A transmissora Evoltz tem tudo para ser a plataforma de crescimento do Ontario Teachers’ Pension Plan Board (OTPP) no Brasil em infraestrutura. Em entrevista à MegaWhat, o presidente da companhia, João Nogueira Batista, afirmou que ainda é cedo para definir o planejamento estratégico da companhia com a entrada do novo dono. “Mas o objetivo é crescer, temos uma agenda de crescimento”, disse, ressaltando que a empresa pode tanto sair vitoriosa de leilões de transmissão organizados pelo governo quanto adquirir ativos no mercado secundário.
A Evoltz anunciou nesta segunda-feira, 10 de maio, que o OTPP fechou um acordo para comprar 100% da transmissora da gestora de recursos TPG. O negócio marca a entrada dos canadenses, que têm mais de US$ 180 bilhões sob gestão, no Brasil.
O TPG havia fundado a Evoltz em 2018, depois de arrematar os ativos da espanhola Abengoa, em 2017, em um leilão realizado dentro da sua recuperação judicial. Na época, a oferta envolvia cerca de R$ 1,8 bilhão, sendo R$ 1,3 bilhão em dívidas assumidas. A receita anual permitida (RAP) dos empreendimentos é da ordem de R$ 520 milhões.
“Nesses três anos, a Evoltz se transformou em uma oportunidade única para esse tipo de investidor, que gostaria de entrar no setor de transmissão, interesse pela baixa volatilidade de fluxo de caixa e perspectiva de crescimento”, disse Batista. Os canadenses não foram os únicos interessados em adquirir o negócio, que passou por um processo de turnaround nos últimos anos e deixou para trás os problemas e ineficiencias da Abengoa.
No começo, o TPG não sabia quanto tempo levaria para fazer a recuperação da empresa, mas como um fundo de private equity sua saída era esperada. “Como viramos uma plataforma que interessa a muita gente, se precipitou a saída”, contou Batista.
Nesse processo, a Evoltz consolidou as sete linhas de transmissão que antigamente pertenciam à Abengoa, e comprou as participações dos sócios minoritários em quase todas elas. Algumas eram fatias pequenas, uma detida pelo BMG e outra pelo Cofides, banco espanhol de fomento. A participação de 49,5% da Eletrobras na Manaus Transmissora de Energia (MTE) foi adquirida em 2020, por R$ 232 milhões.
Resta ainda a fatia de 49% da Eletronorte, controlada da Eletrobras, na Norte Brasil Transmissora de Energia (NBTE), o maior dos ativos em sua carteira, com 2,4 mil quilômetros de extensão. “O processo de venda deve acontecer ao longo do tempo, mas não tem calendário fixado, nada disso. Temos uma relação muito boa com a Eletronorte e por enquanto não tem nada em discussão, mas é uma possibilidade”, disse Batista.
A Evoltz tem três linhas de transmissão na região Sul do país, mas a grande maioria dos seus ativos, representando cerca de 80% da carteira, fica no Norte do Brasil, regiões em que a empresa avalia ser mais competitiva em potenciais aquisições ou leilões.
“Para qualquer coisa que fique próximo dessas bases, teremos mais sinergias”, disse, explicando que, nesses casos, o opex de manutenção tende a ser menor, “A princípio, quanto mais próximos das nossas bases, maior será o retorno”, disse. Outra vantagem no Norte do país é a experiência com as características da região Amazônica, que trazem desafios adicionais como questões ambientais.
Assinado o contrato de venda da Evoltz, o fundo de pensão canadense deve levar de 60 a 90 dias para assumir o controle, devido às aprovações regulatórias necessárias. “Em seguida, vamos construir o planejamento estratégico de crescimento, e as possibilidades são múltiplas”, disse o presidente da transmissora. Ele disse que, por enquanto, não há conversas em andamento com potenciais vendedores.
Enquanto o crescimento não chega, a Evoltz investe em inovação e eficiência. Por exemplo, construiu uma usina solar fotovoltaica de pequeno porte para compensar a energia consumida pela base da NTBE, em Cuiabá. Segundo a companhia, além dos ganhos ambientais do projeto, houve a redução de 94% do custo de energia nas despesas operacionais dessa linha de transmissão, que liga Rondônia a São Paulo.
A empresa também investe em projetos sociais para as comunidades indígenas e ribeirinhas na região Amazônica. Recentemente, foi aprovado um investimento de R$ 250 mil no treinamento de professores da rede pública do Amazonas. “Acabamos de aprovar esse projeto e estamos anunciando que o fundo de pensão dos professores de Ontario está comprando a empresa. São os professores da província de Ontário ajudando na formação das escolas no Brasil”, disse Batista.