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Vestas defende política industrial verde e alerta para problemas na cadeia de fornecedores das eólicas

Prestes a completar 10 GW em projetos para sua turbina V150 no Brasil, a fabricante dinamarquesa de aerogeradores Vestas ainda tem a fábrica cheia por "uns bons anos", mas vê com preocupação a falta de crescimento da demanda por nova energia no país. Para Eric Gomes, vice-presidente de Vendas da Vestas no Brasil, o momento é desafiador, mas cria oportunidades para o setor trabalhar junto ao governo para criar mecanismos que estimulem a economia verde, como financiamentos sustentáveis mais competitivos.

Eólica Vestas/ Crédito: Peter Dazgatz (pixabay)
Eólica Vestas - Crédito: Peter Dazgatz (pixabay)

Prestes a completar 10 GW em projetos para sua turbina V150 no Brasil, a fabricante dinamarquesa de aerogeradores Vestas ainda tem a fábrica cheia por “uns bons anos”, mas vê com preocupação a falta de crescimento da demanda por nova energia no país.

Para Eric Gomes, vice-presidente de Vendas da Vestas no Brasil, o momento é desafiador, mas cria oportunidades para o setor trabalhar junto ao governo para criar mecanismos que estimulem a economia verde, como financiamentos sustentáveis mais competitivos.

“A reforma tributária é imperativa para trazer melhora de eficiência e corrigir assimetrias que existem no Brasil na questão tributária. O fabricante que produz aqui morre com impostos na cadeia de fornecimento”, explicou Gomes.

A companhia aposta em uma “política industrial verde mais robusta”, que deve ser uma das prioridades do novo Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) que o governo está elaborando, como uma saída para sua cadeia de fornecedores. Isso porque, apesar de a Vestas estar com fila de encomendas de aerogeradores para os próximos anos, o cenário não é o mesmo enfrentado por suas concorrentes. Até agora, a GE decidiu paralisar vendas de aerogeradores fabricados no Brasil, e a Siemens Gamesa recentemente informou que iria hibernar a fábrica por um tempo.

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“Também esperamos uma melhoria da competitividade do financiamento pelo BNDES”, disse Gomes. Segundo ele, essa nova política industrial deve ajudar a “perenizar” o ciclo das renováveis, mesmo depois do fim do desconto pelo uso da rede para as fontes incentivadas, que tem motivado a chamada “corrida do ouro” dos projetos.

Para o executivo, a conjuntura da corrida do ouro não é preocupante pois o papel das renováveis, sobretudo da fonte eólica, é “inquestionável como política industrial e de desenvolvimento econômico social”.

“Entendemos que depois do desconto do fio virão outras fronteiras que vão manter os investimentos, como por exemplo o hidrogênio verde. O Brasil tem tudo para ser protagonista, acreditamos nisso”, disse, completando que a companhia tem observado muitos de seus clientes fechando acordos para estudar a tecnologia.

Outro obstáculo, além do fim do desconto pelo fio, é o cenário de falta de crescimento da carga e a manutenção dos preços de energia no piso. “Se a carga não cresce, o movimento de migração de consumidores para o mercado livre pode bater no teto”, disse Gomes. Segundo ele, isso tem afetado as decisões de alguns de seus clientes, mas o negócio da Vestas no Brasil é de longo prazo, entendendo que setor já passou por “altos e baixos” nos últimos 15 anos.

Segundo Gomes, por ser uma multinacional com mais de 164 GW em turbinas eólicas instaladas em 88 países, a companhia tem “lastro” para resistir em momentos adversos, como aconteceu entre 2016 e 2017, quando leilões foram cancelados e não havia previsibilidade sobre a demanda por novos empreendimentos de geração eólica.

Desde então, o setor se reinventou e viu no mercado livre a alternativa para seguir crescendo, com contratos de longo prazo firmados com grandes consumidores que ou migraram do mercado cativo ou substituíram a energia convencional pela incentivada, de olho no desconto pelo uso do fio mas também na certificação renovável.

Foi nessa época, em 2018, que a Vestas apostou alto e lançou a V150 no Brasil, inicialmente com 4,2 MW de capacidade. Hoje, a Vestas já entregou mais de 5 GW nas turbinas dessa linha, que tiveram um “upgrade” em 2020 e passaram a gerar 4,5 MW, além de cerca de 4,8 GW em projetos na carteira que serão entregues nos próximos anos.

“Foi uma tecnologia que se mostrou vencedora no Brasil, muito versátil aos diferentes perfis de ventos que temos no território. O conteúdo local, que é uma alavanca para desenvolver o mercado, impõe desafios, como custos maiores. Mitigamos isso criando escala, conseguimos com a V150”, disse Gomes.

Segundo ele, sem a escala, o conteúdo local impede uma eficiência maior nos custos, e isso foi obtido com investimentos e economia de escala em toda a cadeia de fornecedores. A empresa tem, por exemplo, pelo menos dois fornecedores para cada componente, e ocupa um espaço que já foi de outras fabricantes que suspenderam a produção ou deixaram o Brasil.

A companhia não tem planos de apostar numa nova turbina de maior porte no Brasil, pelo menos no curto prazo. Para Gomes, um dos acertos da estratégia da Vestas no país foi “resistir à tentação” de investir em aerogeradores de maior potência, o que concorrentes fizeram e não deu certo. “Resistimos olhando a questão do conteúdo local e do risco da cadeia, e entendemos que a decisão mais acertada era desenvolver ainda mais a cadeia de V150”, explicou.

(Atualizado em 25/05/2023, às 14h)

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