Investimentos

EDP pretende participar de leilão de baterias e avalia compra de distribuidora

João Marques da Cruz, CEO da EDP na América do Sul
João Marques da Cruz, CEO da EDP na América do Sul | Foto: Divulgação

A EDP Brasil pretende investir até R$ 12 bilhões no Brasil nos próximos cinco anos, divididos igualmente entre os setores de distribuição e transmissão, mas não descarta oportunidades de negócios em baterias ou a aquisição de uma distribuidora, desde que o investimento seja compatível com sua capacidade operacional e financeira.

“Não podemos dar um passo maior que perna. Se damos um passo maior que a perna, nossa qualidade piora”, disse João Marques da Cruz, CEO da EDP para América do Sul em conversa com jornalistas nesta quarta-feira, 4 de dezembro.

O executivo se referiu ao tamanho das suas operações de distribuição, as concessionárias EDP São Paulo, que atende cerca de 2 milhões de clientes em 28 municípios no estado, e a EDP Espírito Santo, que atende 1,5 milhão de clientes em 70 dos 78 municípios do estado. Além disso, a empresa tem participação minoritária na estatal Celesc, de Santa Catarina.

Segundo Marques da Cruz, a qualidade do serviço prestado é a prioridade, por isso um eventual investimento em aquisição no segmento de distribuição precisará ser compatível com a sua capacidade. “Se existirem oportunidades, e não sei se vão ou não, vamos analisar, estamos dispostos a aumentar o nível de exposição no negócio de distribuição no Brasil”, afirmou.

Considerando o portfólio atual, o plano é investir de R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões em distribuição, com foco em expansão das redes existentes e na sua resiliência, com inovação e modernização para suportar aos eventos climáticos extremos. Na semana passada, por exemplo, uma tempestade em São José dos Campos (SP) registrou ventos com até 101 km/h e deixou milhares de consumidores sem energia elétrica, mas um terço da carga foi recomposta dentro de 30 minutos, por conta da automação.

“Isso significa que vamos investir o triplo da depreciação, ou seja, para cada real depreciado, vamos colocar mais R$ 2, o que significa que nossa base de ativos vai crescer”, disse o executivo.

O lote ideal para a EDP em transmissão

Em transmissão, a companhia planeja investir outros R$ 5 bilhões a R$ 6 bilhões mas, neste caso, os desembolsos vão depender de oportunidades em leilões. A preferência é por lotes que envolvam investimentos de R$ 500 milhões a R$ 1,5 bilhão. “Nosso lote ideal é de R$ 1 bilhão”, afirmou.

Dentro desses planos, o grupo, que tem atuação em várias regiões do mundo, não pretende aumentar sua exposição ao Brasil em mais de 20% do resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) total gerado. A depreciação do real contribuiu para que a empresa tenha mais espaço para investir antes de atingir esse limite, mas o critério tem como finalidade reduzir a exposição a um único mercado.

Em 2023, a EDP teve um ebitda de 5 bilhões de euros, sendo 55% da suas operações na região ibérica (Portugal e Espanha), 20% na América do Sul, 12% na América do Norte, 12% no restante da Europa e 2% na região Ásia-Pacífico. Segundo Marques da Cruz, o Brasil está entre os quatro principais mercados de atuação da empresa, junto de Portugal, Espanha e Estados Unidos.

EDP e o leilão de baterias

Para aumentar a exposição no Brasil, a oportunidade de investimento precisa ter uma rentabilidade atrativa, o que faria a empresa a pedir à controladora sediada em Portugal para aumentar os aportes previstos e demonstrar que se trata de um bom negócio.

Participar do leilão de reserva de capacidade na forma de armazenamento em baterias pode ser uma dessas oportunidades.

“Queremos participar do leilão, estamos participando da consulta pública, achamos que é uma ótima decisão”, disse Marques da Cruz, sobre a consulta pública que foi aberta para discutir o formato do leilão, previsto para o próximo ano. Segundo o executivo, esse deve ser o início do crescimento da contratação de baterias no país, e a EDP tem como vantagem o fato de já operar a tecnologia em outros mercados em que atua. “Para nós, não será uma aventura”, completou.

No Chile, por exemplo, onde a EDP atua, as baterias são remuneradas vendendo mais caro a energia acumulada em horários de preços mais baixos. Segundo o executivo, no Brasil, a volatilidade horária ainda não é grande o suficiente para garantir este modelo de negócio. Como haverá leilão, sua aposta é que as baterias receberão uma receita fixa para serem instaladas no grid, acionadas quando necessário.

Geração em baixa

Já investimentos em hidrogênio, que antes eram avaliados pela empresa no Brasil, ainda não são rentáveis. O problema está na falta de subsídios no desenvolvimento da tecnologia no Brasil. “Não havendo subsídios, a única maneira é o investidor aceitar uma rentabilidade menor e o cliente do hidrogênio pagar um preço superior. Nós admitimos uma rentabilidade mais baixa, mas até agora não conseguimos encontrar alguém que pague um preço maior”, disse.

A EDP continua ainda com os planos de venda das hidrelétricas Santo Antônio do Jari (392,95 MW) e Cachoeira Caldeirão (219 MW), localizadas nos rios Jari e Araguari, respectivamente, enquanto pretende manter na carteira Lajeado (902,5 MW) e Peixe Angical (498,75 MW), ambas no rio Tocantins.

A empresa tem ainda quatro usinas renováveis em construção, das fontes eólica e solar, mas não prevê novos empreendimentos nos próximos anos, pois a rentabilidade da geração está limitada pelos preços baixos e pelo problema do curtailment.

Em geração distribuída, por sua vez, a EDP Brasil continua investindo, e fez recentemente uma aquisição relevante. “Queremos continuar, mas é evidente que a GD tem dificuldades na fase chamada GD 2”, disse, se referindo ao início da cobrança do fio B nos projetos, conforme a Lei 14.300.