Reportagem publicada hoje (26/1) pelo Valor Econômico indica que o sonho de interligação dos mercados de gás do Brasil, Argentina e Bolívia deu mais um passo esta semana com o anúncio dos presidentes brasileiro e argentino de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode ajudar a financiar a segunda etapa do gasoduto Néstor Kirchner, que vai ligar a região produtora de gás não-convencional (gás de xisto) de Vaca Muerta à grande Buenos Aires.
Esse projeto sozinho, entretanto, ainda não garante a integração e vão ser necessários mais investimentos em dutos de transporte no Brasil para fazer o gás chegar ao mercado consumidor. A conexão terrestre pode também não ser a melhor alternativa do ponto de vista econômico para o Brasil, pois existe a opção de suprimento por gás natural liquefeito (GNL), dizem especialistas do setor ouvidos pelo Valor.
A reportagem explica que hoje as malhas de gás de Brasil e Argentina são conectadas por um duto de 25 quilômetros que sai do país vizinho e chega à cidade de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, onde está uma usina termelétrica operada pela Âmbar. Esse duto é operado pela Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB), que também responde por outro duto de mesmo tamanho que conecta o Polo Petroquímico de Triunfo (RS) à capital Porto Alegre, onde termina o Gasoduto BolíviaBrasil (Gasbol). Para fechar, de fato, a conexão entre os três países, é necessário completar a integração dos dutos argentinos, além de realizar a conexão entre Uruguaiana e Porto Alegre, de 565 quilômetros.
Investir em gasoduto argentino não faz sentido econômico e ambiental, dizem especialistas
O projeto envolvendo a reserva argentina rica em gás de xisto de Vaca Muerta não é considerado econômica e ambientalmente viável para a realidade brasileira, segundo especialistas do setor ouvidos pela Folha de S. Paulo. Ainda que as intenções políticas sejam positivas dentro da diplomacia regional, as questões de ordem mais técnica, segundo especialistas em energia, não asseguram que o Brasil possa ter retornos concretos com o financiamento do projeto. “Não há nem garantia de que o gás possa chegar até aqui”, explica Rivaldo Moreira Neto, sócio da Gas Energy, consultoria especializada na área para América Latina.
A reportagem enfatiza que na Argentina, o gás é um combustível muito mais relevante do que no Brasil. Conta com um mercado amplo e estruturado e com uma rede de gasodutos extensa e densa. O gás abastece indústria e famílias, não apenas na geração de energia elétrica, mas também sustenta a calefação das residências no inverno.
“Essencialmente, todo o projeto de Vaca Muerta é voltado à Argentina, e busca atender a necessidade do país, que é muito deficitário”, diz Moreira Neto. “A gente ainda não sabe nem o volume, nem em quanto tempo o país vai conseguir exportar esse gás.”
Luiz Augusto Barroso, diretor-presidente da PSR, consultoria da área de energia, argumenta que o gás de Vaca Muerta pode ser muito barato, mas há também o gás do pré-sal e o gás boliviano, e a opção vai depender da competitividade pelo custo da entrega.
O produto argentino perde muitos pontos quando se avalia a questão ambiental. “Gás ou petróleo de xisto são as piores escolhas em qualquer lugar do mundo”, diz o físico Shigueo Watanabe Júnior, especialista em mudanças climáticas e energia. O xisto argiloso é um tipo de rocha sedimentar, e para separar o petróleo ou o gás dessa estrutura é preciso aplicar água com uma alta pressão. Além desse gasto elevado de água, a pressão em si afeta o solo de diferentes maneiras.
Empresas de EUA e Japão planejam fundo bilionário conjunto para investir em descarbonização
Uma empresa de investimentos dos Estados Unidos planeja trabalhar com o Sumitomo Mitsui Trust Bank para estabelecer um fundo multibilionário para os esforços japoneses de descarbonização até 2024. “O Japão é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo e a descarbonização é um desafio. Grandes investimentos serão necessários para alcançar a descarbonização no futuro próximo”, disse Doug Kimmelman, sócio sênior e fundador da Energy Capital Partners.
