Considerado um dos setores mais difíceis de descarbonização, a indústria do aço demanda políticas públicas e investimentos adicionais para aumentar o uso das fontes renováveis e desenvolver a infraestrutura necessária para a produção de hidrogênio e de transporte e armazenamento de dióxido de carbono. O desafio é apontado pelo Atlas de Eficiência Energética do Brasil, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em parceria com Agência Internacional de Energia (IEA na sigla em inglês).
Para isso, os órgãos sugerem a adoção de um pacote de política de eficiência energética para ajudar a indústria na transição energética, que passa por três pilares: regulação, informação e investimentos.
No documento, as entidades afirmam que o acesso a linhas de financiamento no Brasil e até internacionais, provenientes dos setores públicos e privados, são imprescindíveis para a descarbonização do setor, visto que os valores de investimentos na siderurgia brasileira dependerão do desenvolvimento de tecnologias disruptivas para a produção de aço com baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE).
Em relação às linhas existentes, a EPE e a IEA defendem que o Brasil poderia reforçá-las para garantir a competitividade na transição de ativos para um cenário de baixa emissão de GEE. Para ajudar os investimentos no setor, as entidades apontam a aplicação de incentivos preferenciais vinculados ao comércio de carbono, medidas baseadas em impostos, auditorias energéticas gratuitas ou subsidiadas e políticas para fomentar empresas de serviços energéticos.
No quesito regulamentação, a EPE e a IEA defendem o uso de padrões mínimos de desempenho energético para equipamentos-chave, como motores, e a adoção de uma normatização de redução do uso de energia além de áreas alvo, como pesquisa e desenvolvimento, auditoria energética, entre outras.
Indicadores de benchmarking e outras formas de dados detalhados para fácil acesso do governo também é recomendado. As informações compartilhadas são vistas pela agência e pela EPE como uma forma de estabelecer, a partir da comparação com empresas do mesmo setor, as áreas-chave de intervenção. O uso de tecnologias digitais e a disseminação de informações sobre práticas que melhoraram a eficiência enérgica das companhias siderúrgicas também são sugestões do documento.
Outras recomendações como expansão da colaboração internacional, adoção de políticas de redução de CO2 transacional. Gerenciamento de ativos existentes e investimentos de curto prazo, aumento de incentivos em P&D e em linhas de subsídios para adoção de tecnologias de baixo carbono também são apresentadas pelas entidades.
Carbono na siderurgia
A prática de captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS) concentra-se em novos e lucrativos usos para esse carbono, passando desde a construção de equipamentos até uma nova queima como combustível, conforme análise do atlas. Para a siderurgia, a prática é complexa e está associada aos processos de fabricação de aço convencional, modificado ou redesenhado de processos para diminuir as emissões.
Segundo o documento, outros aspectos que dificultam o CCUS no setor estão relacionados às questões locais, onde se faz necessário um solo poroso e com abertura de camada impermeável que impeça a contaminação.
“Uma análise direta da CCUS na siderurgia brasileira deverá obviamente levar em grande conta os aspectos locais, razão pela qual as empresas ainda não se manifestaram comprometidas com a implantação de tal tecnologia no país”, diz o atlas.