O grande desafio na geração distribuída está na expansão de projetos de geração remota compartilhada. Durante o evento Lefosse Energy Day, realizado ontem, 31 de julho, Bernardo Marangon, sócio da consultoria Exata Energia, afirmou que a partir de 2023 as mudanças do Marco Legal da Geração Distribuída vão inviabilizar muitos projetos de geração remota de grande porte, e o crescimento da categoria será puxado por projetos de remota compartilhada por muitos pequenos clientes.
“A geração compartilhada ainda é muito pequena, mas surgiu um novo tipo de player que é o comercializador de créditos, que vai ter um papel mais importante”, disse Marangon. Ele se referiu às chamadas empresas de GD por assinatura, que abrem a oportunidade para que consumidores residenciais se associem à projetos de geração distribuída, com um desconto fixo e garantido nas contas de luz.
Para Eduardo Tobias, sócio-diretor da Watt Capital, antes da publicação da Lei 14.300/2022, conhecida como Marco Legal da GD, havia incertezas sobre o futuro do modelo de negócio de GD compartilhada, mas isso foi mitigado pela legislação aprovada, o que reforça a tendência de crescimento dessas empresas.
O desafio, no caso da GD compartilhada, é na obtenção de financiamento pelas empresas que Tobias chamou de “emergentes”, as novas entrantes no mercado. Como não há contratos de longo prazo de venda dos créditos firmados, essas empresas têm dificuldades para obter capital. “Nesse nicho, elas acabam começando com full equity [capital próprio]”, disse. Os recursos de fundos de venture capital e private equity, por sua vez, acabam sendo destinados aos grandes projetos de autoconsumo remoto.
É o caso de grandes redes de varejo, por exemplo, que não podem migrar para o mercado livre por estarem em baixa tensão, mas que optam pela geração distribuída remota para baratear os custos e investir em fontes renováveis.
A Vivo, por exemplo, fez esse tipo de investimento, e tem atualmente 32 MW médios em usinas pequenas de GD operando, com contratos para chegar a 81 MW médios quando todos os projetos estiverem operacionais. “Devemos suprir 90% do nosso consumo em baixa tensão assim”, disse Caio Guimarães, diretor de Patrimônio da Telefônica Brasil, a dona da Vivo.
“O novo gerador não tem mais clientes como esse para vender a energia”, disse Marangon. Segundo ele, esses “bons offtakers” já fecharam seus contratos de autoconsumo remoto, o que justifica a aposta nas comercializadoras de crédito, que podem investir em projetos maiores reunindo uma carteira com muitos consumidores pequenos.
O próximo ano, para Marangon, será de construção de projetos cujos pareceres de acesso serão obtidos até o início de janeiro, o prazo limite da Lei 14.300 para manutenção das regras atuais. “Depois, vamos ver como será o capex, se vai reduzir ou aumentar. Temos que olhar a Selic e se vamos conseguir controlar a inflação”, disse.