A 2W Ecobank apresentou nesta terça-feira, 28 de agosto, pedido de tutela cautelar antecedente para um “stay period” para tratar da dívida com seus credores, a fim de que sejam suspensas as execuções contra ela pelo prazo de até 60 dias. Nos próximos dias, a empresa aponta obrigações de R$ 580 milhões em vencimentos e cita processos com credores, fornecedores e com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
Em comunicado ao mercado, a empresa destacou que o objetivo da ação é criar um ambiente estável de negociação com os principais credores da companhia, assegurando o procedimento de mediação instaurado perante a Câmara Especial de Resolução de Conflitos em Reestruturação de Empresas (CamCMR). O processo cautelar abrange apenas a holding e foi distribuído para a 3ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca da Capital do Estado de São Paulo
Também foram apontados o ajuizamento, “por um número cada vez maior de credores”, de medidas executivas e constritivas contra o seu patrimônio, em valor agregado que supera R$ 22 milhões; e o risco de “estrangulamento” operacional da empresa, que enfrenta, hoje, seis ações de execução de título extrajudicial.
Entre as medidas executivas em curso, a empresa cita o caso do Banco Pine, que obteve o bloqueio efetivo de mais de R$ 3 milhões de uma das contas da 2W, enquanto a Argon Comercializadora (em recuperação judicial), requereu o pagamento do valor total de R$ 5.473.728,00, “sob pena de penhora e avaliação de bens suficientes para a satisfação do crédito exequendo”, com pedido suspensivo pela 2W já indeferido.
A empresa ainda cita ações em curso da Equatorial Renováveis, Stima Energia, Rio Paranapanema Energia e CTG Brasil Negócios de Energia.
Já com os credores de contratos de energia, celebrados no âmbito de suas atividades como agente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, a dívida operacional soma R$ 210,6 milhões.
“A empresa busca resguardar o resultado útil do processo de mediação que iniciaram perante a CamCMR, suspendendo o ajuizamento e o curso de execuções fundadas em créditos vencidos e vincendos objeto da referida mediação, ‘proibindo qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial’ sobre seus bens, que sejam oriundas de demandas judiciais ou extrajudiciais”, diz trecho do processo, ao qual a MegaWhat teve acesso.
Em relação a Câmara Especial, a companhia destacou que credores financeiros, de contratos de energia e SG&A (sigla em inglês para despesas administrativas, de vendas e gerais) serão devidamente convocados para participar.
“Trata-se de etapa fundamental para o processo de reorganização global do passivo da companhia, e que não afeta sua normalidade operacional, inclusive no âmbito da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Ainda, a mediação e a tutela cautelar não abrangem as demais sociedades integrantes do grupo econômico da 2”, disse Marcos Guedes Pereira, vice-presidente de Finanças e de Relações com Investidores em comunicado ao mercado divulgado nesta terça-feira, 27 de agosto.
De acordo com o executivo, a vara reconheceu a cautela e determinou a apresentação de documentos complementares sob pena de “revogação da tutela concedida”.
Explicação da dívida, segundo a 2W Ecobank
No processo da 3ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, a 2W Ecobank apontou os investimentos “expressivos” realizados no contexto da expansão de suas atividades como a origem da crise econômico-financeira atual, principalmente depois dos recursos usados na construção e implantação dos projetos eólicos Anemus e Kairós chegarem a acerca de R$ 2,2 bilhões, sendo em grande maioria, obtidos por ela própria.
“Desta forma, moldou-se a estrutura atual do endividamento da companhia, que buscou financiamentos e investidores no mercado financeiro e de capitais, contraindo dívidas de valor significativo em nome próprio, além de garantir obrigações assumidas por outras sociedades do grupo 2W envolvidas em tais projetos”, argumentou na cautelar.
Segundo a empresa, entre 2021 e 2022, foram realizadas duas emissões de debêntures para captar recursos para os parques, que somaram cerca de R$ 562 milhões, porém variações de custo ao longo do tempo, ocasionadas principalmente pela insolvência de uma empreiteira responsável pelas obras de ambos os parques eólicos, provocou “descompasso” sobre suas atividades, inclusive perante diversos fornecedores e clientes, que vêm rescindindo unilateralmente seus contratos.
“Tais variações de custo, por sua vez, impactaram negativamente o cronograma de montagem dos aerogeradores, atrasando a instalação dos projetos em mais de doze meses. A impossibilidade de a empreiteira concluir os dois empreendimentos no prazo originalmente estabelecido obrigou a 2W a buscar fontes adicionais de liquidez, aumentando sua exposição financeira”, justificou a companhia.
Reclassificação na CCEE
A 2W Ecobank destacou ainda que a CCEE recentemente reclassificou a empresa como comercializadora do tipo 2 – o que limita a capacidade de registro de energia elétrica da empresa até 30 MW médios mensais –, o que reduziu “ainda mais sua capacidade de operação e geração de caixa”.
“Ademais, nos últimos meses a CCEE determinou a instauração de procedimento de desligamento (já suspenso) contra a empresa (…) em razão do atraso no pagamento de valores referente à contribuição associativa, além de ter aplicado penalidades por insuficiência de lastro nos meses de março e abril”, ressaltou no processo.
Por fim, a 2W Ecobank diz que tem avaliado uma série de alternativas para a readequação de sua estrutura de capital, discutindo em negociações com seus principais credores a prorrogação de prazos de pagamento e a renegociação dos termos e condições das dívidas existentes.
A empresa diz ainda que, apesar da crise financeira, “confia que o processo de mediação instaurado será bem-sucedido, tornando desnecessário o ajuizamento de pedido de recuperação judicial ou de homologação de plano de recuperação judicial”.
Venda de parque para pagar dívida e as mudanças na 2W Ecobank
Na última semana, a 2W Energia informou que fechou um acordo para transferir ao fundo de private equity Darby International Capital o parque eólico Kairós I, de 112,5 MW de potência, localizado no Ceará, em uma operação que vai reduzir sua dívida em mais de R$ 850 milhões.
A fase 2 do projeto, com 120 MW em fase final de construção, continua sob controle da companhia.
No início de julho, a empresa informou a saída de Claudio Ribeiro do comando da 2W, cadeira que ocupava desde 2019. Em 22 de agosto, o executivo entregou um termo de renúncia, “em caráter irrevogável e irretratável”, ao cargo de membro efetivo do conselho de administração
O anúncio da saída de Ribeiro da presidência veio depois que a MegaWhat informou que a Matrix Energia havia desistido de fazer uma oferta vinculante pela companhia.
Em 18 de julho, foi a vez da renúncia de quatro conselheiros da companhia: Ana Karina Bortoni, João Bezerra Leite, Marcos Cardoso Costa e Roberto Altenhofen.
No começo de agosto, Ricardo Levy, que tinha assumido a presidência no lugar de Cláudio Ribeiro, comunicou sua renúncia “por motivos de ordem pessoal”. No dia seguinte, , o conselho de administração da companhia se reuniu para eleger para o cargo Rodrigo Aguiar, economista experiência na reestruturação financeira e administração de empresas, inclusive na área de energia.
Aguiar foi diretor de Finanças e Desenvolvimento de Negócios da Renova Energia, atualmente em recuperação judicial, que tinha como um dos principais sócios Ricardo Delneri, fundador da 2W.
Também foi eleito hoje Marcos Guedes para o cargo de vice-presidente de Finanças e Relações com Investidores da companhia.
Guedes é associado da RK Capital, especializada na reestruturação operacional e financeira de empresas, e foi recentemente CEO da Saraiva, durante seu processo de recuperação judicial.