Geração

Crise hídrica indica que riscos climáticos não são considerados adequadamente, diz Escolhas

ESCOLHAS – 15/06/2021 – Equipe. Sao Paulo. Foto: Leonardo Rodrigues
ESCOLHAS – 15/06/2021 – Equipe. Sao Paulo. Foto: Leonardo Rodrigues

A crise hídrica atual, que agravou as condições de atendimento do Sistema Interligado Nacional (SIN) este ano, é fruto de uma gestão do setor elétrico que não considera adequadamente os riscos climáticos, de acordo com avaliação do Instituto Escolhas, associação civil sem fins econômicos que tem como objetivo qualificar o debate sobre sustentabilidade no país.

Segundo Larissa Rodrigues, gerente de Projetos e Produtos da entidade, o fenômeno da escassez hídrica e o registro de baixo nível de armazenamento dos reservatórios hidrelétricos não ocorreram apenas em 2021. Esses fatores, explicou ela, têm sido observados já há alguns anos.

“O setor elétrico está vivendo em um gerenciamento de crises, em vez de ter um gerenciamento de risco, que precisaria ser incorporado ao setor”, disse a especialista à MegaWhat. “Um sintoma de que não estamos tendo uma gestão de risco é que as garantias físicas das usinas, na verdade, estão só no papel, não condizem mais com a quantidade de energia que essas usinas têm. Isso gera um custo enorme para o sistema e o consumidor”.

Para lidar com a crise hídrica atual, o governo publicou a Medida Provisória 1.055/2021, que dá mais poderes ao Executivo para a gestão dos recursos hídricos do país. Em paralelo, o Ministério de Minas e Energia tem se reunido com especialistas para discutir a situação atual das condições hidrológicas.

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Os problemas da crise hídrica são abordados no documento “Apagão em 2021? O Brasil repetindo os erros do passado”, lançado pelo Instituto Escolhas, nesta quarta-feira, 14 de julho.

Além da indicação de que a produção das usinas em geral tem sido inferior à garantia física aplicada a elas e que, consequentemente, os preços de energia não estão capturando adequadamente o balanço entre oferta e demanda no setor, o documento ressalta que as fontes eólica, solar e térmica a biomassa poderiam ter uma contribuição maior na matriz elétrica brasileira.

“As fontes renováveis, combinadas numa carteira energética equilibrada, podem ser vastamente despachadas em seus momentos de pico de geração – também já conhecidos, como visto com a energia eólica no Nordeste nos últimos meses –, contribuindo assim para uma correta gestão dos reservatórios hidrelétricos”, afirma o instituto, no documento.

A entidade propõe ainda uma metodologia baseada na valoração de atributos de cinco componentes: custo de investimento e operação; serviços além do fornecimento de energia; custos de infraestrutura causados ou evitados pelo gerador; subsídios e isenções; e custos ambientais. De acordo com o Escolhas, essa metodologia, aplicada ao Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2026, poderia resultar em um aumento de 68% da participação das fontes eólica, solar e de biomassa na matriz elétrica brasileira em 2035, totalizando 44% do parque gerador brasileiro naquela data.

Segundo Rodrigues, esses estudos deveriam ser considerados no planejamento e na gestão do setor elétrico brasileiro, para evitar crises como a atual e permitir um adequado gerenciamento de risco ambiental na indústria de energia elétrica do país.

“Na verdade, nos últimos anos, a gestão do setor elétrico está sendo feita por um regime de exceção. E o problema disso é que, quando você toma medidas emergenciais e de exceção, você não tem a menor condição de fazer os estudos técnicos econômicos e ambientais para justificar qualquer medida. Então as medidas são tomadas e depois é que vemos o impacto delas”, completou a especialista.

(foto: Leo Rodrigues)

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