A quarta mudança na presidência da Petrobras no governo de Jair Bolsonaro foi mal recebida pelos investidores, devido ao aumento da pressão estatal sobre a política de preços praticada pela estatal, com paridade com os preços internacionais. Por volta de 12h, as ações preferenciais da Petrobras (PETR4) recuavam 5,1%, a R$ 30,85, enquanto as ordinárias (PETR3) tinham queda de 4,35%, a R$ 33,87.
O governo informou na noite de ontem, 23 de maio, que convidou Caio Mário Paes de Andrade, secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, para comandar a estatal, no lugar de José Mauro Ferreira, que assumiu o cargo há apenas 40 dias. Mais uma vez, a troca no comando refletiu a insatisfação do presidente Bolsonaro com os preços de combustíveis, que seguem em trajetória de alta acompanhando o mercado internacional.
Os efeitos negativos no mercado são limitados pela perspectiva dos investidores de que a companhia está blindada por seu estatuto, que desde 2018 determina que se a Petrobras for utilizada para atender o interesse público – como subsidiando preços de combustíveis -, os prejuízos serão compensados pela União a cada exercício social.
“Ainda que a governança corporativa da Petrobras tenha, até agora, evitado maior interferência, nós receamos que o teste real ainda esteja por vir”, escreveram os analistas Pedro Soares e Thiago Duarte, do BTG Pactual, em relatório enviado a clientes. Segundo eles, o novo presidente precisará enfrentar um dilema entre manter seu emprego e seguir as políticas da companhia, sem prejudicar o abastecimento de combustíveis no país.
A paridade com os preços internacionais é tida como fundamental para manter o abastecimento de combustíveis no país, uma vez que há importadores e refinadores privados atuando que poderiam reduzir a oferta ao mercado para evitar prejuízos.
A XP vê a mudança como negativa, já que “tal rotatividade não é saudável para nenhuma empresa”, mas a troca no comando não deve significar uma mudança na política de preços da companhia. Em relatório, os analistas Andre Vidal e Junia Gama citam o estatuto da companhia, e também a ligação de Paes de Andrade com o ministro da Economia, Paulo Guedes, que sempre se declarou contra mudanças na política de preços da Petrobras.
“A princípio, a mudança deve ter os mesmos efeitos que no comando do MME: trocam-se os chefes, mas as políticas permanecem as mesmas”, escreveram os analistas da XP, lembrando que, na nota oficial sobre a troca, a pasta finalizou dizendo que o governo “renova o seu compromisso de respeito à governança da Empresa, mantendo a observância dos preceitos normativos e legais que regem a Petrobras”.
Enquanto a política de preços não parece em risco, tendo se mantida inalterada nas últimas trocas de presidente, os analistas do Citi destacaram como negativa a inferferência estatal na companhia, que pode criar riscos sobre a continuação da sua estratégia de longo prazo.
Os analistas do BTG Pactual também mencionam a possibilidade de alterações na gestão da companhia além do novo presidente, o que poderia ser recebido negativamente pelos investidores. “A preservação da maior parte da diretora nas mudanças recentes de presidente foi uma medida muito importante para dar um senso de continuidade. Qualquer mudança nisso poderá erodir a percepção de risco ainda mais. Além disso, notamos que a nota do Ministério de Minas e Energia menciona a busca por um setor mais equilibrado, com condições necessárias para emprego e crescimento e renda. Para nós, isso soa como se o governo busque uma nova forma de mexer nas políticas da Petrobras, com a meta de impedir novos aumentos nos preços”, diz o relatório do banco.
Outra questão importante está na composição do conselho da companhia. Como oito dos 11 conselheiros foram eleitos por voto múltiplo, incluindo o presidente Jose Mauro Ferreira, será necessário que todos os assentos sejam reeleitos na assembleia extraordinária que vai decidir sobre a eleição de Paes de Andrade para o conselho da companhia.
“O mercado deve ficar atento à reformulação do conselho para entender se haverá alguma tentativa de modificar a política de preços”, escreveram os analistas Vicente Falanga e Gustavo Sadka, do Bradesco BBI.
Mesmo com as mudanças, a maior parte das casas de análise mantém uma visão otimista sobre as ações da Petrobras, com recomendação de compra. Para o J.P. Morgan, as ações da Petrobras já são descontadas em relação aos seus pares pela percepção de risco atrelado ao fato de ser uma empresa estatal. Além disso, o banco não prevê a necessidade de novos aumentos nos preços de combustível nesse ano.
A XP também manteve a recomendação de compra para as ações, justificada pelo desconto da companhia em relação às grandes petrolíferas internacionais e pelo forte fluxo de dividendos previsto para os próximos cinco anos.
O BTG é mais conservador e manteve a recomendação neutra. Embora os analistas apontem que os mecanismos de governança da companhia tenham impedido interferências importantes nos últimos anos, o anúncio do governo de ontem reforça a visão de que os papéis sofrerão volatilidade, com o alto risco sendo compensado pelo fluxo de dividendos.