Mercado energético

Vale a pena investir o FGTS na privatização da Eletrobras?

Vale a pena investir o FGTS na privatização da Eletrobras?

Começou nessa sexta-feira, 3 de junho, o prazo para que trabalhadores com carteira assinada manifestem interesse em usar recursos do FGTS para comprar ações da Eletrobras. No total, a fatia destinada a esses investidores pode somar até R$ 6 bilhões dos R$ 30 bilhões esperados na capitalização da estatal, que vai resultar na sua privatização.

A aplicação mínima é de R$ 200,00, e os investidores poderão investir no máximo 50% dos recursos do saldo. Ou seja, poderão participar da capitalização aqueles com saldo de, no mínimo, R$ 400,00.

Vale a pena investir?

Segundo o BTG Pactual, a operação pode ser atrativa pois o investidor vai trocar a renda fixa do FGTS, de 3% ao ano, pelo potencial de rentabilidade da ação da Eletrobras. “O investidor tem o potencial de enxergar retornos mais exuberantes no longo prazo, fruto da valorização dos papéis e do destravamento de processos diversos de uma empresa privada em relação a uma empresa pública”, escreveu a analista Juliana Machado, em relatório enviado a clientes.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE Minuto Mega Minuto Mega

A atratividade varia do perfil do investidor e do risco que está disposto a tomar. A analista de fundos do BTG explicou que a rentabilidade está condicionada ainda ao prazo de permanência do investidor, que deve ser de longo prazo, assim como de aspectos indiossincráticos da Eletrobras.

Esses aspectos incluem a condução da nova gestão da Eletrobras, a execução de planos de investimentos “e o risco político, considerando a incerteza a respeito da continuidade de agendas econômicas nas trocas de um governo para o outro”, segundo Machado.

Como há possibilidade de volatilidade no preço das ações da Eletrobras, principalmente por aspectos políticos já que a União vai manter uma participação relevante e terá uma “golden share” – ação com poderes especiais -, um investidor que não tenha familiaridade com renda variável ou que não tenha uma carteira diversificada poderá se sentir despreparado para trocar a renda fixa do FGTS pela alternativa colocada.

“Por outro lado, aqueles que optarem pela alternativa já dispondo de uma carteira diversificada e de olho em horizontes mais longos podem potencialmente vislumbrar retornos maiores numa fatia de recursos para os quais há pouca alternativa”, escreveu a analista do BTG Pactual. 

Ou seja, investidores com experiência em ações e que busquem retornos de longo prazo poderão arriscar retornos maiores que os oferecidos pelo FGTS. Como há poucas oportunidades de monetização do dinheiro do FGTS (financiamento imobiliário, problema grave de saúde, demissão sem justa causa e saque parcial anual), a diversificação pode ser interessante nesses casos.

Como vai funcionar o investimento

O prazo para alocação do saldo do FGTS nos fundos que poderão participar da capitalização vai de hoje até 8 de junho. No dia 9 de julho será encerrado o processo de bookbuilding, jargão do mercado financeiro para a coleta de ofertas, e o preço por ação será fixado. Se o preço por ação for superior ao piso aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que é desconhecido pelo mercado e pela própria Eletrobras, a operação vai avançar.

No caso do FGTS, o acesso à oferta deve ser feita por meio de Fundos Mútuos de Privatização, um tipo de fundo que permite acesso desses recursos a estatais em processo de privatização.

Segundo o relatório do BTG, a estrutura foi criada em 2000 e teve um papel importante na privatização da Vale, em 2002, e nas capitalizações da Petrobras nos anos de 2000 e 2010, que transformaram a companhia em uma sociedade de economia mista, com sócios privados e controle estatal.

O trabalhador que quiser participar do processo, e se enquadre nas condições mínimas, deverá ir a uma agência da Caixa ou acessar o aplicativo do FGTS para escolher uma administradora de FMP-FGTS e autorizá-la a consultar e solicitar a reserva dos recursos para efetuar a compra das ações.

Como há o limite de R$ 6 bilhões alocados ao FGTS, caso a demanda supere este montante, o valor será rateado proporcionalmente entre todos os fundos. 

O investidor terá liberdade para pedir resgate após 12 meses de aplicação, mas os recursos não poderão ser sacados, e serão revertidos ao FGTS. Eventuais dividendos pagos pela companhia serão revertidos em mais ações e alocados dentro do mesmo fundo. 

O FGTS tem retorno garantido de 3% ao ano, enquanto o investimento em ações via FMP está sujeito aos riscos inerentes do mercado, como volatilidade dos preços das ações e dos impactos causados pelos cenários macroeconômico e político na bolsa.

Quer saber mais sobre a operação? Acesse a série de podcasts A Eletrobras do futuro: a privatização explicada