A Brava Energia, companhia resultado da integração entre 3R Petroleum e Enauta concluída em agosto de 2024, já fechou o planejamento estratégico após a fusão e agora planeja executar uma revisão de portfólio. Segundo o presidente Décio Oddone, a companhia identificou que 90% do Ebitda (Lucros antes dos juros, tributos, depreciação e amortização) vem de cerca de 20% das concessões.
A operação deve ter como principal objetivo simplificar a atuação da companhia. “As entradas de recursos pelo desinvestimento de ativos menores são pouco significativas perto do todo”, disse o diretor Financeiro e de Relacionamento com investidores da Brava Energia, Rodrigo Pizarro. “Isso também libera a atenção das equipes, dá foco para o nosso time, reduz Opex [custos de operação], reduz Capex [investimentos], tem uma série de benefícios positivos que a gente vai buscar capturar”, complementou Décio Oddone nesta quinta-feira, 14 de novembro, em teleconferência de resultados do terceiro trimestre.
Os principais M&As (fusões e aquisições, na sigla em inglês) devem ocorrer no onshore. No midstream e downstream, a companhia olha mais para parcerias. “Existe uma discussão em curso com a PetroReconcavo para buscarmos sinergias na Bacia do Potiguar, especialmente no que tange toda a infraestrutura de gás disponível na Bacia e como essa parceria pode extrair valor para as duas companhias”, disse Pedro Medeiros, diretor de Novos Negócios, M&A, Mid&Downstream e Comercial da Brava.
Com a revisão de estratégia e portfolio, a companhia também está reavaliando novos investimentos. “Nós postergamos a decisão de investimento no campo de Oliva e desistimos da aquisição de Uruguá-Tambaú”, disse Oddone. A aquisição era negociada com a Petrobras e, agora, a Brava busca a extinção do acordo. O campo de Oliva, na Bacia de Campos, fazia parte do portfólio da Enauta e, assim, agora faz parte da Brava.
Já em relação ao campo de Parque das Conchas (BC-10), a Brava aguarda a liberação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para concretizar a compra, que se realizada terá efeito desde julho de 2023.
Primeiro óleo de Atlanta “iminente”
A diretoria da empresa também comentou sobre o FPSO Atlanta, que chegou ao Brasil em maio de 2024. A empresa esperava ter o primeiro óleo em agosto, mas a operação padrão da ANP atrasou o cronograma. Agora, a agência deve fazer vistoria à plataforma no fim de novembro. Segundo a Brava, a autarquia deve checar o cumprimento de 19 condicionantes remanescentes, que estão “praticamente prontas”. Os executivos classificaram a entrada em operação da plataforma como “iminente”. A plataforma já tem as licenças ambientais.
Em Papa-Terra, a companhia planeja finalizar os trabalhos de revitalização do campo e aumentar o fator de recuperação do óleo – que, atualmente, gira em torno de 3% das reservas totais.
Assim, a Brava Energia espera que 2025 seja um ano de menor Capex e maior geração de caixa, com o ramp-up de Atlanta e melhoria na operação de Papa-terra, além de ganhos de eficiência e operacionais provenientes da junção de negócios entre 3R Petroleum e Enauta. Uma das principais expectativas em ganhos operacionais está na integração logística para melhor aproveitamento da sinergia entre os ativos.
Do ponto de vista administrativo, a diretoria da Brava informou que 10% da força de trabalho foi desligada após a combinação de negócios, e que também houve redução no número de gerências e estruturas organizacionais.
A empresa também espera melhorar seu posicionamento no mercado livre de gás.
Como desafios para os próximos períodos, a Brava mapeia a sobrecarga nos órgãos reguladores, como ANP e o Ibama, considerando que o Brasil tem recebido um grande número de novas plataformas, navios e equipamentos. Além disso, o mercado aquecido também aumenta a concorrência por fornecedores.
Segundo Décio Oddone, as negociações para Atlanta e Papa-Terra já foram iniciadas com antecedência, e a companhia já possui licenciamento ambiental para a perfuração de poços, inclusive em Oliva, que teve sua decisão final de investimento adiada. Entretanto, com o desenvolvimento das atividades já planejadas, a companhia deve precisar da agilidade dos órgãos reguladores.
“Para frente, a gente espera o reforço da capacidade de ação e uma melhoria do orçamento das agências reguladoras, porque acho que isso é importante para a atividade, que é relevante para a geração de recursos no Brasil”, disse Oddone.
Resultados
No terceiro trimestre de 2024, a Brava Energia registrou lucro de R$ 498,3 milhões, revertendo prejuízo de R$ 349,9 milhões há um ano. O Ebitda foi de R$1,6 bilhão, com crescimento de 2,5 vezes em relação ao Ebitda de R$ 640,2 registrado no mesmo período de 2023.
O custo de produção foi de US$ 20 por barril, valor 14,9% menor do que há um ano. A produção no trimestre foi de 51.721 mil barris de óleo equivalente por dia, com crescimento de 5,6% na base anual.
Nos próximos trimestres, a Brava espera ver melhorar estes índices, a partir do aumento de produção em Atlanta, com o novo FPSO, e em Papa-Terra, com melhorias operacionais. No mesmo sentido, os investimentos nos ativos devem reduzir. Assim, o custo de produção tende a se tornar mais favorável à companhia, com maior produção.