Os leilões de energia nova dos tipos A-3 e A-4 marcados para a próxima quinta-feira, 8 de julho, devem repetir a tendência observada nas licitações dos anos anteriores e registrar um baixo volume de contratação, refletindo o cenário de sobreoferta das distribuidoras, de acordo com a expectativa de especialistas.
Análise feita pela MegaWhat Consultoria indica uma expectativa de negociação entre 100 megawatts (MW) médios e 300 MW médios nos dois leilões. A projeção considera o histórico dos leilões, a sobrecontratação das distribuidoras e a possibilidade de uma eventual contratação em 2022 por meio de um leilão A-3.
Na mesma linha, a Thymos Energia prevê uma contratação de menos de 100 MW médios no leilão A-3 e inferior a 200 MW médios no certame A-4.
Para a Mercurio Trading, empresa do grupo Mercurio, mesmo com a perspectiva de um volume baixo de contratação nos dois leilões, a demanda pode ser superior ao total negociado nos leilões de energia existente A-4 e A-5 realizados em junho, que contrataram 162,5 MW médios. Essa possibilidade, explica Eduardo Faria, sócio da Mercurio Trading, deve-se a uma eventual estratégia das distribuidoras de reservar uma maior parcela da demanda para negociar nos leilões desta quinta-feira, em relação aos leilões de energia existente, devido a uma expectativa de preços mais baixos nesses leilões de energia nova.
Preços
“O preço da energia das fontes renováveis eólica e solar nos últimos leilões A-4 de energia nova foi mais baixo do que o CVU [custo variável unitário] da térmica do leilão de energia existente”, afirmou Faria à MegaWhat.
Os leilões de energia existente A-4 e A-5 contrataram apenas um empreendimento, a termelétrica de Cubatão, a gás natural liquefeito (GNL), da Petrobras. Ao todo, foram negociados 162,5 megawatts (MW) médios, aos preços de R$ 172,39 por megawatt-hora (MWh), no A-4, e R$ 151,15/MWh, no A-5.
O valor de R$ de 151,15/MWh foi justamente o preço médio do último leilão de energia nova A-4, em 2019. O preço, no entanto, inclui a contratação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e de centrais geradoras hidrelétricas (CGH). Naquele leilão, as fontes eólica e solar negociaram contratos para entrega em 2023 com preços abaixo de R$ 80/MWh. E, no leilão A-4 de 2018, o preço médio foi de 124,75/MWh.
André Fonseca, gerente estratégico-financeiro da Thymos Energia, também prevê preços baixos nos leilões de energia nova. “Esperamos que se repitam preços baixos, mesmo com o aumento do dólar e dos preços das commodities”, disse ele à MegaWhat.
Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ, professor Nivalde de Castro, a demanda para os leilões de quinta-feira tende a ser pequena por três motivos: o efeito da crise da covid-19 para o mercado das distribuidoras, o aumento da migração de consumidores para o mercado livre e o crescimento exponencial da geração distribuída (GD).
“Estes três vetores estão minando conjuntural e estruturalmente o mercado cativo, do qual a demanda a ser contratada deverá ser muito baixa”, explicou o especialista.
Oferta
O coordenador do Gesel destaca também o volume expressivo de oferta cadastrada para os leilões de energia nova. Os empreendedores veem nesses certames a oportunidade de homologarem e garantirem pontos de conexão para seus projetos, para complementar a contratação posteriormente no mercado livre, por meio de contratos bilaterais.
De acordo com análise da MegaWhat Consultoria, para o leilão A-3, dos 1.501 projetos cadastrados (totalizando 54.946 MW de potência), 1.458 registraram requerimentos de outorga (DRO), somando 54.075 MW. E 1.447 empreendimentos receberam garantia física para participação no leilão, com um total de 52.588 MW de capacidade e 18.613 MW médios de garantia física.
Com relação ao A-4, foram inscritos 1.787 projetos (64.587 MW). Desses, 1.730 (63.393 MW) apresentaram requerimentos de outorga (DRO). E 1.729 empreendimentos receberam garantia física para participação no certame, totalizando 62.104 MW de capacidade e 22.005 MW médios de garantia física.
Um mesmo empreendimento pode participar dos dois leilões. Os certames são destinados a termelétricas a biomassa, hidrelétricas, PCHs, CGHs, parques eólicos e usinas solares fotovoltaicas.
* Reportagem atualizada em 08/07/2021, às 11h08