso tenha, a AES paga uma pequena taxa para ter direito à exclusividade, e seis meses depois ela assina o contrato de aquisição das turbinas. Segundo Bernardo Sacic, diretor de Novos Negócios da AES Brasil, o acordo com importante para a companhia garantir o suprimento de aerogeradores frente à grande movimentação vista no mercado diante do término do subsídio das fontes incentivadas.
Os preços da Nordex estão fechados para as duas primeiras tranches, e nas três seguintes é variável. A AES tem o direito de não comprar se o preço não for considerado competitivo. As primeiras máquinas que serão entregues serão de 5,7 MW.
“É muito importante termos o contrato da Nordex, porque falta insumo no mercado, e ter a garantia de suprimento das máquinas por um fornecedor tier 1 nos deixa em posição diferenciada e competitiva”, disse Rogério Jorge, diretor comercial da companhia.
A diferença entre os contratos de energia convencional e incentivada está entre R$ 50/MWh e R$ 60/MWh para contratos entre 2021 e 2022. “Mais perto de 2024 e 2025, quando os parques iniciados agora estarão entrando em operação, o spread tende a dar uma arrefecida, por causa do aumento da oferta”, explicou Jorge.
A perspectiva para depois disso, contudo, é que o spread volte a crescer, já que os projetos que entrarem em operação depois de 2025 provavelmente não vão mais contar com o desconto no fio, mas a demanda no mercado livre tende a aumentar, com a abertura dos limites de migração para consumidores de todos os portes.
“Na nossa visão, o spread da incentivada vai continuar sendo um prêmio muito relevante para os projetos construídos entre 2021 e 2024. Por isso, temos esse investimento todo em Cajuína, o que garante que teremos o incentivo no longo prazo, e que ele vai continuar tendo muito valor”, afirmou Jorge.