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Enel deve ampliar investimentos no Brasil gradualmente nos próximos anos, diz CEO global

Francesco Starace, Chief Executive Officer and General Manager, Enel, Italy at the Annual Meeting 2017 of the World Economic Forum in Davos, January 17, 2017. Copyright by World Economic Forum / Jakob Polacsek
Francesco Starace, Chief Executive Officer and General Manager, Enel, Italy at the Annual Meeting 2017 of the World Economic Forum in Davos, January 17, 2017. Copyright by World Economic Forum / Jakob Polacsek

Alvo de grande parte dos investimentos da italiana Enel nos próximos anos, o Brasil deve despontar como um dos mais importantes mercados do grupo em todo o mundo, principalmente devido à sua vocação para energias renováveis e ao crescimento contínuo da demanda por energia. O grupo tem 4,7 GW em geração renovável no país, sendo quase a metade na fonte eólica, e lidera o segmento de distribuição brasileiro em números de clientes. É nesse ativo – a demanda – que está sua aposta para crescer. As novas tecnologias, como baterias, devem ter participação importante nisso, a despeito da sua falta de interesse em alternativas consideradas menos atrativas no mercado, como a eólica offshore.

O Brasil vai receber cerca de metade dos quase 10 bilhões de euros que a Enel pretende investir na América Latina até 2024. Segundo Francesco Starace, que comanda o grupo desde 2014, como o mercado brasileiro está em franco crescimento, até pela expansão demográfica da população, o país deve ganhar mais importância ao longo dos anos, com a proporção dos investimentos ficando cada vez maior.

“Alguns países vão chegar em seus limites de crescimento nos próximos três anos, e aí vão desacelerar. Não vemos esse limite no Brasil. Daqui 10 anos, o país vai representar mais de 50% dos nossos investimentos [em renováveis], por causa da dimensão do país e sua necessidade de crescimento”, disse Starace, que participou nessa quinta-feira, 14 de abril, de um evento realizado pela companhia em São Paulo.

No total, a Enel vai investir 45 bilhões de euros entre 2022 e 2024, considerando suas operações em todo o mundo. Cerca de 19 bilhões de euros serão alocados no segmento de renováveis, especialmente em países em que o grupo tem uma cadeia integrada com consumidores finais – o caso do Brasil.

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Na América Latina, os investimentos previstos no período somam 9,8 bilhões de euros, e metade deles virã para o Brasil. Os recursos serão divididos entre geração renovável e gestão das redes de distribuição da companhia, que também atua em serviços e tem ganhado espaço em segmentos novos, como o de iluminação pública.

Novas tecnologias

O mote da Enel é a descarbonização, e aproveitar as oportunidades de crescimento que vêm com a transição energética. “A tecnologia tornou possível substituir economicamente a geração fóssil existente por nova geração renovável”, disse Starace, para quem “descarbonizar é a esperança”.

No evento, estavam presentes André Iasi, presidente da Estapar Estacionamentos, com quem a Enel tem uma parceria na Ecovagas, empresa de carregamento de veículos elétricos e híbridos; Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, que tem uma parceria de eficiência energética e instalação de painéis solares fotovoltaicos com a companhia italiana; e Ricardo Nunes (MDB-SP), prefeito de São Paulo, que assinou com a companhia um procolo de intenções para cooperação visando programas e projetos que ampliem a adoção de projetos de energia limpa no município.

“Nossas tecnologias de transição são criadoras de igualdade, e nosso esforço é descarbonizar de forma sustentável, explicando para a sociedade que há uma forma diferente de se fazer as coisas, e uma forma muito melhor. Todos podemos juntos progredir”, disse Starace.

Para o executivo, a guerra entre Rússia e Ucrânia, e suas consequências nos mercados globais de combustíveis fósseis, podem até levar a um retrocesso no curtíssimo prazo, com alguns países esgotando reservas de carvão, por exemplo, para não ficarem sem energia. “Mas em três a quatro anos vai acontecer rapidamente a mudança e a saída do gás, inclusive de países que deveriam ter feito isso antes”, afirmou. Isso vai acontecer até pela necessidade de se reduzir a dependência de determinados países, como a Rússia, que concentram grande parte dos recursos fósseis do mundo.

Baterias sim, hidrogênio talvez, offshore não

A mobilidade elétrica é um dos focos da companhia para o futuro, inclusive no Brasil, mercado na qual a Enel tem investido nos carregadores elétricos. “Os carros a bateria elétrica são mais competitivos no fim do dia, desde que você produza milhões, e não centenas”, disse. Para Starace, o Brasil seguirá essa rota, e poderá inclusive ter um papel na fabricação das baterias, devido ao porte do mercado local em comparação com o restante da América Latina. “São tecnologias completamente disponíveis para um país como o Brasil, que poderá escalar de uma forma importante”, disse. 

A companhia também tem investido no desenvolvimento  do hidrogênio verde, por meio de parcerias que estudam como viabilizar a tecnologia em países como Itália, Espanha, Estados Unidos e Chile. “Não sei se isso vai acontecer, acho que há uma boa chance, mas pode levar anos”, disse. 

Já a eólica offshore é uma tecnologia na qual a Enel não pretende investir, ao menos por enquanto. “O mesmo MW em terra custa mais que o dobro no offshore”, disse Starace. Além disso, o prazo de desenvolvimento dos empreendimentos é longo, enquanto a italiana foca seus esforços em projetos que possam ficar de pé em até três anos, e os custos de operação e manutenção chegam a ser três vezes maiores. “Não precisamos disso”, afirmou Starace.