Biomassa

Tereos aposta em GD para viabilizar tecnologia de biometano como combustível

Tereos aposta em GD para viabilizar tecnologia de biometano como combustível

O que levou a Tereos, gigante francesa do setor sucroalcooleiro com um faturamento anual da ordem de 5 bilhões de euros, a investir alguns milhões de reais em uma planta de 1 MW de geração distribuída no interior de São Paulo?

A companhia tem um desafio importante nos próximos anos, quando busca zerar suas emissões de gases poluentes, ao mesmo tempo em que tem uma frota, apenas no Brasil, de mais de 100 caminhões movidos a diesel. Enquanto os veículos movidos a biometano ainda são consideravelmente caros, o investimento na planta piloto de biometano de Cruz Alta será viabilizado pela geração de energia na pequena usina, enquadrada como GD.

“Estamos validando a tecnologia, para depois dar os próximos passos”, disse Everton Carpanezi, superintendente de Operações Agroindustriais da Tereos, durante evento realizado com jornalistas na unidade industrial da companhia de Cruz Alta, em Olímpia, interior de São Paulo.

Para testar a tecnologia de produção de biometano, a Tereos investiu cerca de R$ 15 milhões em uma planta para transformar a vinhaça, resíduo gerado pela destilação da cana-de-açúcar, em biogás. A tecnologia usada é da ZEG Biogás.

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Lagoa de biodigestão da vinhaça, onde é transformada em biogás
Foto: Divulgação/Tereos

Nesse primeiro momento, a planta piloto tem potencial para produzir anualmente 3 milhões de metros cúbicos de biogás ou 1,5 milhão de metros cúbicos de biometano – que resulta do processo de purificação do biogás.

Como ainda não há mercado para o biometano, a planta aproveita o biogás na geração de energia elétrica, por meio de um gerador de 1 MW de potência instalado no local – volume que poderá ser dobrado, pela capacidade de produção de biogás da unidade.

Como é um projeto relativamente pequeno em termos de geração de energia, a Tereos buscou numa parceria com a Lemon Energia a forma de acessar os pequenos consumidores. Startup que atua no mercado de geração distribuída por assinatura, ao fornecer créditos para abatimentos das contas dos consumidores conectados à sua plataforma, a Lemon está hoje conectada a 25 MW em projetos de geração de energia.

Para a Tereos, a parceria com a Lemon marca sua entrada no mercado de GD. Para a startup, essa é uma oferta adicional de energia renovável que poderá ser compartilhada com seus clientes, que terão economia na conta de luz. “Para quem produz, a Lemon se encarrega de encontrar clientes para dar vazão à energia sustentável”, disse Rafael Vignoli, CEO da Lemon Energia.

Biometano nos caminhões

A prioridade da Tereos, porém, não é crescer no mercado de GD, e sim apostar no biometano como um combustível que vai substituir o diesel no transporte de carga no país.

“Hoje, o nosso país importa 40% do diesel consumido, uma dependência muito forte de oscilações do dólar e do mercado internacional. Ao reduzir o diesel consumido pela nossa troca, vamos contribuir também com a redução do país do mercado externo”, disse Samuel Custódio, gerente de Energia da Tereos.

Para substituir toda a frota de 100 caminhões da Tereos, a companhia precisa de seis lagoas de biometano como a que foi instalada em Cruz Alta, e o local tem capacidade para um total de 14, disse Gustavo Segantini, diretor de Vendas, Marketing e Logística da companhia.

Até 2030, a Tereos pretende substituir 100% do diesel dos seus caminhões canavieiros, a fim de cumprir as metas de redução de emissões de gases causadores de efeito estufa. “Temos a visão de ter de 100 a 150 caminhões a diesel substituídos por biometano”, disse Carpanezi.

“Numa visão mais futurista, esse setor, que começou anos atrás com a produção de açúcar, sem dúvidas vai ser um setor prioritariamente produtor de energia”, disse Renato Zanetti, superintendente de Sustentabilidade da Tereos.

Economia circular

Depois de transformada em biogás ou biometano, a vinhaça tem ainda um novo destino: rica em potássio e matéria orgânica, é usada como fertilizante orgânico na produção agrícola. Assim, o conceito de economia circular nas suas atividades é reforçado.

Segundo Zanetti, toda a cana processada é aproveitada de alguma forma no negócio da Tereos: açúcar, etanol, créditos de descarbonização, energia elétrica, biogás, biometano ou fertilizantes orgânicos.

A unidade de Cruz Alta tem uma destilaria de etanol, e para cada litro produzido, são gerados 12 litros de vinhaça, posteriormente transformada em biometano ou biogás. O bagaço da cana esmagada, por sua vez, é a biomassa que alimenta a termelétrica de 25 MW instalada no local.


Termelétrica de 25 MW da Tereos na unidade de Cruz Alta
Foto: Camila Maia

A ideia, Carpanezi, é que a Tereos tenha flexibilidade para definir quais produtos e subprodutos vai extrair da matéria-prima. No futuro, caso o uso de biogás para geração de energia elétrica se mostre mais competitivo que o uso de biometano, esse poderá ser o caminho da companhia. O mesmo vale para o etanol de segunda geração, extraído de resíduos como palha e bagaço da cana. “Ele está sempre em pauta”, completou o executivo.

*A repórter viajou a Olímpia (SP) a convite da Tereos 

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