O Brasil precisa entender os subsídios do Inflation Reduction Act (IRA) dos Estados Unidos para não ficar ‘apenas’ assinando memorandos de entendimento (MoU) relacionados a produção de amônia e fertilizantes com hidrogênio, perdendo a oportunidade de ser líder na transição energética. A avaliação é do vice-presidente da Yara Brasil Fertilizantes, Daniel Hubner.
“É importante entender o IRA ou a gente vai ficar assinando uma série de acordos sem conseguir tirar os projetos do papel. [O subsídio norte-americano] é extremamente competitivo e está acelerando a transição energética por lá. No fundo, é essa a análise que as empresas vão fazer entre montar uma empresa greenfield no Brasil ou investir nos EUA e importar fertilizantes”, disse o executivo nesta terça-feira, 5 de setembro, durante participação na audiência da Comissão de Transição Energética da Câmara dos Deputados sobre a interação entre as cadeias de produção dos fertilizantes e do hidrogênio.
Segundo Hubner, a amônia está chegando ao Brasil à US$ 300, enquanto com o IRA, o governo Biden está oferecendo US$ 140 dólares de subsídios por tonelada de amônia de baixo carbono produzida, o que fará com que o produto tenha um custo de US$ 80 dólares, mesmo com os custos de captura e armazenamento de carbono.
No debate, o vice-presidente da Yara Brasil destacou para os deputados que está discrepância nos preços levou a empresa a investir cerca de US$ 3 bilhões em duas plantas de amônia de baixo carbono nos Estados Unidos.
Importando carbono
Ainda na audiência, o executivo aproveitou para falar que o Brasil está importando carbono de países como China e Rússia ao manter sua dependência de fertilizantes importados, e que respondem, atualmente, a 85% da necessidade do país. De acordo com o vice-presidente da Yara Brasil Fertilizantes, a China e a Rússia, dois dos principais fornecedores do insumo ao país, respondem, respectivamente, a 10,4 kg de dióxido de carbono equivalente por kg de nitrogênio (kgCO2e/kgN) e 7,2 kgCO2e/kgN.
“Temos fertilizantes entrando no Brasil com praticamente oito ou nove vezes mais pegada de carbono que o fertilizante fabricado a partir de biometano. Hoje, a gente concorre de forma assimétrica e, talvez, sofrendo um dumping ambiental, porque recebemos fertilizantes com altíssima pegada de carbono e que concorrem exatamente da mesma forma no mercado brasileiro”, disse Hubner.
Segundo o executivo, se o Brasil cobrasse um imposto pela diferença da intensidade de carbono, o nitrato de amônia vindo da China teria que pagar um pedágio de US$ 300 pelo seu conteúdo de carbono, considerando a referência do mercado internacional de US$ 100 por tonelada de carbono.
Em 2021, a Yara Brasil assinou um contrato de cinco anos com a Raízen para a compra de biometano, produzido a partir de resíduos do processo de produção de etanol, vinhaça e torta de filtro.
O biocombustível deve substituir gradativamente o uso de gás natural, reduzindo em cerca de 80% as emissões do complexo da companhia em Cubatão, São Paulo. A planta, que deve entrar em operação a partir do primeiro semestre de 2024, tem como meta a produção diária de 20 mil m³ de amônia renovável.
Desafio do hidrogênio no Brasil
O debate na Câmara foi iniciado por Rafael Cavalcanti, CEO da Quinto Energy, que destacou que um dos entraves da cadeia de hidrogênio no Brasil é o custo com equipamento.
“O insumo é abundante e é grátis. Ele depende do preço do produto e a nossa grande missão é encontrar as formas de trazer equipamentos mais baratos para o Brasil”, afirmou Cavalcanti.
Para o executivo, políticas de estímulos podem ajudar a reduzir o custo de equipamentos, como torres eólicas e eletrolisadores para baratear a produção de hidrogênio e amônia verde, e consequentemente, dar previsibilidade nos preços para o agronegócio, que seria um dos principais beneficiados pelo insumo, podendo exportar produtos com menor pegada de carbono.