Um dos setores mais antigos do Brasil, o de petróleo, ainda segue a passos lentos quando o assunto é a paridade de gênero. Até 2022, cerca de 14.500 mulheres ocupavam cargos nos setores de petróleo e gás no Brasil – representando apenas 16,5% do total de trabalhadores do país. E o cenário nacional é parecido com o perfil de funcionários da Petrobras, que conta com cerca de 7.670 petroleiras, ou 17% da força de trabalho da empresa.
O levantamento é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/ subseção Federação Única dos Petroleiros — FUP), com base em dados de relatório de sustentabilidade da companhia.
“A presença feminina na Petrobras cresceu entre 2000 e 2012, passando de 12% para 17%. Mas, desde 2012, o percentual de mulheres na companhia ficou estagnado”, diz o pesquisador do Dieese/ FUP, Cloviomar Cararine.
Segundo a pesquisa, a baixa participação também é vista nos cargos de gestão, com 19,4% das cadeiras sendo ocupadas por mulheres. Além disso, ao realizar um corte estatístico do perfil étnico-racial das mulheres na Petrobras, a análise aponta que trabalhadoras pretas representam 0,04% do total de gerentes da empresa.
A pesquisa do Dieese/FUP revela ainda que, em todas as funções exercidas na estatal, as mulheres recebem menos do que os homens. Nos cargos de nível médio elas ganham, em média, 77% de uma remuneração masculina, exercendo a mesma atividade. Quando se trata de nível superior, esta relação é melhor, chegando a 92% da remuneração dos homens.
Como principal representante da indústria de óleo e gás do Brasil, o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) tem, entre seus 125 empregados, 75 funcionárias mulheres, o que corresponde a 60% do total. A mesma proporção, de 60%, se repete nos cargos de liderança.
“A transição energética somente ocorrerá se contar com a participação de profissionais dos grupos minorizados, entre eles o das mulheres. Nesse novo mundo, a diversidade é uma imposição. Ainda há desafios, mas deve partir da própria indústria o esforço de acompanhar e liderar as transformações do mercado de trabalho”, afirma a diretora executiva Corporativa do IBP, Fernanda Delgado, conhecida com uma liderança no setor na defesa das mulheres na indústria de óleo e gás.
Segundo a diretora do IBP, a indústria está atenta a todos os grupos minorizados, que incluem, além das mulheres, as pessoas pretas, LGBTQIA+, com deficiência, entre outros.
Para auxiliar as empresas em seus esforços de inclusão das mulheres, o IBP oferece o ‘Programa de Mentoria de Liderança Feminina na Indústria de Óleo e Gás’, que tem como foco o desenvolvimento de competências técnicas e de habilidades comportamentais e socioeconômico das mulheres do setor.
‘Elas lideram o setor de óleo e gás’
A Ocyan, antiga Odebrecht Óleo e Gás, conseguiu aumentar a participação das mulheres em seu quadro de funcionários de 19% para 32%, entre 2019 e 2022. O crescimento é justificado pela companhia como resultado da criação de um programa de diversidade e inclusão interno.
Hoje, as mulheres ocupam praticamente um terço dos cargos de liderança da empresa, com presença tanto em plataformas onshore quanto em offshore.
Como signatária do Movimento Elas Lideram 2030 da ONU, a Ocyan tem o compromisso de elevar esse índice a 50% até o fim da década. Neste ano, a companhia se associou ao Instituto Mulheres em Operação, que integra e apoia associados parceiros a inspirar e preparar as mulheres de áreas de operações a assumirem posições de liderança.
Entre as líderes da petroleira, está a Ana Paula Santana, à frente do Grupo de Afinidade de Equidade de Gênero na Ocyan, assistente de gerente de sonda de perfuração ODN II desde agosto de 2018 e uma das chefes do projeto.
“Uma mulher em cargo de liderança funciona como um horizonte, um espaço seguro para tirar dúvidas, para conversar, ajudar a se posicionar. Isso faz falta e tende a mudar o mercado. É uma escada longa que estamos subindo degrau por degrau. O trabalho de mentoria e troca de experiências é fundamental para ajudar as mulheres a não ver limites para suas carreiras”, comenta Santana.
A busca por paridade em cargos de chefia por meio de iniciativas internas também é vista na TotalEnergies do Brasil. A companhia conta com a participação feminina em 45% dos cargos de direção, sendo que 49% do quadro de funcionários é ocupado por elas.
