As hidrelétricas Jirau e Santo Antônio, que já estão operando com restrições, podem ter a geração suspensa em função do cenário de estiagem no país, que tem como uma de suas consequências a seca no rio Madeira.
“Hoje a operação dessas hidrelétricas já está com muita restrição. Daqui a pouco pode haver uma parada, e não conseguirão ter a capacidade de gerar energia. E aí a gente começa a ver não só um cenário de escassez hídrica, como de restrição energética”, avalia o engenheiro hidrólogo do Serviço Geológico do Brasil (SGB) Guilherme Cardoso.
Desde o dia 3 de setembro, as unidades geradoras da UHE Santo Antônio que ficam na margem esquerda e no leito do rio Madeira foram paralisadas, e a geração tem ocorrido por meio de sete unidades geradoras com capacidade de 490 MW médios. No total, a usina tem 50 turbinas e capacidade instalada de 3.568 MW.
Em 2023, quando a região também viveu um período de estiagem, a UHE Santo Antônio precisou suspender a geração em função dos baixos níveis do rio Madeira.
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a capacidade da UHE de Jirau também foi reduzida à operação de dez unidades geradoras, com capacidade de 260 MW. A planta tem 50 unidades geradoras e capacidade instalada de 3.750 MW.
Apesar da situação nas duas usinas, o ONS descarta o risco de insegurança energética. “A afluência abaixo da média vem sendo um ponto de atenção desde dezembro de 2023. Porém, cabe ressaltar que o Sistema Interligado Nacional (SIN) dispõe de recursos suficientes para atender as demandas de carga e potência da sociedade”, diz o ONS.
Menores índices da série histórica
Segundo o SGB, na manhã desta terça-feira, 20 de setembro, a medição dos níveis do rio Madeira na estação de Porto Velho atingiu 71 centímetros, a menor registrada desde 1967. Desde a última semana, a cota do rio Madeira já havia superado a mínima registrada em 2023, de 1,10 metro. Os níveis constam entre os mais baixos da série histórica do SGB.
O engenheiro do SGB Guilherme Cardoso explica que uma grande preocupação é o prolongamento do período de estiagem, como ocorreu em 2023, quando somente no final de outubro as chuvas foram significativas. Os modelos de previsão utilizados pelo Serviço não indicam volumes de chuva significativos para os próximos três meses.
“Esse atraso [nas chuvas] vai fazer com que a gente tenha um período de estiagem muito maior do que estamos acostumados porque já começamos a observar níveis muito baixos em julho, em níveis que normalmente só ocorrem antes do final de setembro”, explica o especialista.
No final de julho, a Agência Nacional de Águas (ANA) declarou situação de escassez hídrica nos rios Madeira, Purus e seus afluentes.
Apesar de a cota do Rio Madeira já ter atingido níveis muito baixos, até esta semana a vazão do rio ainda não foi impactada de forma crítica. “Nesses termos, a gente ainda tem uma vazão útil bem significativa. Na quinta-feira da semana passada [5 de setembro], nós fizemos uma medição de vazão e medimos 2.800 metros cúbicos por segundo, que é uma vazão bastante representativa”, disse Cardoso.
Com informações da Agência Brasil