Mais do que uma matriz energética limpa, para reduzir as emissões e frear o aquecimento global, será necessário investir em novas tecnologias que, com o tempo, tendem a se tornar mais acessíveis e competitivas até mesmo em países em desenvolvimento. Essa é a aposta da gigante industrial Honeywell, que nos últimos anos passou a incluir em seu portfólio ofertas voltadas para novas tecnologias, como hidrogênio renovável, captura de carbono, baterias para armazenamento de energia e combustíveis renováveis, como o SAF (sigla em inglês para combustível sustentável de aviação) e o HVO, mais conhecido como diesel verde.
Além de perseguir metas ambiciosas de redução das suas emissões, que devem ser zeradas nos escopos 1 e 2 até 2035, a companhia está investindo em inovação para disponibilizar soluções aos seus clientes corporativos. Segundo a empresa, cerca de 60% da receita obtida em 2022 veio de áreas com alguma relação com metas de ESG.
Para atingir uma transição energética “justa”, ou seja, com a participação também de economias emergentes, a Honeywell aposta na inovação como uma forma de baratear essas tecnologias. “É como aconteceu com os aparelhos celulares. Quando foram lançados, eram uma coisa de país rico, mas o preço caiu tanto que em muitas economias emergentes as pessoas passaram a usar apenas isso, e nem usam linhas fixas mais”, disse Gavin Towler, diretor de Sustentabilidade da Honeywell.
Segundo ele, nesses mercados ainda em fase de industrialização, total ou parcial, pode não fazer sentido construir quilômetros e quilômetros de linhas novas de transmissão, sendo mais eficiente investir em micro grids associados à geração eólica ou solar, por exemplo. “Se o micro grid for totalmente renovável, essa região será uma zona ‘net zero’, vão atingir isso antes de todos os outros países desenvolvidos que ainda estão fechando as usinas termelétricas a carvão”, completou Towler.
A América Latina desponta na estratégia da companhia, principalmente o Brasil, devido às possibilidades de desenvolvimento de projetos futuros relacionados ao fornecimento de energia renovável e de combustíveis sustentáveis.
Nos Estados Unidos, o Inflation Reduction Act (IRA), programa que tem como um dos pilares incentivos na aceleração da transmissão energética da ordem de US$ 500 bilhões, está ajudando a acelerar os investimentos em novas tecnologias, enquanto o Green Deal da União Europeia tem exercido papel semelhante, com subsídios e incentivos ao setor.
“A América Latina possui recursos renováveis abundantes, como a energia solar, a eólica e a biomassa, embora possa não ter o mesmo nível de subsídios que os Estados Unidos e a Europa. Isto oferece oportunidades significativas para o crescimento da energia limpa. A Honeywell está comprometida em adaptar seus produtos e soluções para atender às demandas específicas do mercado local e em estabelecer parcerias estratégicas com empresas e governos da região”, disse Manuel Macedo, presidente e CEO da Honeywell América Latina.
Por ter recursos renováveis abundantes, mesmo sem subsídios, o Brasil oferece oportunidades significativas para o crescimento de energia limpa, e a companhia americana está comprometida em adaptar seus produtos e soluções para atender às demandas especificas do mercado local, além de estabelecer parcerias estratégias com empresas e governos da região, de acordo com Macedo.
Segundo Towler, mesmo sem espaço para programas de incentivos, estão acontecendo avanços importantes no Brasil, como a adesão do país à Aliança Global dos Biocombustíveis do G20 no ano passado, o que, na sua visão, vai ajudar a atrair novos investimentos. “Acho que isso mostra bem como países que ainda são economias emergentes, ainda em desenvolvimento, podem mesmo assim tomar uma posição de liderança e incentivar que todos entrem no ritmo da transição energética”, afirmou.
As aplicações dessas tecnologias variam do desafio de cada mercado. No Brasil, por exemplo, há grande espaço para desenvolvimento de combustíveis renováveis, dada a grande oferta de etanol e biomassa, que podem ser matérias primas competitivas para sua produção.
Ao mesmo tempo, como há uma complementariedade entre as fontes renováveis, o país pode ser pioneiro no hidrogênio verde, de baixo carbono, que exige uma geração de energia estável, “24/7”, para ser considerado assim. Em outros mercados em que há uma complementariedade da matriz com fontes fósseis, a Honeywell enxerga mais espaço para o hidrogênio azul, que conta com a captura de carbono para zerar as suas emissões.
“A América do Sul, particularmente o Brasil, tem muitas vantagens pela abundância de matéria prima disponível. Não é apenas o etanol, mas a baixa intensidade de carbono. As terras podem ter múltiplas safras no ano, e isso resulta em menor intensidade de carbono, uma vez que esse cálculo está ligado ao uso da terra, então é um grande benefício”, afirmou Kevin O’Neil, executivo sênior do braço de soluções de sustentabilidade da empresa.
Segundo O’Neil, ainda que o Brasil não tenha incentivos, o país pode mirar na exportação para os mercados que incentivam esses combustíveis.
“A Honeywell tem como objetivo tentar descobrir como tornar esses combustíveis mais competitivos em relação ao petróleo. Quando o diesel verde e o SAF começaram, eles custavam de duas a três vezes o custo dos combustíveis a base de petróleo. Com novas tecnologias, estamos tentando reduzir esse ‘gap’ ao máximo, e temos feito muito progresso nisso”, disse O’Neil.
A rica disponibilidade de matérias-primas e tecnologias sustentáveis na região posiciona o Brasil para desenvolver uma bioeconomia e se destacar no cenário global no setor de energia renovável. “O Brasil está agora criando um quadro regulatório claro com o Programa Combustível do Futuro, que é o primeiro passo para criar segurança jurídica e atrair investimentos e investidores”, destacou Macedo.
Os investimentos também valem para as áreas de softwares, como aqueles voltados para medir emissões e fomentar o mercado de carbono. Segundo Ravi Srinivasan, que comanda a área de gestão de emissões, a ideia aqui é tornar os softwares mais baratos e fáceis de implementar, não exigindo horas de desenvolvimento que tendem a subir os preços. “Estamos criando modelos baseados em nuvem porque a implementação custa muito, muito menos para os consumidores”, disse.
*A repórter viajou a Chicago, Illinois, onde ficam os laboratórios de produtos químicos, e a Charlotte, Carolina do Norte, onde fica a sede da companhia, a convite da Honeywell