Pouco mais de dois anos depois da quebra das empresas Vega e Linkx, o mercado de comercialização de energia elétrica está à beira de um novo episódio de inadimplência, dessa vez com prejuízo potencial ainda maior, de R$ 600 milhões, relatam fontes. O Valor Econômico apurou que duas comercializadoras, Brasil e Argon, iniciaram conversas informais com suas contrapartes para indicar que não conseguirão honrar contratos de venda de energia, já a partir deste mês, por não terem lastro.
Segundo uma lista que circula no mercado, o “default” poderia afetar dezenas de companhias, entre elas grandes geradoras – EDP, CPFL e CTG –, e outras comercializadoras, como a Delta. Procuradas pela reportagem, Brasil e Argon sustentam que não enviaram avisos do tipo a suas contrapartes. No caso da Brasil, a empresa diz ter notificado dois clientes que estão inadimplentes com ela, e não o contrário.
Ambas possuem contratos e negociações com os principais players do setor de energia elétrica e portfólio de contratos de longo prazo, superiores a 15 anos. Em relação ao prejuízo calculado de R$ 600 milhões, conforme informações que circulam no setor, ambas responderam que esse cenário “não se configura neste momento, uma vez que o mercado é dinâmico e volátil e pode ser afetado por mudanças regulatórias, condições climáticas, macroeconômicas e gestão de recursos hídricos, além de outros fatores externos que podem repercutir na formação do preço da energia”. Procuradas, EDP e CTG afirmaram que não comentam rumores de mercado. Delta e a CPFL foram procuradas, mas não retornaram.
Eneva busca parceiros para ampliar oferta de gás natural
Pioneira ao instalar térmicas próximas a seus campos de gás natural, no Maranhão, a Eneva quer, além de vender sua produção, comercializar o insumo de parceiros, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. Uma chamada pública está aberta para atrair fornecedores, que devem entregar o produto entre janeiro de 2022 e dezembro de 2024.
Na outra ponta, a Eneva busca consumidores. Indústrias e distribuidoras são potenciais clientes. A empresa está disposta, até mesmo, a investir infraestrutura para expandir a oferta de gás. A companhia ainda não tem contratos fechados, mas espera que empresas de pequeno e médio porte se interessem pela estruturara de distribuição, já que, até então, estavam condicionadas a vender o gás à Petrobras. Agora, terão a opção de vender a outras companhias desse mercado.
BC monitora crise de energia e efeito sobre inflação e atividade econômica
Dois diretores do Banco Central (BC) foram atualizados por representantes do setor elétrico sobre as implicações da crise hídrica, em vídeo-conferência realizada na terça-feira (20/07), informa o Valor Econômico. A atenção dada ao tema pela autoridade monetária não é à toa. São monitorados, pelo menos, dois impactos da falta de água nos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste, afetadas pela maior estiagem dos últimos 91 anos.
Um deles é o efeito inflacionário provocado pela alta nas contas de luz, com o acionamento à plena carga das termelétricas. Outra implicação – porém considerada incerta – envolve o risco de déficit elevado na oferta de energia pelo sistema elétrico, que pode gerar consequências desastrosas para a recuperação econômica, no caso de ocorrências de blecaute ou decretação de racionamento, como em 2001.
No encontro, os diretores de política econômica, Fabio Kanczuk, e política monetária, Bruno Serra Fernandes, assistiram à apresentação do Operador Nacional do Sistema (ONS) sobre a escassez hídrica e a estratégia de enfrentamento desse cenário, conforme informou a entidade, em nota. Procurado, o BC não quis comentar sobre os assuntos tratados. Ainda em nota, o operador esclareceu que foram indicadas aos diretores do BC as ações excepcionais que estão sendo tomadas tanto pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) como pela recém-criada câmara de ministros (Creg), instituída por medida provisória para funcionar como um “comitê de crise”.
ONS vê piora no cenário hídrico e esgotamento em novembro
Uma nota técnica concluída ontem (222/07) pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) traça um cenário ainda mais desafiador para o fornecimento de energia no fim deste ano por conta da crise hídrica que atinge as hidrelétricas do país, informa o Valor Econômico.
O texto prevê “o esgotamento de praticamente todos os recursos no mês de novembro” para o sistema nacional de energia elétrica. O ONS já considera em sua avaliação medidas já adotadas e o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) para 4,5% no ano, em vez dos 3% que até então era usado como parâmetro. O crescimento econômico é o principal parâmetro para a alta do consumo de energia, estimada em 7% este ano.
Petrobras mais que dobra importação de diesel e gasolina para compensar paralisações
Com algumas plataformas e refinarias paradas para manutenção no segundo trimestre, a Petrobras foi obrigada a compensar quedas pontuais de produção com importação de combustíveis, conforme reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. A crise hídrica também ditou o mercado de energia elétrica, no período. E a China, o maior consumidor internacional do petróleo brasileiro, comprou menos, de abril a junho, abrindo espaço para outros países comprarem mais óleo nacional, principalmente, Índia e Estados Unidos.
A reportagem ressalta que a produção de petróleo e gás natural se manteve estável, apesar do crescimento ininterrupto dos campos do pré-sal. No segundo trimestre deste ano, foram extraídos 2,75 milhões de barris de óleo equivalente no Brasil, 0,1% menos que em igual período do ano passado. Sete plataformas foram paralisadas no pós-sal da Bacia de Campos para manutenção. No pré-sal, outras duas unidades até passaram a produzir um volume maior de óleo e gás, mas não o suficiente para suprir as perdas.
Com a produção interna de estável e o consumo de derivados em alta, o fator de utilização das refinarias caiu de 85% para 72%, do primeiro para o segundo trimestre. A solução da empresa foi recorrer ao mercado externo. Para compensar a retração da oferta das refinarias da estatal , a importação subiu 146%, comparado ao período de abril a junho de 2020. As compras externas foram puxadas, principalmente, pelo óleo diesel.
PANORAMA DA MÍDIA
O principal destaque da edição desta sexta-feira (23/07) do Valor Econômico é o Código de Defesa do Consumidor. Em vigor há menos de um mês, a “Lei do Superendividamento” poderá ser uma saída para os 30 milhões de brasileiros que têm mais da metade da renda comprometida com dívidas. A norma cria uma espécie de “recuperação judicial” para pessoas físicas e força os credores a se sentarem à mesa para negociar.
São regras que poderão injetar R$ 350 bilhões na economia, segundo estudo da Ordem dos Economistas do Brasil e do Instituto do Capitalismo Humanista. A norma, que atualiza o Código de Defesa do Consumidor, vem num momento de crise para as famílias. Hoje, 70% delas estão endividadas, conforme a Confederação Nacional do Comércio. São débitos no cartão de crédito, lojas de varejo, luz, água e gás.
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O presidente Jair Bolsonaro defendeu a proximidade do chamado centrão com o Palácio do Planalto. Ontem (22/07), ele confirmou a ida do presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), para o comando da Casa Civil. Bolsonaro disse que ele próprio é do centrão e defendeu o grupo político afirmando que o termo é “pejorativo”. (O Globo)
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As reações à ameaça feita pelo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, de que não haverá eleições caso o voto impresso não seja implantado no país uniram representantes do Três Poderes. (O Estado de S. Paulo)
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O apoio ao voto impresso feito publicamente ontem (22/07) pelo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto fez crescer em alas do Judiciário e do Congresso a avaliação de que é necessário afastar militares de decisões políticas. A constatação já era compartilhada por líderes partidários que atuavam para excluir militares de núcleos de articulação do governo. (Folha de S. Paulo)