A entrada da TotalEnergies numa joint venture com a Casa dos Ventos vai dar fôlego para que o grupo invista em seu ambicioso plano de crescimento com um custo de capital menor e acesso a mais bolsos.
O negócio vai marcar mais uma virada no negócio fundado em 2007 por Mario Araripe. Inicialmente uma desenvolvedora de projetos, a Casa dos Ventos passou a investir em um portfólio próprio de geração, e agora considera até mesmo ir ao mercado para comprar projetos de renováveis.
“Não queremos ter limitação para crescer. Se fizer sentido [comprar um parque], estaremos mais capitalizados e teremos a TotalEnergies para nos apoiar. Eles não querem que limitemos o crescimento por falta de capital”, disse Lucas Araripe, diretor de Novos Negócios da Casa dos Ventos. A meta da nova empresa é atingir 12 GW em projetos renováveis até 2030.
O negócio
O acordo prevê que a TotalEnergies vai desembolsar US$ 550 milhões, equivalentes a cerca de R$ 2,92 bilhões, por uma fatia de 34% numa joint venture que será constituída com a Casa dos Ventos para desenvolver, construir e operar um portfólio de quase 6 GW em projetos. O valor pago poderá ser acrescido em US$ 30 milhões, ou R$ 159 milhões, depois da conclusão da aquisição, e a TotalEnergies poderá comprar uma fatia adicional de 15% na empresa depois de cinco anos.
A empresa vai nascer com 700 MW em projetos de geração eólica operacionais e 1 GW em construção, do qual 800 MW devem entrar em operação no próximo ano, e 200 MW em 2024, todas outorgas incentivadas, com desconto pelo uso da rede. A carteira terá ainda 4,5 GW em projetos desenvolvidos de eólica e solar fotovoltaica, cujas outorgas foram solicitadas dentro do prazo para manter o desconto pelo uso da rede. Destes, 1,5 GW estão mais maduros, alguns com uma pequena fatia vendida em leilões regulados recentes, e estão negociando máquinas e contratos de compra de energia de longo prazo (PPAs, na sigla em inglês). Os outros 3 GW aguardam a liberação das outorgas, e terão um prazo de quatro anos a partir disso para entrarem em operação.
Do total de 1,7 GW em construção ou em operação, a Comerc Energia – controladora da MegaWhat – tem participação de 20% em 1,4 GW. A joint venture, portanto, terá 80% desses projetos. Dos outros 300 MW, o grupo goiano Terral Empreendimentos detém 30% de participação.
O plano é crescer
Para a TotalEnergies, a aquisição vai acelerar sua meta de geração renovável, que visa atingir 100 GW em 2030 – a francesa já tem 12 GW em construção ou em operação.
Enquanto a nova empresa vai nascer com quase 6 GW em projetos em operação, construção ou desenvolvimento, ela terá acesso ainda a outros 6 GW no portfólio de desenvolvimento da Casa dos Ventos.
“Temos um plano muito ambicioso de crescimento, e a ideia era ter uma estrutura complementar no que temos de valor para extrair”, disse Araripe.
Para esses projetos que ficarão de fora da joint venture, a Casa dos Ventos vai priorizar a nova empresa. “Se ela não demonstrar interesse, podemos vender para outro parceiro”, explicou Araripe.
O executivo está confiante que a parceria com a TotalEnergies vai ajudar a levantar recursos para investir a um custo menor, devido ao suporte financeiro da francesa. “Eles tem mais poder de barganha com equipamentos, podemos negociar acordos mais estruturados, e ter um ganho de custo aí também”, disse Araripe.
Outra vantagem está no relacionamento da TotalEnergies com clientes. “Eles são fornecedores de gás e energia para empresas no mundo inteiro, conseguiremos usar esse relacionamento para trazer mais empresas interessadas em renováveis”, disse, lembrando ainda da questão do conhecimento da francesa sobre novas tecnologias, como hidrogênio e amonia verde.
Ainda não está definido se a joint venture vai manter o nome Casa dos Ventos. “O nome era só para eólica, hoje temos solar… Independente do negógio, já mudamos do que éramos há 15 anos, mas é um tema que vamos pensar depois”, disse Araripe.