O descomissionamento ou a repotencialização de usinas eólicas onshore devem ganhar cada vez mais espaço nos próximos anos, quando os primeiros parques deste tipo no Brasil completarão duas décadas – prazo considerado limite da vida útil destes projetos. Esta é a opinião do CEO da Eolus Consultoria, Rafael Valverde, e da gerente de Assuntos Regulatórios da AES Brasil, Francine Martins Pisni, que participaram de um webinar de aquecimento do Brasil WindPower 2023, realizado nesta terça-feira, 25 de julho, com organização do grupo Canal Energia e Informa Markets.
“É algo que já está sendo mapeado pelas empresas, que em dois ou três anos este tema [descomissionamento de eólicas onshore] vai ter uma importância muito grande. É uma boa oportunidade”, disse o CEO da Eolus Consultoria, Rafael Valverde. Para ele, o descomissionamento requer desenvolvimento tecnológico e novas prestações de serviço, em um projeto que pode ser mais complexo que a própria montagem dos parques.
A urgência do tema é compartilhada pela gerente de Assuntos Regulatórios da AES, Francine Martins Pisni. “Precisamos nos antecipar para a desativação desses projetos que estão chegando ao fim de seu ciclo de vida”, disse ela. A executiva acredita que é importante o Brasil pesquisar na experiência internacional sobre erros e acertos de descomissionamentos, para adaptar as melhores práticas ao contexto nacional.
Desafios na transmissão e na criação de demanda
Os especialistas discutiram ainda a necessidade de criação de demanda para viabilizar novos projetos de geração da fonte e os gargalos na transmissão dessa energia.
Para Francine Pisni, a falta de uma infraestrutura de transmissão mais robusta afeta negativamente não apenas a atratividade de novos projetos de eólicas onshore, mas também os projetos já existentes, por conta do processo de constrained-off causado pela dificuldade de escoamento da energia produzida.
Ela reconhece que a solução para este problema pode vir em médio ou longo prazo, a partir da infraestrutura planejada com os leilões de transmissão. Entretanto, o período de espera até que a malha esteja pronta para uso desanima. “Nosso desafio é sobreviver até lá”, complementou Rafael Valverde.
O crescimento econômico lento é outro desafio apontado pelos especialistas, já que não cria a demanda necessária para viabilizar novos projetos. “Não há ausência de investidores, prova disso é nosso volume de outorgas. É uma sinalização de que os investidores estão interessados no mercado brasileiro. Mas não adianta ter recurso se não tem demanda”, contextualizou Valverde.
A solução para a geração de demanda, segundo os especialistas, pode estar em inovações como o hidrogênio e a mobilidade elétrica. Em ambos os casos, é preciso regulação. “Precisamos trazer os sinais corretos de médio-longo prazo para que o setor possa se estruturar”, disse Pisni. “Nós já somos exportadores de energia no cone sul, e o Brasil tem condições de ser um exportador global de energia global. Isso depende de sinergia política, de um plano de desenvolvimento com metas claras”, complementou Valverde.