O consumo de gás natural no Brasil caiu cerca de 9% nos onze primeiros meses de 2023, segundo relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). A redução se explica pela menor geração de eletricidade por usinas térmicas em virtude da boa hidrologia, que aumentou a geração hídrica em 1%, e do crescimento de 45% nas fontes eólica e solar.
Segundo a IEA, apenas no período entre abril e julho houve aumento na geração térmica no país. Como consequência, o Brasil reduziu em 13% as importações de gás boliviano e em 55% as importações de gás natural liquefeito (GNL) entre janeiro e novembro, na comparação entre 2023 e 2022.
O desempenho brasileiro levou a uma redução de 1,5% no consumo de gás na região da América Central e do Sul. A queda no consumo da região se concentrou no primeiro semestre e voltou a crescer no terceiro trimestre, quando houve aumento de 1% na demanda na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Na Argentina, maior mercado da região, o consumo de gás natural caiu 0,8%. Nos setores residencial e comercial, a queda foi de 6%. Cerca de 80% da diminuição se deu no período de inverno, entre abril e setembro, diante das condições climáticas mais amenas que reduziram a necessidade de aquecimento. No país, a demanda industrial cresceu 4,5% entre janeiro e setembro, e o consumo por usinas térmicas aumentou 0,8% no período na comparação com 2022.
A IEA avalia que haverá um crescimento de 1% na demanda por gás natural na região da América Central e do Sul. Este crescimento será puxado pelo consumo industrial, que deve compensar a redução na demanda de termelétricas diante da expansão de usinas movidas a fontes renováveis.
No mundo, consumo deve voltar com acomodação de preços
No cenário global, em 2023 o consumo de gás natural avançou para um reequilíbrio depois do choque provocado pela invasão da Rússia à Ucrânia, em 2022. Os preços da molécula caíram substancialmente na comparação com 2022, embora ainda continuem elevados em relação à média histórica da Ásia e Europa. No geral, o consumo global aumentou 0,5% no ano.
Os maiores compradores de gás foram os mercados asiático, com 38% do volume contratado, e europeu, com 31% dos contratos. Em relação à oferta, os Estados Unidos foram os fornecedores de 34% das contratações feitas em 2023, e o Quatar ofereceu 26% do volume contratado no ano.
Para 2024, a IEA projeta que haja aumento de 2,5% na demanda por gás natural, a 100 bilhões de m³. O crescimento deve ser observado especialmente nos mercados asiáticos e em regiões produtoras, como África e Oriente Médio.
Segundo a IEA, o aumento na demanda será puxado pelo setor industrial, mas os mercados residencial e comercial também deverão consumir mais diante de um inverno com temperaturas mais baixas, na comparação com o inverno ameno de 2023. O consumo para geração térmica deve crescer apenas marginalmente.
Os mercados da Ásia e Oriente Médio também deverão ter sua demanda moderada pelo crescimento limitado na oferta de GNL, estimado pela IEA em 3,5% – montante que está acompanhado com “ampla janela de incerteza”, pois é possível que haja atrasos em novas plantas de liquefação, tensões geopolíticas e riscos atrelados ao transporte marítimo. Tais fatores podem levar a volatilidade de preços ao longo do ano.
Biometano cresce 12%
O relatório da IEA aponta que a produção de biometano aumentou 12% globalmente, alcançando cerca de 8 bilhões de m³. O aumento na capacidade de produção, na casa de 800 milhões de m³, foi notado especialmente nos Estados Unidos e na União Europeia, que responderam por 80% da nova capacidade global.
A IEA também menciona que que a produção do gás tem aumentado nos Brasil, China e Índia.
Segundo o relatório, nos Estados Unidos, a geração de biometano foi de 2,2 bilhões de m³. Cerca de 70% do gás é originado por resíduos sólidos urbanos. Ao final do ano, havia no país 311 plantas operacionais de biomentano, além de 177 em construção e outras 360 sendo planejadas. Cerca de 90% do gás é consumido para mobilidade, e a geração térmica responde por menos de 10% do consumo de biometano nos Estados Unidos.
Na Europa, a capacidade de produção do gás aumentou cerca de 10%, puxada sobretudo pela França e Dinamarca. A Alemanha continua sendo a maior produtora da região, embora a capacidade produtiva tenha se mantido estável em 2023.