Segundo a TotalEnergies, o princípio da igualdade de gênero é promovido por meio de uma política global de diversidade, metas quantitativas definidas pela gestão executiva, ações de conscientização, treinamento de seus funcionários e iniciativas de qualidade de vida.
“A Política de Diversidade e Inclusão é projetada para garantir que tanto homens como mulheres, de todas as nacionalidades, desfrutem das mesmas oportunidades de carreira até os mais altos níveis de gestão”, afirma a petroleira.
Uma de suas metas globais é a de aumentar o número de mulheres nos cargos de liderança e nas atividades técnicas e operacionais. Até 2025, 30% das posições executivas devem ser ocupadas por mulheres.
Eduarda Pina, diretora de Negócios, Desenvolvimento e Geociências Brasil na TotalEnergies EP Brasil, lidera uma equipe multidisciplinar de 50 funcionários na gestão do portfólio de ativos não operados no Brasil (incluindo os campos do pré-sal de Libra, Iara e Sépia). Atualmente estão sob a sua liderança as equipes de geociências, operação e desenvolvimento, joint venture e Comercial da companhia.
“Promover a Inclusão implica em ir além da mera promoção da diversidade e em criar condições que permitam que cada indivíduo e colaborador possa expressar a sua personalidade, talento, ideias e energia”, disse a diretora da TotalEnergies.
Ocupando a gerência de Recursos Humanos da ExxonMobil no Brasil, Colômbia e Peru, Samantha Franco tem entre as suas principais atividades a própria gestão da diversidade, coordenando ações de efetividade organizacional, programa de desenvolvimento de carreira e suporte às iniciativas de bem-estar e inclusão.
No Brasil, a empresa conta com uma equipe com mais de 860 mulheres. A diversidade e a inclusão são definidas pela ExxonMobil como um dos seus pilares e, hoje, na 45% dos cargos com poder de tomadas de decisão são ocupados por mulheres.
A empresa tem diversas ações para manter ou aumentar a representatividade na companhia, entre elas, o Comitê WIN composto por um grupo de gêneros distintos que trabalham em diferentes iniciativas para apoiar o desenvolvimento de mulheres na companhia.
Os planos são focados em três áreas: família – ações para das suporte às mulheres e suas famílias incluindo palestras voltadas a temas diversos; mentoria – ressalta como podem Estruturar, Colaborar, Influenciar e Realizar; e o Science, Technology, Engineering and Mathematics (Stem) – focado em inspirar, atrair e reter mulheres na área de tecnologia.
Samantha Franco destaca que a participação dos homens nos eventos do WIN “é incentivada como uma forma de ampliar os horizontes para os desafios da mulher no mercado de trabalho e ampliar a rede de aliados”.
Na Gás Natural Açu (GNA), joint venture formada pela Prumo Logística, bp, Siemens e Spic Brasil, as mulheres lideram 33% dos cargos e representam 50% do quadro de funcionários.
A empresa desenvolveu programas para apoiar a promoção da diversidade, entre eles está a qualificação profissional de mulheres para vagas na própria companhia. A segunda edição do programa destinou 25% das 448 vagas oferecidas nos cursos de Solda, Elétrica, mecânica e Logística às mulheres.
Jossimari Viana, moradora de São João da Barra, no Rio de Janeiro, estava desempregada há cinco anos e ao saber de oferta de vagas para o programa de qualificação profissional da GNA, que é gratuito, decidiu se inscrever.
“Nesse dia, meu marido não queria que eu fosse à palestra, mas fui mesmo assim. Me graduei em Gestão de Recursos Humanos e, hoje, trabalho na GNA, na área Administrativa”, diz ela.
Programas de combate à violência de gênero e de empreendedorismo também estão na lista de ações desenvolvidas pela companhia para acolhimento, tolerância zero ao assédio e oficinas de empregabilidade.
“O setor elétrico ainda é um ambiente majoritariamente masculino e, é por isso, que desde o início de nossas atividades, desenvolvemos ações que buscam ampliar e incentivar a diversidade e a equidade de oportunidades no mercado de trabalho. Com nossos programas de mentoria feminina, qualificação profissional e empreendedorismo, fomentamos a diversidade e a inclusão social, ‘na base’, bem como em cargos de liderança”, afirma Maisa Resende, Head de RH e Comunicação na GNA.