Em 2016, a XP fechou uma parceria com a BBCE para lançar contratos derivativos de energia elétrica. As empresas encontraram diversos entraves para concretizar a operação, inclusive a necessidade de aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para negociações do tipo, e o negócio não prosperou. Quase seis anos depois, o primeiro contrato envolvendo uma opção de compra de energia elétrica via derivativos foi fechado pela XP, atendendo um cliente da Gold Comercializadora.
A intenção das duas casas é replicar o negócio e atrair novos agentes para o mercado de energia, principalmente players do mercado financeiro, já que no caso dos derivativos não é necessário ser um agente registrado na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
“Queremos dar aos players uma ferramenta nova, democratizar um pouco o mercado de energia trazendo financeiros e dando mais ferramentas para aqueles que já operam no mercado”, disse Marcelo Leitão, que comanda a área comercial da XP Comercializadora.
O negócio foi divulgado em primeira mão ontem, 28 de julho, pela agência Reuters, e causou repercussão no setor. Segundo Cassiano Agapito, presidente da Gold Energia, em poucas horas, mais de dez clientes procuraram a comercializadora em busca de operações semelhantes. “Esperamos que isso vai trazer uma liquidez muito grande”, disse o executivo à MegaWhat.
O contrato não foi o primeiro derivativo de energia a ser negociado, já que muitas casas têm vendido contratos a termo de energia sem entrega física, os chamados NDFs (sigla para Non-Deliverable Forwards). A opção de compra ou venda, por sua vez, é considerada ‘um passo além’ por ser um instrumento mais robusto, que exigiu inclusive um aprendizado do setor de energia, pela necessidade de assinatura de um Contrato Global de Derivativos (CGD).
Enquanto a Gold tinha como cliente a contraparte vendedora do contrato, a XP usou sua expertise financeira para precificar a opção de compra, que envolve 5 MW médios ao longo de 2023, com base no PLD, somando cerca de R$ 7,5 milhões. Os valores exatos não foram informados devido à estratégia comercial dos agentes.
A opção termina em data posterior a 4 de janeiro de 2024, quando será calculado o PLD médio de 2023, e o ativo será contabilizado e liquidado. A Gold uniu a venda da opção com uma venda de energia no mercado físico para um cliente, o que “casou os riscos”, segundo Agapito. “Com a operação, ganhamos um spread e não temos muito risco, além de abrir o leque de operações e de contrapartes”, disse o presidente da comercializadora.
O contrato foi registrado na B3, uma escolha da XP por ser uma plataforma com a qual estão “acostumados”. “O que mudou foi o ativo subjacente, no lugar de dólar, foi o PLD”, disse Leitão. Segundo ele, futuras operações registradas na BBCE não são descartadas, pelo contrário.
A intenção da XP é ser “market maker” neste segmento e usar esses primeiros negócios para atrair os demais bancos e gestoras, uma vez que estes contam com condições de dar preço à energia, e muitos não são agentes da CCEE para negociar contratos físicos.
Para a Gold, o negócio é também uma forma de ampliar sua liquidez e mitigar os riscos de contratos físicos de entrega de energia. “Acaba melhorando o nível das contrapartes que vamos acessar, com fundos multimercados, fundos de hedge, que podem operar com bons lastros financeiros”, disse Agapito. Segundo ele, a XP veio com um “espírito de inovação” que permitiu que o negócio fosse concretizado, o que deve atrair mais clientes e, consequentemente, aumentar a liquidez do mercado.
Depois dos obstáculos encontrados entre 2016 e 2017, a XP voltou a apostar no segmento de energia no ano passado, agora sob o comando de Cristian Nogueira, que acumula vasto conhecimento dos dois mundos, financeiro e de energia. Seu currículo inclui 15 anos nas mesas de energia, cambio e derivativos do BTG Pactual, 4 anos liderando a comercialização de energia do Banco Brasil Plural, e o comando da Energisa Comercializadora entre 2019 e o início do ano passado.
Agapito, por sua vez, era sócio da Coomex quando a casa foi adquirida pelo BTG Pactual em 2010, e lá permaneceu até 2016, quando saiu para se concentrar no trading de energia em casas independentes. Desde o início de 2020, é presidente da Gold, que conta com outros nomes que passaram pelo BTG, como o sócio e diretor financeiro Marcelo Ambra.