A eletrificação da frota deve evitar uma demanda adicional por petróleo a partir de 2030, segundo projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que divulgou novo caderno do Plano Decenal de Expansão da Energia (PDE) 2034.
Os automóveis elétricos devem causar uma “destruição da demanda” sobretudo na Europa, na China e nos Estados Unidos, segundo o estudo. No Sudeste Asiático, o destaque deve ser a eletrificação de motocicletas e triciclos. Em ambos os casos, a tendência deve ser observada com mais proeminência no final do período em análise pelo PDE, que vai até 2034.
Em outros mercados, a demanda por gasolina também deve estagnar e reduzir lentamente, na medida em que os veículos elétricos e híbridos se mostrarem mais eficientes.
Segundo o estudo, países emergentes devem se concentrar na eletrificação do transporte público e de veículos de duas e três rodas. “O aumento da parcela de caminhões eletrificados continua sendo o mais difícil, mas os compromissos de descarbonização dos países podem ajudar a impulsionar o progresso”, diz o caderno do PDE 2034. O contexto deve favorecer a manutenção da demanda por diesel.
Entre 2022 e 2023, os maiores aumentos nas vendas de veículos elétricos (VEs) ocorreram na Índia (+39%), China (+37%) e na França (+20%). Por outro lado, foram vendidos menos VEs na Itália (-22%), Japão (-9%) e na Alemanha (-3%). Assim, o estudo registra que, apesar de as vendas de VEs continuarem a crescer globalmente, a desaceleração em alguns mercados levou muitas montadoras a adiarem suas metas para estes veículos.
O caderno do PDE também avalia que deve haver redução de subsídios para o mercado de VEs. Além disso, apesar de influenciar na demanda por combustíveis, a eletrificação da frota ainda não deve provocar um “deslocamento significativo” da demanda, “principalmente para veículos pesados e em países em desenvolvimento”, diz o estudo.
Demanda por petróleo continuará crescendo, mas com impactos diferentes em cada derivado
Apesar da eletrificação e da participação de fontes renováveis na matriz energética, a demanda por petróleo deve continuar crescendo. Isso porque a demanda por energia tem aumentado. Em 2023, por exemplo, houve novo recorde no consumo de combustíveis fósseis, mas sua participação na matriz caiu para 81,5%, contra 81,9% em 2022. No ano, o consumo total de energia primária aumentou 2% em relação a 2022, mais de 5% acima do nível pré-covid.
Fatores como urbanização, industrialização e o surgimento de uma classe média que busca mobilidade e turismo levam a um aumento na demanda por petróleo e seus derivados. Além disso, fatores geopolíticos, como os conflitos no Mar Vermelho, levam à adoção de rotas marítimas mais longas, com maior demanda por combustíveis para navegação.
A maior parte do crescimento da demanda deve vir da Índia e da China. “A relevância da Índia nos mercados globais de petróleo deve aumentar substancialmente ao longo do restante da década, impulsionada pelo forte crescimento de sua economia e população”, diz o relatório da EPE.
Brasil, Estados Unidos, Canadá, Noruega e países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) devem ser os maiores fornecedores da commodity. Nos Estados Unidos, entretanto, o pico de produção deve ocorrer antes de 2030.
Desafios para a indústria de óleo e gás
O caderno da EPE aponta que indústria de óleo e gás deve se preparar para um período de desafios financeiros. As metas de descarbonização devem direcionar grande quantidade de investimentos a outras fontes de energia e tecnologias, como geração solar e eólica, hidrogênio, amônia, biocombustíveis e captura e armazenamento de carbono (CCS).
Assim, deve haver custos maiores na captação de investimentos para a indústria petrolífera, com aumento da carga tributária e menores opções de financiamento. Neste contexto, as oportunidades mais promissoras devem se priorizadas. A questão geopolítica também representa um desafio para o setor. Diante de conflitos no Mar Vermelho e na região do Oriente Médio, a busca por rotas alternativas mais longas aumenta os custos de frente em função da maior demanda por combustível, prêmios de seguros de risco mais elevados, e menor disponibilidade de navios.