A implementação de projetos de hidrogênio verde no Brasil demandará uma redução nos preços do combustível por meio de incentivos e de soluções “criativas” do governo. De acordo com Luis Viga, presidente da Fortescue e da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio verde (ABIHV), as soluções apontadas podem reduzir o ‘gap’ de preços, que tem impossibilitado o fechamento de contratos no setor.
Em evento promovido pela BloombergNEF em São Paulo, o executivo destacou que o hidrogênio verde precisa custar US$ 1,50 por quilo até 2030 para ganhar competitividade. Atualmente, o combustível custa três vezes mais do que o cinza, ou cerca de US$ 6 por quilo.
“Temos um gap de preços hoje que impossibilita o fechamento de contratos. Precisamos resolver esse problema do preço, neste ano ou em 2025, para fomentar a indústria. Precisamos de incentivos governamentais e, tendo em vista que tem a questão fiscal do governo, e de soluções criativas”, disse Viga.
O executivo citou, como exemplo, a redução de custo das eólicas, por meio de políticas de incentivos. “Hoje, a indústria ainda tem incentivos, mas estamos caminhando para a não necessidade de incentivos pela maturidade da tecnologia”, complementou.
Para resolver a questão,Viga afirmou que o governo não precisa “colocar efetivamente nenhum centavo” nos projetos, visto que os investimentos podem ser realizados pelas companhias, gerando uma arrecadação do governo e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
“Para resolver a questão fiscal do governo, eles podem atrair investimentos internacionais, por exemplo, que gerarão impostos, que podem ser transformados depois em subsídios ou incentivos – isso pode tirar a indústria do papel”, destacou.
Maria Gabriela da Rocha Oliveira, diretora de Energia Renovável da Atlas Agro, esteve no mesmo painel e defendeu que o Brasil não precisa criar um Inflation Reduction Act (IRA) como dos Estados Unidos, mas aproveitar a sua competitividade em renováveis para atrair empresas com o baixo custo de energia.
“A produção do hidrogênio verde é mais cara do que o cinza, mas [como empresa] conseguimos ganhar competitividade no produto final. E o que precisamos fazer para isso funcionar? Garantir um custo de energia competitivo. Os recursos voltados ao hidrogênio no IRA estão fazendo com que a conta de energia nos EUA fique mais cara e o Brasil tem que evitar esse tipo de política”, afirmou Rocha.
Respondendo por quase 70% dos custos envolvidos na produção do hidrogênio, a energia pode se tornar um benefício para o Brasil, na opinião da executiva.
Luciana Costa, diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), concordou com os executivos e afirmou que o Brasil não pode fazer com que as despesas na produção do hidrogênio fiquem “apenas no setor elétrico, precisamos pensar em outras receitas para fechar o gap”, finalizou.