Mercado de gás

Sem gás da Bolívia, NTS aposta em gás novo e inversão de fluxo: do Rio para São Paulo

Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). Com queda nos níveis dos reservatórios bolivianos, importação ao Brasil pode chegar a zero em 2030. NTS planeja estratégias para a rede.
Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). Com queda nos níveis dos reservatórios bolivianos, importação ao Brasil pode chegar a zero em 2030. NTS planeja estratégias para a rede. | Divulgação TBG

A Nova Transportadora do Sudeste (NTS) abriu consulta ao mercado para identificar possíveis gargalos em sua malha no período de 2025 a 2034 a partir das intenções de transporte dos agentes. A transportadora avaliou cenários de oferta e demanda de gás e propõe investimentos em infraestrutura para garantir o abastecimento em sua rede e a interconexão com outras transportadoras.

No cenário de oferta e demanda, a NTS considerou a redução na importação da Bolívia, que está em declínio desde 2021 e, na projeção adotada pela NTS, chega a zero em 2030. Outro fator importante é o declínio na produção do campo de Mexilhão, que tende a reduzir o gás na Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato, em Caraguatatuba (UTGCA).

Este panorama leva a reflexos na rede da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), que deve precisar receber gás da malha da NTS para atender a seus contratos firmes. A estrutura atual de conexão da NTS à TBG é de 15 milhões de m³ por dia e, considerando a projeção de demanda, deve se tornar insuficiente a partir de 2028. Assim, a NTS propõe uma nova estação de compressão (Ecomp) em Piracaia para chegar a 25 milhões de m³ por dia de transferência para a TBG.

Gás novo

Por outro lado, a oferta recebe gás novo, como o do Projeto Raia, da Equinor, e a produção do Gaslub (ex-Comperj e atual Complexo de Energias Boaventura, inaugurado em setembro pela Petrobras).

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Assim, com aumento na oferta do Rio de Janeiro e queda na produção em São Paulo a NTS avalia que haverá inversão no fluxo de gás entre os estados, que historicamente fluía de São Paulo para o Rio de Janeiro.

Neste cenário, a capacidade de transferência atual, de 12,5 milhões de m³ por dia, deve se tornar insuficiente. Projeto de Ecomp em Japeri possibilita aumentar o volume de transferência para 20 milhões de m³ por dia – o que também deve ser pouco a partir de 2028.

O projeto Corredor Pré-Sal Sul possibilita a redução desse gargalo para 40 milhões de m³ por dia, para atendimento de São Paulo e da região Sul. Este projeto prevê a construção de um novo gasoduto de 301 quilômetros, o Gasdut, indo de Campos Elíseos a Taubaté.

Para facilitar o investimento e “reduzir o impacto das incertezas”, a NTS propõe que o Corredor Pré-Sal Sul seja faseado em três etapas. O investimento total projetado é de R$ 7,77 bilhões entre 2029 e 2034.

O Pré-Sal Sul foi apresentado à Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em 2022 e consta no projeto do novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), do governo federal. “Com a atualização do cenário de ofertas e demandas para a consulta deste ano, reforçou-se a necessidade de implementação do Gasoduto Pré-Sal Sul”, diz o estudo da NTS.

Conexão com a TAG

A NTS também propõe o aumento na conexão com a Transportadora Associada de Gás (TAG) – as companhias já prepararam interconexão no volume de 5 milhões de m³ por dia, mas aguardam autorização da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Mesmo assim, nas projeções da NTS para os próximos anos a interconexão deve pular para 20 milhões de m³ por dia, por meio de uma nova estrutura, Ecomp Macaé. Com ela, será possível levar o gás do Projeto Raia para o Nordeste, e, no sentido inverso, transportar a produção de Sergipe Águas Profundas (Seap) para o Sul e Sudeste do país, caso Seap entre em operação.

Todos os investimentos propostos pela consulta devem ser validados pela própria NTS e pelos órgãos reguladores