O grupo técnico de Minas e Energia da equipe de transição de governo recebeu a lista atual do “Sim, elas existem”, com quase 400 nomes de mulheres aptas a exercer os principais cargos de liderança. O material foi entregue por Renata Isfer, ex-secretária de Petróleo, Gás e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia e co-criadora da inciativa, a Nelson Hübner, ex-ministro de Minas e Energia, ex-diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e integrante da equipe de transição.
A expectativa do projeto “Sim, elas existem” é que o novo governo tenha em mãos a lista no momento de definir os nomes técnicos que ocuparão cargos de liderança nas áreas de energia elétrica e petróleo e gás natural. Uma das maiores preocupações da iniciativa é ampliar a representatividade feminina em cargos de liderança.
Motivos para isso não faltam. A própria lista de nomes que integraram o grupo técnico da equipe de transição priorizou a participação masculina. Dos 12 integrantes do grupo, havia apenas uma mulher: a ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriard, cujo nome está incluído na última versão do “Sim, elas existem”.
No evento em que foi anunciado o nome de Fernando Haddad como ministro da Fazenda, junto com a divulgação de outros quatro nomes masculinos para fazer parte de ministérios do novo governo, no início de dezembro, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou uma participação expressiva de mulheres em seu governo. “Vai chegar uma hora que vocês vão ver mais mulheres aqui do que homens”, disse Lula, na ocasião.
Entre as principais apostas no mercado para assumir o Ministério de Minas e Energia, praticamente não há nome de mulheres. Nos bastidores, o único nome feminino comentado até o momento foi o de Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
Vale lembrar, porém, que foi justamente no primeiro governo Lula a única vez que uma mulher ocupou o Ministério de Minas e Energia, Dilma Rousseff, entre janeiro de 2003 e junho de 2005. E foi no governo de Dilma Rousseff que a Petrobras teve, pela primeira e única vez, uma presidente mulher, Maria das Graças Foster, entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2015.
Desigualdade
Integrante pela segunda vez da lista do “Sim, elas existem” e especialista em energia renovável e transição energética, com passagem por empresas como a Apple, no Vale do Silício, nos Estados Unidos, Denise Barros concorda que hoje ainda é grande a discrepância entre homens e mulheres em postos-chave em empresas privadas e empresas e órgãos da administração pública.
“No Brasil, muitos executivos homens, se questionados, afirmarão que já existe equidade de gênero no mundo corporativo. No entanto, se a mesma pergunta for feita para mulheres, a percepção é bem diferente. Essa discussão ainda precisa existir no Brasil até que de fato tenhamos um cenário igualitário para homens e mulheres”, diz Barros, que também é doutora em Economia, mestre em Administração Pública e de Empresas e engenheira de formação.
Segundo ela, nos Estados Unidos, a discussão sobre equidade para mulheres no mercado está mais endereçada do que no Brasil. “A diversidade, não apenas de gênero, mas em todas as suas formas, precisa se tornar uma meta estratégica dentro das empresas. Recentemente, eu completei o curso para Conselheiros de Administração pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), e posso afirmar que estudos comprovam que empresas inclusivas e diversas constroem legados, geram mais valor e aumentam as suas chances de sucesso e perenidade”, explica Barros, que participa de outras iniciativas como as Mulheres de Energia, no Brasil, e as Women in Cleantech and Sustainability e as Latinas in Tech, no Vale do Silício.
Modernização
Para a especialista, o setor elétrico brasileiro passou por avanços regulatórios neste ano, como a portaria 50 do Ministério de Minas e Energia, que abriu integralmente o mercado livre de energia para consumidores em alta tensão a partir de 2024, o decreto 10.946/2022, que trata do setor de eólica offshore, o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) e o marco legal da micro e minigeração distribuída (Lei 14.300/2022), entre outros.
Ela, no entanto, ressalta a necessidade de modernização do marco regulatório do mercado de energia elétrica no Brasil. “O modelo do setor elétrico atual foi discutido há 20 anos. Há uma real necessidade de modernização da estrutura regulatória para adaptação a uma realidade de hoje da indústria que não é mais aquela em que vivemos após o racionamento de 2001/2002. Naquele momento, houve a necessidade de resgatar o planejamento e garantir a oferta. E fizemos isso muito bem. Hoje, precisamos modernizar o setor, com planejamento, de forma a gerar competitividade, inovação, flexibilidade, customização, sustentabilidade, qualidade e redução de preços”, completa Barros.
(foto: Bruno Spada / MME)