O leilão de transmissão desta sexta-feira, 30 de junho, foi marcado pela participação mais cautelosa dos tradicionais players do setor, que arremataram a maior parte dos lotes oferecidos. A exceção ficou para o Consórcio Gênesis, liderado pela empresa Best Car, que levou dois lances com os deságios mais agressivos do dia.
Em entrevista coletiva concedida depois da disputa, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, afirmou que a presença do grupo desconhecido no setor elétrico não preocupa, pois há exigências do edital que dão segurança aos contratos.
O diretor Fernando Mosna, relator do processo do leilão na Aneel, ainda lembrou que a agência alterou a exigência de aporte de garantia a depender do deságio apresentado. Para deságios até 50%, o aporte é de 5%; entre 50% e 60%, o aporte sobe para 7,5%; e para deságios acima de 60%, o aporte é de 10%. “A agência já tem toda a expertise de fazer a modelagem do leilão”, afirmou.
O Consórcio Genesis, que tem na sua composição a Entec Empreendimentos, com 7,48% de participação, e a The Best Car Transportes de Cargas Nacionais e Internacionais, com 92,52%, levou o lote 1, ao oferecer uma Receita Anual Permitida (RAP) de R$ 174 milhões, deságio de 66,18%.
O investimento projetado é da ordem de R$ 3,15 bilhões. Além disso, o mesmo grupo arrematou o lote 8, com deságio de 55,35%, se comprometendo com o investimento estimado em R$ 260 milhões.
Denis Rildon, que se identificou como CEO “do grupo”, afirmou que a empresa tem “conhecimento muito vasto nesse segmento” e afirmou que a decisão pela composição do consórcio refletiu as condições do edital.
“A execução será cumprida, tão boa e tão séria quanto a das empresas que já estão aqui há muito tempo”, disse.
Questionado sobre a origem dos recursos para fazer frente aos investimentos bilionários, Rildon disse que não iria revelar de onde virá o capital, mas afirmou que isso foi resolvido antes da participação no leilão. “Temos representantes em alguns países e inclusive fechamos o acordo na última feira que aconteceu há pouco tempo, onde decidimos pelo valor financeiro, em Indianápolis, nos Estados Unidos”, contou.
Rildon não disse onde é a sede da empresa, mas afirmou que há escritórios em São Paulo e nas regiões Nordeste e Norte do país.
Sobre a origem da empresa, Rildon citou passagens bíblicas, mas deu poucos detalhes sobre a sua composição acionária e a atividade do grupo. “Gênesis vem da passagem bíblica, de Deus que criou todas as coisas. No princípio, não existia nada, então Deus criou a luz e achou boa a luz”, disse.
Além do Consórcio Gênesis, quem também levou dois lotes na disputa foi a ISA Cteep, tradicional empresa de transmissão de energia. Com os Lotes 7 e 9, a empresa se comprometeu com investimentos da ordem de 2,4 bilhões, e teve deságios menos expressivos, de 41,81% e 50,36%, respectivamente.
“Percebi que, via de regra, a maior parte dos atores, principalmente os que conhecem o setor, trabalharam com racionalidade. Alguns já tinham ouvido falar que esse é um leilão difícil, com mega projetos, e que têm uma série de riscos envolvidos”, disse Rui Chammas, presidente da ISA Cteep.
Segundo ele, os deságios resultam da busca da melhor solução para a relação de dívida e equity, além da otimização do capex e a antecipação da conclusão das obras.
E ainda que exista dúvida sobre a taxa de juros, a tendência é de queda da curva futura, e isso vai possibilitar que as captações para execução dos investimentos sejam adequadas, disse Chammas.
O presidente da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini, também demonstrou preocupação em relação à agressividade de alguns investidores no leilão. “Nós ganhamos o lote 5 com uma proposta muito bem trabalhada, com base em propostas comerciais e cronogramas muito bem definidos pela nossa engenharia”, disse ele.
A Engie participou de quase todos os lotes, mas levou apenas o 5, que envolve investimentos de R$ 2,66 bilhões, com uma oferta de deságio de 42,8% – o segundo menor do dia, só perdendo para o deságio de 41,81% da proposta vencedora da ISA Cteep no lote 7.
Segundo Sattamini, as taxas de juros já começaram a ceder, mesmo sem a redução da Selic ter se concretizado. “As taxas de longo prazo dos papéis e o risco comercial, que estava muito elevado, começaram a reduzir”, disse.
Veja os lotes e demais lances do leilão: