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Com olhar para o futuro, Santo Antonio Energia busca opções para dívida e diálogo com o Ibama

Com olhar para o futuro, Santo Antonio Energia busca opções para dívida e diálogo com o Ibama

Pouco mais de dois anos depois de concluir uma renegociação da sua dívida que permitisse à companhia se sustentar sem novos aportes dos acionistas, a Santo Antonio Energia, concessionária da hidrelétrica de mesmo nome, segue trabalhando para melhorar as condições de financiamento, os mecanismos de gestão do GSF e também para solucionar problemas regulatórios e ambientais que ainda existem.

“Nosso olhar é para o futuro de Santo Antonio. Por mais desafiador que seja o curto prazo para todo o setor e para nós também, acreditamos muito numa empresa sustentável e com bons resultados”, disse Daniel Faria Costa, presidente da companhia, que foi eleito para o cargo em 30 de abril.

No início da semana, a Santo Antonio Energia informou que teve prejuízo de R$ 504,8 milhões no primeiro trimestre do ano, 18,1% acima do prejuízo de R$ 427,4 milhões do mesmo período do ano passado. A receita líquida, porém, subiu 19%, para R$ 922,9 milhões, refletindo a melhora operacional da companhia e o resultado positivo da gestão dos volumes de contratação de energia mesmo com o GSF.

O que pesou foi o resultado financeiro, que veio negativo em R$ 738,7 milhões, 31,7% maior que o dos três primeiros meses do ano passado. Isso aconteceu pela correção monetária da dívida da companhia, que segue com uma alavancagem dentro do limite máximo permitido pelos credores.

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“Estamos em um processo contínuo de fazer ajustes na dívida que permitam a companhia a ter melhor sustentação e capital de giro disponível para melhorar sua operação”, disse Costa. “Enquanto temos conseguido ter sucesso na operação até a linha do Ebitda, mas continuam os desafios, e temos buscado alternativas para melhorar as condições para o financiamento”, completou.

O problema da dívida de Santo Antonio está relacionado aos atrasos na construção da hidrelétrica, de 3.568,3 MW de potência, no rio Madeira. Com os atrasos, ela ficou muito exposta no mercado em momentos de hidrologia adversa e preços elevados, e foram necessárias diversas chamadas de capital dos sócios ao longo do tempo para a conclusão do empreendimento. Em 2018, depois longos debates entre os acionistas, que viviam em conflito – muito por conta dos seus próprios problemas financeiros -, a companhia conseguiu acertar com o BNDES o reperfilamento da sua dívida e deixou a ameaça de uma recuperação judicial para trás.

A nova dívida, embora alongada e com prazos de carência, veio com um custo maior, diante das dificuldades financeiras da hidrelétrica. Com esse capítulo superado, a nova gestão da usina pensa em alternativas mais baratas, ao mesmo tempo em que se esforça para garantir a excelência operacional, e, de quebra, trabalha para solucionar impasses com as autoridades ambientais.

A companhia ainda não tem nenhuma operação financeira “engatilhada”, mas considera novos investidores, emissão de dívidas dentro do modelo ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa), ou pela troca da dívida antiga por nova que seja mais barata. “A ideia é buscar alinhar e trazer diversas alternativas possíveis, sem desrespeitar as cláusulas das dívidas atuais, mas talvez até aproveitando o momento de liquidez do mercado”, disse Costa. Segundo ele, mesmo considerando o cenário de aperto monetário atual, as taxas praticadas hoje podem ser muito melhores.

Quando as discussões sobre o reperfilamento da dívida aconteceram, Daniel Faria Costa participava representando um dos acionistas da hidrelétrica, a Cemig, onde era diretor de participações. “Posso dizer que, de 2019 para frente, houve total apoio dos acionistas para focar na empresa e melhorar o ativo”, disse. Hoje, a estatal mineira tem 8,53% da Madeira Energia (Mesa), holding controladora de Santo Antonio. Os outros acionistas são Odebrecht (28,25%), Andrade Gutierrez (10,53%), Furnas (43,05%) e FI FGTS (9,6%).