Além das instalações de energia renovável, serão feitos investimentos em empresas com tecnologias que podem levar à descarbonização, como produtores de baterias de armazenamento e combustíveis renováveis. A Energy Capital levantará fundos de investidores institucionais estrangeiros, bem como investidores no Japão. O Sumitomo Mitsui Trust Bank coordenará com os investidores japoneses. (Por Nikkei Asia – Valor – Tóquio)
Setor químico vê corrida global por recursos para investimento “verde”
O Valor Econômico informa que o Brasil corre o risco de ficar para trás na corrida global por investimentos “verdes”, aqueles em linha com a transição para a bioeconomia, apesar das vantagens comparativas de que dispõe.
A disputa por recursos para essa finalidade está mais acirrada e estruturada, segundo representantes da indústria química brasileira. Para não perder relevância e permanecer no jogo, hoje alimentado por programas de estímulo à produção sustentável em grandes potências, o setor está buscando, junto ao governo, a elaboração de um plano com foco em reindustrialização, incluindo acesso a matéria-prima a preços competitivos, estímulos à formação bruta de capital e oferta de crédito, que leve em consideração o novo contexto mundial.
A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) argumenta que o Brasil tem base industrial instalada para a produção de químicos e algumas vantagens importantes, como matriz energética mais sustentável e limpa, biodiversidade e recursos hídricos abundantes, que poderiam servir de atrativos a novos investimentos com foco na redução dos impactos climáticos e na economia fundamentalmente circular e sustentável.
PANORAMA DA MÍDIA
Inquérito da Polícia Federal (PF) vai apurar se houve genocídio contra o povo ianomâmi, na Amazônia. Esse é o principal destaque da edição de hoje (26/1) dos jornais O Globo e Folha de S. Paulo.
A investigação da PF, determinada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, vai se concentrar na apuração de responsabilidades de garimpeiros, operadores da logística do garimpo, coordenadores de saúde indígena e agentes políticos.
O inquérito foi aberto e deve ser conduzido por policiais que atuam na superintendência da PF em Roraima, onde fica a maior parte da terra indígena e onde o garimpo ilegal mobiliza milhares de invasores no território tradicional. (Folha de S. Paulo)
As condições degradantes vividas pelos ianomâmis podem configurar crime de genocídio, explicam juristas. No entanto, a tipificação penal só será concreta se ficar provado que houve uma atuação deliberada para que a situação chegasse a esse ponto, inclusive por omissão. A polícia terá que apurar quem era responsável por cada ato que tenha resultado na crise humanitária. (O Globo)
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Os jornais O Estado de S. Paulo e Valor Econômico trazem a crise do grupo Americanas como principal destaque da edição desta quinta-feira (26/1).
Grandes bancos brasileiros começaram a se movimentar na Justiça para assegurar o pagamento de créditos pelas Americanas. Do total de R$ 41,23 bilhões em dívidas, as instituições financeiras e investidores têm R$ 35,6 bilhões a receber. O Bradesco é o maior credor, com R$ 4,8 bilhões, seguido por Santander (R$ 3,7 bilhões), BTG Pactual (R$ 3,5 bilhões) e BV (R$ 3,3 bilhões). Itaú Unibanco tem R$ 2,9 bilhões a receber e Safra, R$ 2,5 bilhões. Os valores foram divulgados pela própria companhia e não foram confirmados pelas instituições. (Valor Econômico)
A batalha jurídica entre os principais acionistas da Americanas e seus credores ganhou força com a tentativa dos bancos de responsabilizar diretamente o trio de acionistas Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira pelo rombo de caixa da varejista – que ontem (25/1) entrou com pedido de extensão de concordata nos Estados Unidos. (O Estado de S. Paulo)