A inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), alcançou a maior taxa para agosto (0,87%) em 21 anos e, com o resultado, encostou em dois dígitos no acumulado de 12 meses (9,68%). É o que apontam os dados divulgados ontem (09/09) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na visão de economistas ouvidos pela Folha de S. Paulo, o quadro reflete uma difusão maior da alta de preços entre os setores da economia. Analistas do mercado financeiro ainda evitam falar em descontrole inflacionário, mas passaram a elevar suas projeções para o IPCA tanto em 2021 quanto em 2022.
Tudo isso ocorre no momento em que o Brasil enfrenta uma crise hídrica que encarece as contas de luz, e um acirramento da tensão política, que impacta a taxa de câmbio.
Diesel dispara e governo tem pouco espaço de ação
Apesar de a alta nos preços dos combustíveis não ser a pauta prioritária na atual paralisação dos caminhoneiros, o aumento do diesel segue como fator de insatisfação da categoria, conforme reportagem do Valor Econômico. Cálculos do Valor Data com base em dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontam que o preço médio do litro do óleo diesel nos postos subiu 24,76% entre janeiro e agosto.
Dentro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza a meta oficial de inflação, o diesel já acumula alta de 28,02% de janeiro a agosto, cinco vezes mais que o IPCA geral. No caso dos preços praticados nas refinarias pela Petrobras, o combustível subiu 38,29% ao longo do ano. Antes de chegar na bomba, o preço é acrescido de tributos federais e estaduais, dos custos para mistura obrigatória de biocombustíveis, além dos custos e margens das companhias distribuidoras e dos revendedores.
A reportagem explica que diversos fatores contribuem para o aumento dos preços. A Petrobras adota uma política de alinhamento ao mercado internacional, por isso a alta do barril de petróleo depois dos impactos da pandemia afeta os preços dos combustíveis no Brasil. Outro fator que contribui para a pressão é a desvalorização do real frente ao dólar.
Consumidor que mudou de residência ou gera a própria energia não ganhará bônus na conta de luz
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo informa que o programa que prevê descontos nas contas de luz para consumidores que economizarem energia nos próximos meses não irá beneficiar a todos. De acordo com as regras estabelecidas pelo Ministério de Minas e Energia (MME), consumidores que não moram na mesma residência desde setembro do ano passado ou produzem a própria energia, a chamada geração distribuída, não terão direito a nenhum tipo de bônus, mesmo se reduzirem o consumo neste ano.
A medida é voltada aos consumidores atendidos pelas distribuidoras, seja residencial, comercial ou industrial, que conseguirem reduzir de 10% a 20% o consumo. Porém, é necessário ter o histórico de consumos medidos nos quatro meses, setembro a dezembro, de 2020. Isso porque a comprovação da economia será feita com base no somatório do consumo ao longo dos próximos quatro meses, ou seja, setembro a dezembro de 2021, para comparar com a soma das mesmas quatro faturas de 2020. O bônus, no entanto, só será pago, de uma vez, em janeiro de 2022.
Governo aprova medida para contratação adicional de energia
O governo decidiu autorizar a contratação adicional de energia por meio de processo simplificado. A decisão foi chancelada ontem (09/09) pela Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG).
A resolução da CREG atende à decisão do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), que já tinha sugerido na semana passada a realização desse processo simplificado para contratação de energia adicional para os subsistemas do Sudeste/Centro-Oeste e Sul, com suprimento a iniciar em 2022 até 2025.
A câmara também chancelou outras deliberações da CMSE, como a de dar condições de operação para uma usina termelétrica ainda em 2021, “diante da necessidade de geração de todos os recursos energéticos disponíveis”. (O Globo)
Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), a contratação se dará por “procedimento competitivo simplificado”, conforme previsto na medida provisória (MP) que criou a câmara de gestão da crise. Isso significa que não devem seguir as regras de leilões de energia do governo. O MME, porém, não informou como será esse procedimento e nem o volume das contratações. (Valor Econômico)
Enphase entra no mercado de energia solar brasileiro
Fundada em 2006, a Enphase é líder no mercado americano de energia solar residencial, com 55% de participação. Listada na Nasdaq e valendo US$ 22,6 bilhões, a Enphase fabrica microinversores, equipamento que faz a conversão da tensão contínua dos paineis fotovoltaicos em tensão alternada, permitindo a conexão à rede elétrica.
A doação de um sistema de energia solar para a Escola Vidigal, projeto social do artista plástico Vik Muniz, foi a forma escolhida pelo executivo americano Marco Krapels, ex-vice presidente da Tesla, para anunciar a chegada da Enphase no aquecido mercado residencial brasileiro. (O Globo / coluna Capital)
PANORAMA DA MÍDIA
O principal destaque da mídia nesta sexta-feira (10/09) continua sendo o cenário político brasileiro.
Sob pressão do Judiciário e do Congresso, o presidente Jair Bolsonaro recuou ontem (09/09) e divulgou uma “declaração à nação” na qual afirma não ter a intenção de “agredir quaisquer dos Poderes”. No documento, o presidente declara que suas palavras, “por vezes contundentes, decorreram do calor do momento”. Nos atos de terça-feira, 7 de setembro, Bolsonaro desqualificou o Supremo Tribunal Federal (STF), ameaçou deixar de cumprir decisões da Corte e atacou diretamente o ministro Alexandre de Moraes.
O Ibovespa caminhava para mais um fechamento negativo ontem, até que a carta publicada pelo presidente, adotando um tom mais conciliador, reverteu completamente o humor da sessão. Mesmo pressionado por dados de inflação maiores que o esperado, o principal índice da Bolsa foi impulsionado pelo alívio do primeiro sinal de arrefecimento na tensão política e escalou cerca de 3 mil pontos em poucos minutos. (Valor Econômico)
Antes da divulgação de nota em que recusou de ataques aos outros Poderes, o presidente Jair Bolsonaro conversou por telefone com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em ligação mediada pelo ex-presidente Michel Temer. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do ex-presidente. Temer foi acionado ainda na quarta-feira (08/09) por Bolsonaro, que buscava conselhos para administrar os bloqueios de caminhoneiros e para tentar contornar a crise que criou com o STF. (Folha de S. Paulo)
O presidente recebeu críticas disparadas desde aliados do Centrão, sua base de sustentação política, a presidentes de órgãos da República, como os ministros Luiz Fux (STF), Luís Roberto Barroso (Tribunal Superior Eleitoral) e Arthur Lira (Câmara). Paralelamente, os protestos de caminhoneiros bolsonaristas saíram do controle do Palácio do Planalto, o que ficou evidente com os bloqueios de estradas país afora. (O Globo)
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O jornal O Estado de S. Paulo informa que, diante da antecipação das tensões político-eleitorais e da perspectiva de inflação e juros atingirem patamares mais elevados no ano que vem, várias empresas estão captando bilhões em recursos no mercado para reforçar seus caixas e rolar ou alongar dívidas tomadas antes e durante a pandemia. O mercado de debêntures viu um boom de anúncios de emissões por gigantes como Comgás, 3R Petroleum, Vibra e Hypera, com operações de cerca de R$ 1 bilhão.
A reportagem explica que, embora a taxa Selic tenha saído de 2% em março para 5,25% em agosto, com as expectativas de que chegue a 8% no final do ano, o custo de captação para as empresas ainda é favorável. Algumas empresas já começaram a acessar também o mercado externo em busca de recursos.