O aperfeiçoamento do modelo de formação de preços no setor elétrico, para refletir adequadamente o comportamento da oferta e da demanda, é fundamental para o desenvolvimento do promissor mercado de derivativos de energia no Brasil. A opinião é do engenheiro eletricista e consultor Roberto Mayo, autor do livro “Mercados de Eletricidade”, cuja segunda edição, lançada no fim de 2021 pela editora Synergia, aprofundou o conteúdo dedicado ao mercado de derivativos.
“Os mercados de energia no mundo têm um preço realista. Aqui no Brasil, esse preço não reflete a realidade”, afirmou Mayo, em entrevista à MegaWhat. Segundo ele, a existência de preços resultantes das forças de mercado é essencial para o bom funcionamento do mercado de derivativos.
Especialista com longa trajetória no setor elétrico, formado em engenharia elétrica, na universidade Ein-Shams, no Cairo, no Egito, e mestre em sistemas de potência, pelo Illinois Institute of Technology de Chicago, nos Estados Unidos, Mayo lista ainda outros fatores que são fundamentais para o mercado de derivativos.
Esses aspectos essenciais são o funcionamento adequado do mercado físico de energia, a transparência de dados e informações sobre preços, a padronização de contratos de derivativos, a existência de uma câmara de compensação robusta e eficiente e o funcionamento de um arcabouço regulatório e jurídico estável e previsível.
Mercados maduros
Para demonstrar a importância desses itens, Mayo apresenta e explica nesta nova edição do livro conceitos importantes do mercado, como liquidez, transparência, confiança e poder de mercado. Para comprovar a importância de um sinal de preço aderente à realidade, a obra contém detalhes sobre mercados mais maduros, como o europeu, o norte-americano e o australiano.
“O livro traz conceitos fundamentais para entender o mercado de energia e faz a ponte entre o setor elétrico e o mercado financeiro”, conta Mayo.
A partir de sua experiência no setor elétrico e na academia, tendo sido professor de análise de sistemas de potência na PUC-Rio e no IME e de derivativos de eletricidade na FIA-USP, Mayo descreve de forma didática o funcionamento dos mercados de energia elétrica em geral e o de derivativos.
“Minha intenção é introduzir este assunto de mercados de eletricidade no currículo das universidades. Os engenheiros saem das universidades conhecendo muito sobre sistemas elétricos, mas não sabem de mercado”, afirmou ele.
Em versão revista e ampliada, com 360 páginas e dividida em 14 capítulos, a nova edição do livro é uma espécie de bússola para a navegação em mares revoltos do setor elétrico brasileiro. Segundo Mayo, o livro auxilia aqueles que almejam trabalhar no negócio da energia elétrica em nível profissional no país.
Abertura de mercado
O especialista também defende o processo em curso de abertura do mercado de energia do país. Segundo ele, este é um item importante da modernização do setor elétrico. Para tanto, como lembra, é preciso haver preços confiáveis de energia. E acrescenta a importância da separação da contratação de potência e de energia. “A separação do lastro permite a adequação do suprimento com confiabilidade”, completou.
A nova edição do livro tem o apoio da BBCE, ecossistema de negócios do mercado de energia, e faz parte da estratégia da empresa de levar conteúdo educativo para o mercado.
O mercado de derivativos da BBCE, que iniciou a operação em janeiro de 2021, encerrou o seu primeiro ano com mais de 2 terawatts-hora (TWh) negociados.
“O desafio agora é trazer liquidez para o mercado de derivativos. Não tenho dúvidas de que o mercado tem interesse nos derivativos”, afirmou o presidente da BBCE, Carlos Ratto, à MegaWhat. O executivo lembra ainda que no mercado de derivativos, o capital em risco é bem menor, dado que o risco está relacionado apenas à diferença de preço entre o valor fechado no início e no vencimento do papel.
O lançamento do livro faz parte de uma etapa importante para a BBCE, que completará dez anos de operações em 2022. Além disso, a empresa pretende lançar neste ano a nova plataforma, no âmbito de seu processo de transformação digital, e que incluirá a possibilidade de negociação de outros produtos além de energia elétrica, como o gás natural.
“O ano de 2022 será emblemático para a BBCE. Não só pelos dez anos, mas pelo projeto de transformação digital”, completou Ratto.