Governança e GSF

A governança é outra questão que merece atenção especial. Na mesma data em que Costa foi eleito presidente, a conselheira independente Solange David foi eleita como presidente do conselho de administração da companhia. “Estamos todos focados com o mesmo objetivo, na busca por fortalecimento e as melhores práticas de governança. Consideramos gestão de riscos, compliance, monitoramento de desempenho, olhar sobre o futuro, inovação, tecnologias, a comunidade e o setor como um todo”, disse David.

Essa preocupação está presente nos esforços da companhia para mitigação do risco hidrológico. “Nessa linha de olhar todos os elementos inerentes ao risco empresarial de modo geral, o gerador de energia deve ter um olhar ampliado para mecanismos de hedge, como mercado financeiro, derivativos. Tudo isso vai fazer parte de um desafio permanente” disse a conselheira.

A hidrelétrica está trabalhando no desenvolvimento de mecanismos de hedge para se proteger da exposição ao GSF, ainda que parte da sua energia assegurada tenha aderido à repactuação proposta em 2015 pelo governo. No início da semana, a Santo Antonio Energia realizou um leilão para compra de energia incentivada de longo prazo, com entrega no submercado Sudeste/Centro-Oeste, mas não houve lance concretizado. A empresa seguirá conversando com as partes interessadas no leilão e seguindo com outras iniciativas para ampliar sua proteção ao GSF.

Diálogo com o Ibama

A mitigação de riscos regulatórios e ambientais é outra prioridade. No início de 2021, a hidrelétrica quase teve sua operação paralisada, devido a problemas surgidos da redução do volume de água armazenada no reservatório por causa do assoreamento do leito do rio Madeira. A usina precisou de uma liminar da Justiça para elevar a área alagada, ao mesmo tempo em que solicitou ao Ibama a adequação temporária das condições operativas da usina, com alagamento de 0,03% do Parque Nacional Mapinguari, nas proximidades do rio.

Isso aconteceu porque, para cumprir as determinações ambientais da sua licença, durante os primeiros meses do ano, quando as vazões do rio Madeira sobem consideravelmente, a usina precisa aumentar o deplecionamento do reservatório para evitar alagar o parque. Com o assoreamento do lago, o volume de água disponível é reduzido e, para evitar aumentar a área alagada, o reservatório precisa ser deplecionado em um nível que coloca em risco a integridade das instalações da hidrelétrica.

“Estamos com uma interação super produtiva com o Ibama e o ICMBio, na busca de condições operativas que atendam o interesse do regulador e licenciador, que é o Ibama, mas que também nos permitam operar regularmente e de forma plena”, disse Costa.

O acordo em negociação deve envolver mecanismos de compensação à região ou o pagamento de indenização, além do compromisso com medidas que ajudem a medir o nível de alagamento e reduzir os impactos no parque. “Ainda estamos discutindo e precificando essas iniciativas, para que possamos discutir valores”, disse o presidente da hidrelétrica.

Diante do alinhamento com as autoridades ambientais, a Santo Antonio Energia fez uma petição conjunta com o Ibama e o ICMBio para suspender o processo na Justiça, mantendo os efeitos da liminar. “Queremos trabalhar no conhecimento técnico e com argumentos válidos e não só pela via judicial”, disse.

“Isso foi importante porque foi uma petição conjunta, fruto de um diálogo entre as partes sobre todas as questões. Quando pensamos nas hidrelétricas da Amazônia, temos que desmistificar os mitos. Eu ouso dizer que esse é um empreendimento ambientalmente amigável, temos mais de 28 programas socioambientais”, disse Solange David. Segundo ela, esse diálogo que resultou na petição conjunta mostra o “amadurecimento das instituições.”

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