O desenvolvimento da indústria eólica offshore é importante não apenas pelo aumento da geração renovável, mas também para manter a indústria offshore na medida em que a demanda por petróleo se reduzir. “É também uma escolha estratégica de país”, avaliou o diretor do Innovation Norway, Thomas Conradi Granli, mencionando que os empregos nesta área são de alta qualificação, renda e inovação e que, portanto, a migração deste capital é importante.
Em março de 2024, o governo norueguês realizou o primeiro leilão de áreas para desenvolvimento de projetos comerciais de geração eólica offshore, com potencial de geração de 1,5 GW. A área foi arrematada por consórcio formado pelo grupo sueco Ingka Investments, e pela belga Parkwind, controlada pela japonesa Jera. O parque Sørlige Nordsjø II não será, entretanto, a primeira planta de geração eólica offshore na Noruega, que já conta com projetos-piloto, de menor potência.
O leilão foi considerado um sucesso pelas autoridades norueguesas, mesmo com o aumento nos custos de equipamentos da indústria. “Estamos abrindo este mercado justamente no contexto internacional de inflação, então os custos estão um pouco mais altos agora. Mas sabemos que isso é cíclico, então espero que no médio a longo prazo os custos voltem a cair, também por causa de inovação”, avalilou Thomas Granli. “Muita gente esperava que a Equinor ganhasse esse leilão [por ser estatal], mas foi ganho por um consórcio internacional. Mostra uma certa competitividade do setor, mesmo nesse contexto de custos altos”, complementou.
O desenvolvimento do parque deve usar tecnologias do setor de petróleo, disse a cônsul da Noruega no Rio de Janeiro, Mette Tangen. A cônsul e Granli participaram nesta segunda-feira, 4 de novembro, da abertura do evento November Conference 2024, organizado pelo Consulado-Geral da Noruega no Rio de Janeiro, pelo Innovation Norway e pela Universidade de Oslo.
‘CCS não será rentável, mas é estratégico’
O governo norueguês inaugurou, em setembro deste ano, o projeto de captura e estocagem de carbono (CCS, na sigla em inglês) Northern Lights. Com capacidade de estocar até 1,5 milhão de toneladas de CO2 por ano, este é o primeiro projeto de estocagem de carbono como um serviço. O Northern Lights é uma joint-venture entre Equinor, TotalEnergies e Shell, e faz parte do programa do governo norueguês Longship, que tem como objetivo desenvolver uma cadeia completa de CCS em larga escala.
“As empresas envolvidas não são empresas que hoje ganham dinheiro [com CCS], porque o mercado de CCS ainda está se estabelecendo na Europa, então se trata de uma escolha estratégica pela Noruega”, disse a cônsul Mette Tangen. “Se o Brasil quiser ir pelo mesmo caminho, precisa, além da regulamentação, também de incentivos. Eu acho muito difícil um país lucrar com isso no curto ou médio prazo”, avaliou.
O incentivo ao CCS é estratégico, na visão da Noruega, em função da expectativa de que as emissões de carbono sejam fator de competitividade para o mercado de óleo e gás à medida que países e empresas avancem em suas metas de descarbonização. A mesma tendência deve a ocorrer em outros mercados além do óleo e gás, com produtos mais verdes ganhando a preferência.
Assim, o CCS pode acelerar com o avanço de políticas de precificação do carbono. Segundo Tangen, na Noruega, hoje, é mais barato para as empresas de petróleo fazerem o CCS do que emitirem o CO2 correspondente, porque no país há preços para a emissão de carbono.
MoU entre Petrobras e Sintef
Na abertura da November Conference 2024, o Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes) e o centro de pesquisa europeu Sintef assinaram um memorando de entendimento (MoU, na sigla em inglês). As áreas estratégicas do acordo são tecnologias para energia renovável, processos e produtos industriais (como CCS, hidrogênio e eficiência energética), exploração e produção de petróleo com baixas emissões e segurança e sustentabilidade. Este não é o primeiro acordo entre a Petrobras e o Sintef, que já tinham firmado parceria em CCS.