Hidrogênio verde

Projetos de hidrogênio demandam dobrar a geração eólica e solar no Brasil até 2030

Relatório da IEA aponta que interesse por hidrogênio verde esbarra na falta de clareza em políticas públicas e no desafio de ampliar a geração renovável e a infraestrutura de transmissão

Hidrogênio de baixa emissão de carbono / Crédito: Cela
Hidrogênio de baixa emissão de carbono | Vela

Se todos os projetos de hidrogênio de baixo carbono anunciados no Brasil forem abastecidos apenas com energia eólica e solar, o país precisará dobrar sua capacidade de geração destas fontes ainda nesta década. A conclusão é da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), que acaba de divulgar relatório sobre hidrogênio de baixo carbono.

No Brasil, a IEA destacou o projeto de hidrogênio do porto do Pecém, no Ceará, que propõe hidrólise com água dessalinizada. A agência considera o projeto um bom exemplo na busca por soluções para a questão da água na produção de hidrogênio.

A IEA também incluiu a planta de hidrogênio verde da Unigel entre os maiores projetos do mundo a entrar em operação em 2024. A planta foi anunciada em 2022, mas a fabricante de fertilizantes entrou em crise financeira.

Segundo a IEA, o Brasil se destaca entre aqueles que mais receberam incentivos financeiros para a molécula, sendo destino de 17% do montante disponibilizado por fundos globais para o hidrogênio. O Governo Federal também sancionou, nesta semana, crédito de R$ 18,3 bilhões em créditos fiscais para desenvolvimento de hidrogênio de baixo carbono.

América Latina

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O relatório da IEA dedica uma seção especial para a América Latina e avalia que a região está bem-posicionada para emergir como grande produtora de hidrogênio de baixo carbono graças aos recursos naturais disponíveis. “Com base nos projetos já anunciados, em 2030, a América Latina poderá produzir, anualmente, mais de 7 milhões de toneladas hidrogênio com intensidade de carbono inferior a 3 quilos de CO2 por quilo de hidrogênio, o que é de três a quatro vezes inferior às emissões com base em gás natural sem abatimento de carbono”, diz o estudo.

Assim como o Brasil, o Uruguai precisará duplicar sua geração eólica e solar para abastecer todos os projetos de hidrogênio com estas fontes. Na região como um todo, o crescimento precisaria ser ainda maio, na casa de 1,4 vez a atual capacidade instalada apenas para produção de hidrogênio.

O relatório da IEA aponta ainda que o desenvolvimento da indústria de hidrogênio de baixo carbono para a América Latina pode levar a boas oportunidades de crescimento e geração de valor para as indústrias de mineração, siderurgia e fertilizantes, que já desempenham um papel importante na economia local.

‘Produtores precisam de compradores’

A IEA levantou que o número global de projetos de hidrogênio de baixo carbono com decisão final de investimento positiva dobrou no último ano, o que pode levar a um crescimento de cinco vezes na atual capacidade global de eletrolisadores até o fim da década, com inclusão de 20 GW de capacidade. Assim, o mundo poderá chegar a 2030 com uma produção de 50 milhões de toneladas de hidrogênio de baixo carbono por ano.

Entretanto, os projetos esbarram em falta de clareza regulatória, de taxonomia e de infraestrutura de geração e transmissão de energia renovável. Segundo o estudo, se todos os projetos anunciados globalmente se concretizarem, o setor de hidrogênio crescerá 90% por ano até 2030 – “muito acima do crescimento experimentado pela solar fotovoltaica em suas fases de crescimento mais aceleradas”.

“Para que esses projetos sejam um sucesso, produtores de hidrogênio de baixo carbono precisam de compradores. Os formuladores de políticas e desenvolvedores devem olhar cuidadosamente para as ferramentas para dar suporte à criação de demanda, ao mesmo tempo em que reduzem custos e garantem que regulamentações claras estejam em vigor para dar suporte a mais investimentos no setor”, diz em nota o diretor executivo da IEA, Fatih Birol.

O relatório aponta que, enquanto os objetivos de governos para a molécula são de cerca de 43 milhões de toneladas por ano em 2030, a demanda atualmente projetada para o fim da década gira em torno de 11 milhões de toneladas.

“Os governos devem tomar medidas mais robustas para estimular a demanda por hidrogênio de baixo carbono”, diz o relatório. A IEA também recomenda que haja esforços para escalar projetos de hidrogênio de baixo carbono, inclusive com medidas para reduzir os custos de produção.

Além disso, a agência aponta que é importante haver clareza na nomenclatura e definição do que é hidrogênio de baixo carbono. No Brasil, o marco legal do hidrogênio de baixo carbono, sancionado em agosto de 2024, estabeleceu o nível máximo de 7 quilos de CO2 emitidos por quilo de hidrogênio produzido.

Hidrogênio cinza

Em 2023, a demanda global por hidrogênio foi de 93 millhões de toneladas, com aumento de 2,5% em relação a 2022. Entretanto, o hidrogênio de baixo carbono respondeu por apenas e milhão de tonelada em 2023.

A produção da molécula a partir de gás natural, associada à captura, uso e estocagem de carbono (CCUS, na sigla em inglês) ganhou terreno em 2023 e deve atingir 1,5 milhão de tonelada por ano em 2030 – em 2022, a projeção era de 0,6 milhão de tonelada por ano ao fim da década.